Evidências inéditas demonstram que lobo-marinho do Peru surgiu da união de lobos-marinhos de Galápagos e lobos-marinhos-sul-americanos
Estudando o genoma de lobos-marinhos da América do Sul, um grupo internacional com integrantes do Peru, Equador, Argentina, Uruguai, Chile, Estados Unidos, Nova Zelândia, Alemanha e também do Brasil, liderado por pesquisadores da PUCRS, descobriu que novas espécies de mamíferos, mesmo de grande porte, podem surgir de modo quase instantâneo através do cruzamento entre indivíduos de espécies diferentes.
O surgimento de novas espécies animais é chamado de especiação. O mecanismo mais conhecido para que isso aconteça é quando populações de uma espécie se separam, geralmente por meio de uma barreira física, como um rio, e, isoladas, progressivamente, acumulam diferenças suficientes que ao fim impedem o cruzamento entre elas.
No continente sul-americano habitam duas espécies de lobos-marinhos. A mais comum, chamada de lobo-marinho-sul-americano, é encontrada apenas nas regiões frias. No Brasil, por exemplo, só no litoral do Rio Grande do Sul. A outra espécie só ocorre nas ilhas Galápagos, situadas na região tropical, na linha do equador. No início do século, a comunidade científica reconheceu a existência de uma população diferente de lobos-marinhos, na costa central do Peru e norte do Chile.
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Os cientistas não sabiam a origem dos lobos-marinhos-peruanos, quando o grupo de pesquisa Genômica Evolutiva e da Conservação da PUCRS apresentou evidências inéditas sobre o surgimento destes animais em um estudo publicado na revista internacional Science Advances. De acordo com o coordenador dos estudos e pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, Sandro Luis Bonatto, a população do Peru é uma nova espécie que surgiu pela hibridação entre os lobos-marinhos de Galápagos e os lobos-marinhos-sul-americanos.
“Com esta pesquisa conseguimos apresentar a primeira evidência usando informações genômicas de que mamíferos de grande porte podem surgir quase instantaneamente por hibridação em um processo chamado de especiação híbrida”, destaca.
Os resultados iniciais da pesquisa mostraram que os lobos-marinhos do Peru apresentava características genéticas curiosas: metade do seu genoma veio do lobo-marinho-de-Galápagos e a outra metade do lobo-marinho-sul-americano. A partir disso, os estudos foram aprofundados com sequenciamento dos genomas de mais indivíduos, evidenciando que o lobo-marinho do Peru é uma espécie antes desconhecida pela ciência, e de origem híbrida.
A pesquisa foi parte do projeto de doutorado de Fernando Lopes no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS, com orientação do professor Sandro Bonatto e participação de outros alunos e pesquisadores de vários países, em especial do Peru e do Equador. Para Fernando, a hibridação ocorre quando indivíduos de diferentes espécies se cruzam, produzindo descendentes mistos que são conhecidos como híbridos.
“Em animais como os mamíferos, na maior parte das vezes estes indivíduos não são ou são pouco férteis e não há maiores consequências. Mais raramente pode haver à transferência de material genético entre as espécies, mas nunca tinha sido documentado em mamíferos que a hibridação pudesse dar origem a uma nova espécie”, explica.
O professor Bonatto explica que o cruzamento aconteceu há aproximadamente 400 mil anos. “Este fato ocorreu quando indivíduos do lobo-marinho-sul-americano e de Galápagos devem ter migrado para a mesma região da costa do Peru, talvez em um momento de clima extremo. Uma possível causa da migração de alguns animais de Galápagos para o continente na época pode ter sido um El Niño mais intenso”, explica. Outra descoberta inesperada do estudo é a existência de uma pequena colônia isolada de lobos-marinhos de Galápagos na costa norte do Peru, inclusive com um indivíduo miscigenado entre as espécies de Galápagos e a do Peru. Para os pesquisadores, isso já pode ser uma consequência das mudanças climáticas recentes.
“O prolongamento do aquecimento global nas próximas décadas pode ter consequências muito graves para a ecologia de toda a região e podendo aumentar o perigo de extinção desta nova espécie, com a continuidade ou até aumento da migração de lobos-marinhos de Galápagos para o continente”, finaliza.
Além dos pesquisadores Sandro Bonatto e Fernando Lopes, os coautores deste estudo incluem Yago Beaux e Amanda Kessler, da PUCRS, Larissa Oliveira, da Unisinos, e pesquisadores do Peru, Equador, Argentina, Uruguai, Chile, EUA, Nova Zelândia e Alemanha.
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