Por Júlio César Bicca-Marques, professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS
Somos 7,8 bilhões de pessoas vivendo em um mundo globalizado. Apesar da desigualdade social abissal de nossas sociedades, somos todos iguais, compartilhamos e dependemos da mesma arca chamada Terra. Porém, o crescimento explosivo da nossa população nas últimas décadas tem provocado uma exploração insustentável da natureza. Entre as inúmeras agressões ambientais que cometemos, a degradação dos ecossistemas naturais e a caça, captura, aprisionamento, venda, uso como pets e consumo de animais selvagens nos põem em contato com vírus e bactérias que viviam em harmonia com seus hospedeiros silvestres. Como o nosso corpo não foi treinado para lidar com esses microrganismos estranhos, corremos o risco de que eles sejam bastante agressivos para nós. Vírus que atacam o aparelho respiratório e que são transmitidos de uma pessoa para outra podem ser espalhados rapidamente pelo globo terrestre por viajantes infectados. É exatamente isso que está acontecendo com o coronavírus causador da Covid-19.
Assim como adoecemos ao entrarmos em contato com esses novos microrganismos, também levamos a morte para os animais silvestres quando deixamos os nossos patógenos nos ecossistemas naturais que invadimos. Esse é um sério problema, inclusive, dentro da nossa própria espécie. Indígenas que nunca tiveram contato com a maioria das nossas doenças são muito mais sensíveis do que as pessoas de nossa cultura. Infelizmente, a história da humanidade está repleta de exemplos de culturas tradicionais dizimadas ao redor do mundo por doenças levadas pelos “colonizadores”.
A Covid-19 nos ensina muitas lições. Uma delas é que a única maneira de reduzirmos o risco de novas pandemias é a construção de uma sociedade que respeite a natureza acima de tudo e na qual todo ser humano tenha uma vida digna. Como quase sempre somos os únicos responsáveis pelos nossos problemas de saúde, está na hora de vivermos um “novo normal” e escrevermos uma história que, finalmente, faça jus ao Homo sapiens (“homens sábios”).