Artigo assinado por Domingos Valladares, professor da Escola de Negócios da PUCRS
Estamos ansiosos com a aprovação de uma vacina contra o Covid-19 – é a esperança de uma vida normal. Mas se aprovada e liberada ainda em 2020, é possível vacinar toda a população em 2021? Do ponto de vista da cadeia de suprimentos, é imperativo um planejamento adequado. Após a aprovação, uma indústria inteira entra em movimento, pois a fabricação de um produto envolve diversas etapas, que podem ser executadas ao mesmo tempo, mas cada uma com sua duração.
A primeira fase é a compra de insumos e depende da disponibilidade dos princípios ativos, materiais e transporte. Lembrando que haverá uma competição mundial pelos mesmos itens. A segunda fase – produção propriamente dita – é quando os primeiros lotes são produzidos em até uma semana, mas lotes maiores são entregues num tempo maior. Estima-se produzir 30 milhões de doses até março/21. Precisaremos mais de 200 milhões de doses para a primeira aplicação, mas há uma capacidade limitada de produção. A terceira fase é a de distribuição. Aqui as vacinas são entregues a centros de distribuição, separadas e distribuídas junto a kits contendo seringas, álcool, máscaras cirúrgicas, algodão, etc. Isto envolve veículos refrigerados ou com adaptações necessárias. Estima-se uma perda máxima de 10% das vacinas, por diversos motivos ao longo do processo.
Logo, é essencial resolver as questões administrativas/planejamento antes destas fases: quantas doses serão enviadas a cada local? Quais os grupos prioritários? Quais os locais de aplicação da vacina? Há suficientes profissionais habilitados para a aplicação? Os locais possuem estrutura, como refrigeradores para armazenamento?
A aprovação da vacina é essencial, mas o planejamento para sua aplicação também é, mesmo tendo o Sistema Único de Saúde (SUS) como um exemplo de gestão de saúde. Temos que tratar com seriedade a idealização desta operação complexa, que precisará de pessoas dedicadas somente a esta operação, nos âmbitos Federal, Estadual, Municipal e Privado, pois a nossa saúde depende desta operação humanitária.