Conscientização da população sobre o uso racional de medicamentos controlados é uma das alternativas
O corpo humano é um ambiente repleto de bactérias, muitas delas responsáveis por diversos processos essenciais para a vida, como a digestão. Os antibióticos, medicamentos que atuam exclusivamente no combate às bactérias, revolucionaram a história da medicina. Todavia, seu uso exacerbado vem levando à resistência contra o antídoto desses organismos, conforme relatório da Organização Mundial de Saúde.
A professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e dos Programas de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular e Odontologia, Sílvia Dias de Oliveira, é especialista em estudos de bactérias.
“A resistência bacteriana a antibióticos é uma estratégia de sobrevivência desses microrganismos. Muitos antibióticos são produzidos por alguns microrganismos, que são naturalmente resistentes a eles, e esse mecanismo de resistência pode ser compartilhado com bactérias suscetíveis a estes fármacos, tornando-as resistentes”, destaca.
Uma bactéria também pode se tornar resistente a antibióticos por sofrer mutações onde o fármaco atuaria, impedindo a sua ação, bem como expulsar o fármaco, evitando que ele alcance as concentrações necessárias para fazer o efeito desejado. Nos ambientes hospitalares, há maior desenvolvimento de resistência bacteriana, mas não são os únicos espaços.
“Hospitais constituem um importante ambiente em que as bactérias resistentes podem ser encontradas, exatamente por ser um local onde se tem intenso uso de antibióticos. Os ambientes de criação animal onde se usam antibióticos como promotores de crescimento ou como profiláticos também constituem pontos de atenção para a seleção de bactérias resistentes”, aponta a pesquisadora.
Em seus últimos estudos, Silvia encontrou resultados alarmantes. “Detectamos bactérias Staphylococcus aureus e também Staphylococcus epidermidis resistentes à meticilina na cavidade oral de pacientes jovens e saudáveis, antes de cirurgia para extração de siso. Neste estudo, a maior prevalência de resistência que encontramos foi ao antibiótico azitromicina”, conclui.
Para atenuar o desenvolvimento de bactérias novas e mais resistentes, uma das soluções é a utilização de antibióticos somente quando necessário até o final do tratamento prescrito. Além disso, saneamento básico adequado, higienização das mãos, desinfecção e/ou cocção de alimentos, bem como evitar manipulação cruzada de alimentos ingeridos in natura com alimentos crus de origem animal e a limitação do uso de antibióticos em agropecuária são outras opções possíveis.
Para uma solução eficaz desse problema, a conscientização da população sobre o uso adequado dessas medicações é a medida mais eficiente.
“O principal hábito a ser desenvolvido para evitar o desenvolvimento de bactérias resistentes é a conscientização da população em geral sobre o uso racional dos medicamentos, bem como da importância da prevenção das infecções por meio das vacinas disponíveis”, ressalta Sílvia.