Trabalho, emprego e futuro
POR GREICE BECKENKAMPEntrar para a Universidade, fazer estágio em uma grande empresa, ser efetivado, promovido, virar gestor e, por fim, se aposentar. A trajetória que definia o sucesso profissional – comum a muitas gerações – pode estar com os dias contados. O mundo do trabalho passa por mudanças. Especialistas da área afirmam: o emprego, no formato tradicional que conhecemos, sofre transformações. “Todos os profissionais precisarão se reinventar. Fomos educados até hoje para encontrarmos emprego, uma relação que tenha previsibilidade, onde entrego determinadas tarefas e recebo salário. Assistimos a uma evolução acelerada que exige a compreensão da nossa produção como trabalho, mais ampla e complexa, sem tanta previsibilidade” afirma Alexandre Pellaes, fundador da consultoria EXBOSS e sócio da startup 99jobs.com.
Pellaes foi palestrante do Ideação – 1º Encontro de Empreendedorismo e Inovação, realizado na PUCRS. Ele acredita que o modelo atual de emprego será gradativamente flexibilizado, resultando em formas de atuação não exclusivas. Ou seja, uma pessoa pode trabalhar em mais de uma empresa, com mais de uma área de atuação. “As companhias que adotam esse modelo se beneficiam, por exemplo, ao poderem contar com profissionais os quais, possivelmente, não poderiam pagar”, ressalta.
Profissionais com atitude empreendedora levam vantagem na reconfiguração do mundo do trabalho. Trata–se de uma postura de estar presente, enxergar o contexto, reconhecer uma necessidade, mobilizar recursos, encontrar e criar conexões e buscar a formulação de soluções: “É uma atitude que muda o autor das ações, as pessoas ao redor e, potencialmente, a sociedade. Haverá espaço muito limitado para quem não tiver perfil empreendedor”, pondera Pellaes.
Formação empreendedora
Formar um estudante de graduação com foco somente no emprego após a formatura é uma receita arriscada, segundo Éder Henriqson, diretor de Graduação da PUCRS. “O jovem pode esperar muito trabalho no futuro. Mas essa noção de emprego que nós temos está em rápida reconfiguração”, observa. Na sua análise, as mudanças também têm um aspecto negativo, já que com elas se perde uma série de conquistas sociais e trabalhistas.
A PUCRS aposta no ensino do empreendedorismo desde a graduação, mas não ligado somente à abertura de empresas, e sim à atitude empreendedora. “Nossos alunos precisam sair da Universidade sentindo-se encorajados a trabalhar, a jogar seus recursos e competências em uma direção e a transformar isso num empreendimento, não necessariamente uma empresa, pode ser um projeto”, afirma Henriqson.
“Os profissionais precisarão se reinventar. Fomos educados até hoje para encontrar emprego. A evolução acelerada exige a compreensão da nossa produção como trabalho, sem tanta previsibilidade”
Alexandre Pellaes
Uma das iniciativas voltadas ao tema na PUCRS é o Idear-Laboratório Interdisciplinar de Empreendedorismo e Inovação, que completa um ano em agosto. O espaço ajuda a formar profissionais de diferentes áreas, com vontade de mudar o mundo e gerar impacto na sociedade. A coordenadora, Ana Cecília Nunes, destaca que estamos saindo de uma sociedade orientada ao emprego e às profissões, para uma orientada ao trabalho, às habilidades e isso gera uma ruptura.
Autônomo, profissional liberal, funcionário ou empresário?
O mercado de trabalho apresenta diversas formas de atuação. Para apresentá-las e definir os pontos fortes e fracos de cada uma, Andressa Urbim, consultora em gestão e marketing, ministrou no Ideação a oficina Eu-Empresa: Autônomo e Empreendedor. Um profissional pode trabalhar como autônomo, liberal, empresário ou funcionário. “Já o empreendedor, pode ser empresário ou funcionário de uma determinada empresa, pois relaciona-se mais a atitudes do que ao cargo”, pontua.
A decisão de qual opção de trabalho escolher dependerá da área de atuação e o quanto a pessoa é movida por estímulos mais estáveis ou instáveis. “Muitos não se adaptam à realidade de não ter salário fixo, rotina, formatos de trabalho como home office. Mas, cada vez mais, esta tende a ser a realidade do empreendedorismo brasileiro”, ressalta.
COMPETÊNCIAS EM ALTA
“O papel da universidade é motivar o aluno para aprender dentro do ramo que ele escolheu, desenvolvendo as competências necessárias para chegar em vários lugares, talvez muito diferentes“, afirma. Ana lembra que algumas empresas hoje abrem processos seletivos não por cargos nem profissões, mas por atividades que devem ser realizadas a partir de competências.
O conceito de que o trabalho deve estar em equilíbrio com a vida pessoal, sendo também responsável por trazer satisfação e felicidade nunca esteve tão presente. É por meio dele que as pessoas podem gerar impacto no mundo, o que traz uma grande satisfação. “O trabalho passou a ocupar outro espaço na nossa vida, está muito ligado a propósito. É o modo como eu me realizo em alguma coisa. Passa a ser um pouco da identidade que eu quero ter como pessoa”, define Ana Cecília.
De olho nas oportunidades
Depois de um familiar sair prejudicado em uma permuta informal de serviços, Ian Martins, aluno de Engenharia Civil, percebeu um novo nicho: era preciso criar um sistema para possibilitar esse tipo de troca de forma profissional, indireta e multilateral. Em parceria com outras três pessoas, desenvolveu o projeto Combee, um dos finalistas do 10º Torneio Empreendedor da PUCRS.
A ideia da rede profissional colaborativa é conectar habilidades e desejos de microempresários e profissionais autônomos. A plataforma, que poderá ser acessada via website e aplicativo, funcionará pelo sistema de créditos. O objetivo de Ian é continuar empreendendo após concluir o curso. “Quero iniciar uma nova graduação para potencializar meu lado empreendedor”, finaliza.
Saiba mais |
Escritório de CarreirasOrienta e capacita alunos e diplomados PUCRS para o planejamento, gestão e aperfeiçoamento de suas carreiras.
Idear – Laboratório Interdisciplinar de Empreendedorismo e InovaçãoPromove a atitude empreendedora e de inovação. Alunos podem participar de disciplinas ligadas ao espaço, de eventos e também desenvolver uma ideia no Torneio Empreendedor. Professores podem conhecer e aplicar novas metodologias.
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