Professores da Escola de Ciências da Saúde e da Vida comentam sobre equidade de gênero no futebol e o papel dos psicólogos nas delegações esportivas
Organizada pela Federação Internacional de Futebol (Fifa) pela primeira vez em 1991, a Copa do Mundo de Futebol Feminino é uma competição internacional de futebol que acontece de quatro em quatro anos. Com 32 países participantes, a nona edição do campeonato, que acontece entre julho e agosto de 2023 na Austrália e na Nova Zelândia, tem o maior número de seleções participantes na história da modalidade. A competição tem se tornado mais popular a cada edição, no entanto, por mais que se busque aumentar o investimento no futebol feminino, o masculino ainda recebe maior atenção, verba e patrocínio.
De acordo com o professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e pesquisador de “Esporte, Cultura e Sociedade” do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos, Luís Henrique Rolim, a Copa do Mundo Feminina proporciona visibilidade para as atletas, visto que em muitos países a profissionalização do futebol feminino ainda está crescendo a passos lentos, devido a questões sociais, culturais e políticas. Luís relembra que a última edição, realizada na França em 2019, alcançou um marco importante de visibilidade: de acordo com números divulgados pela Fifa, a competição foi a mais vista da história da modalidade, com audiência de 1.12 bilhão de pessoas na televisão e nas plataformas digitais.
“A Copa do Mundo impulsiona o reconhecimento das mulheres no esporte, motivando mais meninas a praticar, pressionar governos e autoridades a incentivarem o futebol feminino em várias instâncias e, claro, captar mais recursos com patrocinadores e empresas de comunicação.”
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Os debates acerca da equidade de gênero no esporte, em especial no futebol feminino tem avançado nos últimos anos. A capitã da seleção americana, Megan Rapinoé, campeã da edição de 2019 foi convidada para falar no Comitê de Supervisão da Câmara dos Estados Unidos, onde abordou a discriminação e desigualdade de pagamento entre as seleções masculina e feminina. Para o professor Luís, o marco representou uma virada no futebol feminino, pois a Federação de Futebol dos Estados Unidos anunciou premiação igualitária depois do episódio e da pressão social.
Outras seleções também se destacam nesse quesito. A Federação de Futebol da Austrália possui esta equiparação desde 2019, e a Confederação Brasileira de Futebol, também declarou, em 2020, que as premiações para atletas das Seleções Masculina e Feminina serão iguais. Este ano, a Fifa anunciou que a premiação da Copa do Mundo Feminina de 2023 será de US$150 milhões. Embora o valor seja superior ao ano anterior (em 2019 foram US$ 38 milhões), ainda não se compara com os US$ 440 milhões pagos na Copa do Mundo Masculina do Catar em 2022.
Este ano, o Ministério Brasileiro do Esporte declarou sua candidatura para ser país-sede da próxima edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino. O objetivo seria estruturar a modalidade no país, ampliar o número de campeonatos, promover a inclusão de meninas no esporte e melhorar as estruturas e espaços de treinamentos. De acordo com Rolim, pode ser uma ótima oportunidade para alavancar o futebol feminino no país e ampliar o debate sobre discriminação e igualdade de gênero no esporte.
Para alcançar o melhor desempenho e chegar no mais alto nível competitivo, as atletas passam anos desenvolvendo uma série de competências pessoais. Com os constantes avanços da ciência e da tecnologia, tornou-se comprovadamente fundamental que exista uma integração entre os aspectos físicos e o desenvolvimento de habilidades mentais para atingir o auge da performance.
Com isso, delegações esportivas dos clubes e seleções atuam cada vez mais com equipes multi, inter e transdisciplinares responsáveis pelo preparo das atletas no dia a dia da profissão. A professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e especialista em psicologia esportiva, Fernanda Faggiani, destaca a importância dos psicólogos que atuam no esporte para otimizar a performance e a qualidade de vida do atleta. De acordo com a docente, as atletas precisam ser monitoradas, para mapear as necessidades e adversidades na vida, para uma melhor manutenção da atenção, do foco e do motivacional.
Fernanda faz o alerta que a preparação mental precisa ser continua, ter sinergia com todas as outras áreas de preparo e também ser trabalhada em conexão entre os profissionais dos clubes e das seleções. Faggiani explica que os psicólogos esportivos avaliam atletas e equipes para poder levantar as necessidades, para assim auxiliar em como podem agir, antecipando os momentos que serão vividos e como elas devem organizar suas emoções e comportamentos diante dos eventos.
A docente conta que no dia a dia existem diversos fatores que podem ser prejudiciais à saúde mental das atletas, como depressão, ansiedade, crises, pressão financeira, questões familiares, atritos entre colegas de clube ou seleção e ambiente psicologicamente inseguro. Em tempos de Copa do Mundo, Faggiani também destaca que a grande exposição midiática e pressão por bons resultados podem ter impactos negativos na busca da atleta e da equipe por sucesso. A professora ainda complementa que todos estes fatores se unidos com o não saber reagir as dificuldades e emoções excessivas podem tomar maiores proporções.
“O objetivo da atuação de um psicólogo é auxiliar as atletas a aprimorarem e compreenderem as variáveis psicológicas presentes no ambiente esportivo, ainda mais em Copa do Mundo. Este trabalho pode auxiliar inclusive em cenários em que a atleta e o time precisam se superar a partir de uma boa capacidade de reação adequada à uma situação adversa, assim como manter o controle emocional mesmo quando está vencendo com bastante vantagem”, complementa.
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