Abertura de diálogo com a sociedade e atualização de bibliografia decolonial são pautas incentivadas
Por: ECSV
O evento fez parte de uma série de ações que estão sendo discutidas com o intuito de contemplar a comunidade interna e externa da universidade Foto: Divulgação/SAPP
Para celebrar o Mês da Consciência Negra, o Grupo de Trabalho sobre Negritudes e Psicologia, vinculado ao curso de Psicologia da PUCRS, realizou um evento sobre o protagonismo negro na sociedade, especialmente no meio acadêmico. O encontro, ocorrido no dia 8 de novembro, no auditório térreo do prédio 11, no Campus Central, contou com cerca de duas centenas de participantes que assistiram a manifestações culturais e depoimentos de profissionais e acadêmicos pretos sobre suas trajetórias.
Denominado “Protagonismo de Vidas Negras: Partilhando Vivências e Estratégias de (re)existência”, o seminário foi uma idealização grupo de trabalho criado dentro do Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia (SAPP) da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, no segundo semestre de 2023. E logo, juntou-se ao Neabi (Núcleo de Estudos em Culturas Afro-Brasileira e Indígenas) da universidade, que tem possibilitado o diálogo e conexão do grupo com outras Escolas e grupos da instituição.
“Este evento buscou valorizar as diferentes narrativas da população negra, em especial abordando as trajetórias de profissionais da saúde no meio acadêmico e profissional, além de um espaço para manifestações e contribuições do público presente”, explica a coordenadora do SAPP, professora Roberta Fin Motta.
A plateia foi formada por pessoas de diferentes faixas etárias e instrução, em sua grande maioria negras, que puderam dar seus testemunhos. O coordenador do curso de Psicologia, Cristiano Dal Forno, chama atenção para a o relato que uma psicóloga formada pela PUCRS, atualmente doutoranda na UFRGS, fez durante o seminário.
“Para mim, enquanto homem, cis, branco e hétero, me chamou demais a atenção o relato de que ela, quando chegou à universidade há alguns anos, não se sentiu acolhida, convidada. Mas, sim, com a sensação de ter que ‘arrombar a porta par entrar’, já que foi a única pessoa negra da sua turma“, comenta Dal Forno.
“Estamos recebendo muitos feedbacks que reforçaram a importância de a universidade investir na realização de mais eventos com esta temática, durante o ano todo. Entendemos ser essencial que o Campus se torne cada vez mais acolhedor e promova espaços de pertença e representatividade para toda diversidade e pluralidade que circula por ele”, comenta a psicóloga supervisora do SAPP Flavia Camila Bernardes.
O evento foi uma idealização de grupo de trabalho do Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia Foto: Divulgação/SAPP
O evento fez parte de uma série de ações que estão sendo discutidas com o intuito de contemplar a comunidade interna e externa da universidade. Uma dessas iniciativas, por exemplo, é a realização de uma Formação Introdutória sobre Negritudes e Psicologia para estudantes e profissionais de Psicologia vinculados à universidade. “Isso tem promovido vivências potencializadoras que proporcionam a construção e o aprimoramento do letramento racial, ao mesmo tempo em que fortalece o desenvolvimento de vínculos entre os participantes”, avalia Roberta.
UM OLHAR NECESSÁRIO
O debate em torno da temática da negritude, assim como a discussão sobre os efeitos psicossociais do racismo, são questões pouco estudadas com profundidade no decorrer do curso de Psicologia e nas demais áreas do conhecimento, explica a coordenadora do SAPP. “E é de suma importância que a Psicologia, enquanto ciência e profissão, compreenda e se posicione perante estas questões. Neste sentido, em março deste ano, o Núcleo de Psicologia Clínica na abordagem Sistêmica do SAPP propôs a criação de um Grupo de Estudos sobre Negritudes e Psicologia para instrumentalizar estagiários do serviço-escola sobre assa temática. Devido à grande adesão e procura, no segundo semestre o grupo se transformou em um GT.”
“O Grupo de Estudos sobre Negritudes e Psicologia é uma iniciativa dos estudantes, juntamente com a coordenação do serviço, da supervisora, que tem pautado a temática da inclusão e do racismo, nos convidado, como comunidade acadêmica, a pensar nessa importante demanda da Universidade, que se abre para as diferentes e complexas formas de se estar no mundo, no que se inclui uma população que até há pouco tempo tinha uma gigantesca dificuldade de acesso à universidade”, explica o coordenador do curso de Psicologia, Cristiano Dal Forno.
Segundo ele, a universidade possui a necessidade de se reinventar, e isso compreende também sua literatura. “Precisamos contemplar também não só bibliografias de autores brasileiros e europeus, mas também podemos abrir espaço para que discussões como racismo, misoginia e homofobia possam estar presentes em nossos currículos e grades de disciplinas”, estimula Dal Forno.
