Realizado em São Paulo, o estudo teve envolvimento da PUCRS, do UNAIDS e da Gestos -Soropositividade, Comunicação e Gênero
A análise em profundidade do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids da cidade de São Paulo (SP) trouxe dados alarmantes em relação à forma que essa população se sente e é tratada nos sistemas de saúde. Entre os dados divulgados pela pesquisa – promovida pelo Programa das Nações Unidas para o HIV e a Aids (UNAIDS), pela Gestos -Soropositividade, Comunicação e Gênero e pela PUCRS, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – se destacam o alto percentual de pessoas que vivem com HIV que confirmaram ter recebido diagnóstico de problemas de saúde mental (58,4%) e dificuldade em contar às pessoas sobre seu diagnóstico (80,7%).
A forma de discriminação mais experienciada pelos participantes da pesquisa em São Paulo foi saber de outras pessoas que não são membros da família fazendo comentários discriminatórios ou fofocando porque se é soropositiva(o) para o HIV (43,2%). Mesmo entre membros da família, essa forma de discriminação foi bastante relatada (41,6%), não ficando restrita a fofocas ou comentários discriminatórios, pois também foram relatados assédios verbais (27,4%), agressões físicas (7,7%) e até mesmo perda de fonte de renda ou emprego por ser soropositivo para o HIV (16,6%).
Os serviços de saúde são essenciais para que as pessoas que vivem com HIV e Aids tenham acesso a seus medicamentos e possam buscar supressão da carga viral e qualidade de vida. Para que esse serviço de saúde atenda a pessoa que vive com HIV ou vive com AIDS é necessário que o sistema esteja preparado para receber essa pessoa desde o momento de prevenção e diagnóstico até o momento de tratamento, acolhendo a população e principalmente fornecendo um serviço que seja Zero Discriminação.
Outro dado que merece uma atenção especial é o percentual de pessoas entrevistadas que relataram o diagnóstico de outros problemas de saúde. 58,4% relataram problemas de saúde mental, além de infecções sexualmente transmissíveis (21,6%), Hepatite (6,2%) e Tuberculose (5,9%).
“Acreditamos que esses dados podem aclarar ainda mais o caminho de luta pelos direitos das pessoas vivendo com HIV contra todo o tipo de discriminação e estigma. Que as pessoas que vivem com HIV e AIDS tenham suas vozes ouvidas”, afirmou Claudia Velasquez, diretora e representante do UNAIDS.
“É mais um acesso de total protagonismo, onde conseguimos chegar até a ponta e ter informações que a população necessita. Esses dados vêm para fortalecer”, destacou Fernanda Falcão, da Rede Nacional de Mulheres Travestis e Transexuais e Homens Trans Vivendo e convivendo com HIV.
Para Jô Meneses, coordenadora de Programas Institucionais da Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero, os seminários são importantes por levarem as informações sobre estigma e preconceito para as cidades onde a pesquisa foi realizada. “Os seminários possibilitam um diálogo sobre os dados do Índice de Estigma e podem dar visibilidade a essas informações com um recorte local. O mais importante é que estão sendo pensadas formas para enfrentar o estigma e o preconceito em cada contexto e em cada território onde a pesquisa foi realizada”.
“Vamos lançar relatórios de análises por população chave, que são pessoas mais vulneráveis ao HIV”, projetou o pesquisador responsável e professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS, Angelo Brandelli. Pela Universidade, também participaram do estudo alunos do mestrado e do doutorado do curso de Psicologia: Betinha Aymone, Damião Soares de Almeida, Felipe Vilanova de Gois Andrade, Fernando Martins de Azevedo, Leonardo dos Santos, Letícia Pessoa da Silva e Marina Feijó.
Os dados completos da análise em profundidade de São Paulo encontram-se neste link.
Confira outras informações sobre os seminários locais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids.
A divulgação dos dados regionais do Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV e Aids está sendo feita através de seminários online para as sete capitais brasileiras onde a pesquisa foi realizada. O levantamento, feito pela primeira vez no Brasil, é um espelho do que acontece na vida das pessoas vivendo com HIV e Aids mesmo depois de 40 anos do início da epidemia e mostra como essa população ainda é discriminada e sofre com o preconceito e a desinformação.
Os seminários são direcionados para movimentos sociais e pessoas que atuam em defesa dos direitos das pessoas vivendo com HIV e Aids; para profissionais de saúde; para parlamentares e profissionais que trabalham nos Poderes Legislativo e Judiciário. A série de eventos começou em Manaus, em 3 de novembro, em São Paulo, no dia 6 de novembro, e segue até dezembro nas demais cinco capitais onde a pesquisa foi realizada:
Os eventos acontecerão sempre das 14h às 17h (horário local), através da Plataforma Zoom. Para participar é preciso fazer a inscrição através do link. São 50 vagas por seminário.