Os influenciadores digitais e suas performances encantadoras
Por Eduardo BorbaEducar, inspirar, engajar. Essas são apenas algumas das motivações de profissionais formados na PUCRS (alumni) ao exporem seus conhecimentos e vivências nas mídias sociais. Influenciadores, makers ou creators, o título não vem ao caso. O importante é que eles têm o dom de mobilizar milhares de pessoas em torno das suas ideias e atividades prediletas, comunicando com facilidade e usando os recursos digitais para encantar e interagir com seus públicos on-line. Essa vocação pode se iniciar de forma presencial e ir para as redes ou, pelo contrário, começar na web e transbordar para a vida cotidiana. Independentemente do fluxo da popularidade, todos atendem às expectativas de pessoas cada vez mais interessadas em aprender novidades, seja para aplicar na carreira ou para incorporar ao estilo de vida. Para entender como a Carina, a Mariana e o Maurício conquistaram dezenas (e até centenas) de milhares de seguidores, apresentamos suas histórias.
Aulas no Youtube para o ‘Brazil’ e o mundo
Meio milhão de seguidores no YouTube. Como uma universitária, apaixonada por linguística e língua estrangeira, que era secretária pela manhã, estudante de Letras à tarde e professora de inglês à noite em Alvorada (RS), onde nasceu, alcançou essa marca? Esse reconhecimento exigiu uma sólida jornada acadêmica, dedicação permanente e disposição para mudar, aprender e compartilhar o seu saber. A trajetória de Carina Fragozo, 31 anos, mescla o lado denso do mundo universitário à descontração das mídias sociais. Com graduação e mestrado em Letras pela PUCRS, e doutorado pela USP, ela sempre enxergou oportunidades por onde passava. “Fui monitora da disciplina de Língua Inglesa 1, ajudei na elaboração de testes de nivelamento e lecionei aulas de reforço nos semestres iniciais da graduação”, recorda.
Em 2011, Carina criou o blog English in Brazil para compartilhar planos de aula e algumas reflexões sobre o ensino/aprendizado de inglês. “Pelo blog, percebi que muitos ex-alunos e conhecidos pediam dicas de inglês. Gravei um vídeo supercaseiro e, em uma semana, tive mais de mil visualizações. Aos poucos, fui investindo no canal, aperfeiçoando edição, áudio e iluminação”, relata.
Em 2013, se mudou para São Paulo para acompanhar o marido. Lá, cursou o doutorado, com foco em aquisição fonológica de segunda língua. Paralelamente, os seguidores se multiplicavam. “Nunca mencionava o meu canal no meio acadêmico, porque achava que haveria patrulha. Quando começou a ficar popular, falei para a minha orientadora, que apoiou e hoje faz propaganda para todo mundo”, diverte-se Carina. “Uma das minhas conquistas foi fazer a ligação entre o conhecimento acadêmico e o público em geral”, avalia.
Aprendizado democratizado
Muitos professores e profissionais das Letras assistem e recomendam os vídeos do English in Brazil. A repercussão rendeu a Carina o título de embaixadora do YouTube EDU, parceria do Google e com a Fundação Lemann que reúne mais de 200 canais educacionais. “Fui convidada para o time de embaixadores em 2015, para representar a academia, a área de ciências humanas e as mulheres”, destaca. Sua função é inspirar professores a criarem conteúdos e participarem ativamente da produção de videoaulas.
Carina posta vídeos semanalmente. O respeito e a atenção com seus seguidores é uma constante, e pode ser visto pelas interações, fazendo enquetes, respondendo a perguntas, trocando sugestões no Youtube, blog, Instagram, Facebook e Twitter. Todos os perfis são atualizados por ela. “Publico um, às vezes dois vídeos por semana. Cumpro esse cronograma, pois o público espera conteúdo novo”, ressalta. Ela revela as muitas etapas até um vídeo ser postado: “É preciso escrever os roteiros, pesquisar assuntos, checar informações, gravar, editar, revisar, ter um cronograma, responder a comentários”, afirma.
Convite para ir a Nova York
O trabalho de Carina repercute dentro e fora das redes. Em 2017, ela foi capa da revista Galileu, com outros youtubers educadores. Também concedeu entrevistas para a TV em rede nacional, e, a convite do Google, foi a Nova York apresentar sua experiência durante o Creator Camp, para youtubers de várias partes do mundo.
A grande visibilidade permite que, atualmente, Carina mantenha-se com renda exclusiva da produção de conteúdo para o English in Brazil. “Além do adsense (anúncios viabilizados pelo Google), faço publicidade de sites e aplicativos para aprender idiomas, agências de intercâmbio e outras marcas no YouTube, no Instagram e no Facebook”, explica.
