Este projeto de pesquisa tem como tema as visões de um país, as representações de uma sociedade, produzidas por filmes de ficção que olham para uma época específica: a transição democrática brasileira (1979-1988).
O projeto tem como objetivo analisar determinados longas-metragens realizados neste período, ou que foram produzidos posteriormente, mas enfocam a época. O projeto privilegiará películas que expõem o impasse (ou mesmo a convivência) entre o fim da ditadura e o início da democracia.
Neste panorama, observaremos obras que mostram tensões específicas: a dificuldade de lidar com fatos políticos do momento (manifestações, eleições); a convivência conflituosa entre e juventude que cresceu nos anos 1970 e a geração ligada à militância política; e a crise de intelectuais, artistas e profissionais de comunicação perante às novas configurações – econômicas, sociais e culturais – do país. Por fim – como a pesquisa se dará na segunda década do século XXI – também há interesse em pensar como filmes feitos nos anos 2010 abordam os anos 1980.
Inspirados pelas dialéticas do cinema (desenvolvidas por Noël Burch), analisaremos os filmes tendo por base dicotomias, oscilações e contrastes. Tais discrepâncias podem ser sentidas no ambiente da narrativa (relação entre personagens), na forma fílmica (posições de câmera, montagem, relações entre filmagens realizadas em interior e exterior…) e no retrato que se faz da sociedade (evitando diagnóstico totalizante).
O projeto será desenvolvido em quatro eixos, compreendendo os seguintes aspectos:
Filmes rodados durante os acontecimentos políticos significativos do período, como eleições e manifestações populares. Neste leque, destacam-se A próxima vítima (1983), de João Batista de Andrade, e Patriamada (1984), de Tizuka Yamazaki.
Filmes que enfocam a ditadura, mas por olhos jovens, identificando narrativas que abordam o contraste entre o olhar juvenil e personagens de outra geração, marcados por vivências de militância contra o regime militar. Por esta ótica, destacam-se Nunca Fomos Tão Felizes (1985), de Murilo Salles, e A Cor do seu Destino (1986), de Jorge Duran.
Filmes que colocam intelectuais, artistas e profissionais dos meios de comunicação de massa como protagonistas. São obras que focam seus impasses frente aos novos arranjos sociais, políticos e econômicos. Aqui, abordaremos Bar Esperança (1983), de Hugo Carvana, e Romance (1987), de Sergio Bianchi.
Busca entender como a produção brasileira do século XXI percebe os anos de transição. Enfocaremos filmes que procuram pensar a transição do período através de personagens jovens que, de uma forma ou de outra, atravessam momentos de mudança: Depois da Chuva (2013), de Cláudio Marques e Marília Hughes, e Califórnia (2015), de Marina Person.