Da arquitetura à gastronomia fitness
A harmonia entre os traços arquitetônicos e o corpo feminino, tão evidenciada nas obras de Oscar Niemeyer, teve uma leitura adaptada ao século 21 pela instagramer Mariana Weckerle, 31 anos, ou melhor, a Guria Natureba. Após dedicar oito anos à construção civil, a diplomada em Arquitetura e Urbanismo pela PUCRS resolveu mudar o foco. O gosto por alimentar-se bem e cultivar um estilo de vida fitness era paralelo à profissão original. E, ao decidir aventurar-se nesse novo terreno, o coração falou mais alto. Começou a redigir um livro de receitas on-line, para partilhar as preferências com amigos, mas isso ganhou proporções maiores.
Largou tudo e foi para Nova York e Los Angeles (EUA), por dez meses, em 2013, especializar-se em gastronomia saudável. Dedicou-se, então, à promoção de hábitos para quem deseja cuidar do corpo e manter uma alimentação equilibrada. “É uma paixão que vem desde a infância”, conta Mari. “Meu irmão dizia que eu deveria dividir com as pessoas o que eu aprendi, então criei o Guria Natureba”, revela.
Fonte de renda
O início foi em 2014 e, desde essa época, tudo se intensificou. “Criei site e perfis no Instagram e Facebook para compartilhar os conteúdos. As pessoas pediam aulas, mas eu não tinha didática. A virada ocorreu quando fui estudar fora. No retorno ao Brasil, comecei a ministrar cursos e não parei mais!”, relembra Mari. Essa atividade é sua principal fonte de renda.
Embora tenha cerca de 50 mil seguidores no @gurianatureba no Instagram, ela acredita que o mercado gaúcho de anunciantes precisa amadurecer. “É possível viver como influenciadora, mas no RS as coisas engatinham, há medo de investir. Em São Paulo, tudo flui, voa”, destaca a gastrônoma.
Autenticidade ao comunicar
Entre as oportunidades decorrentes desses quatro anos de atuação, estão os contatos profissionais privilegiados, ampliando sua influência e visibilidade. “Hoje, tenho acesso a chefes de cozinha, nutricionistas e médicos que eu seguia e admirava. Fui convidada pela atriz Giovanna Ewbank para escrever em seu site, e sou responsável pelo conteúdo de saúde e gastronomia”, informa Mari.
Entre as habilidades que a ajudam a ser uma influenciadora, acredita que comunicar com empatia e agir com autenticidade é fundamental. “Posicionar-se com firmeza, mas sem levantar bandeiras é uma forma de agregar pessoas, de chamá-las para perto de ti”, afirma.
Sem fronteiras para engajar pessoas
De que forma se mede o impacto de um negócio? Pelas vendas? Pelas curtidas nas mídias sociais? Para Mauricio Benvenutti, 36 anos, essa ideia vai muito além. Diplomado em Ciência da Computação pela PUCRS, com pós-graduação pela Fundação Getúlio Vargas e pela Universidade de Berkeley, nos EUA, ele é sócio da StartSe, plataforma internacional de promoção do empreendedorismo. “Para construir negócios de impacto você precisa de três coisas: melhorar a qualidade de vida das pessoas, corrigir o erro e melhorar o acerto”, define.
Natural de Vacaria (RS), origem destacada nas palestras de mobilização da cultura empreendedora, Benvenutti reside há três anos em São Francisco, na Califórnia (EUA). De operador de fotocopiadora na Serra gaúcha a sócio de um ecossistema de start-ups no Vale do Silício, direcionado a brasileiros, ele construiu um currículo que traduz bem a vocação para criar, fundar e participar do início de empresas. “Meu valor aparece justamente no estágio inicial das organizações. Sou muito bom em pegar uma bagunça e organizar, colocar processos, fazer a coisa acontecer”, relata o empresário, que tem plateias com mais de mil ouvintes em seus eventos.
Autoconhecimento
Antes de chegar a Porto Alegre, para a vida universitária, Benvenutti criou uma empresa de soluções para internet na terra natal. Na Capital, trabalhou como executivo de negócios e, em 2007, foi para a então iniciante XP Investimentos, abrindo uma rede e gerenciando 600 escritórios. “Ali, vi que meu DNA era empreender, atuar na construção de negócios, de times, de produtos, aprender com os erros, falhar, corrigir”, revela.
Entusiasta da nova economia, movida por criatividade, inovação e transformações constantes, Benvenutti é autor do livro Incansáveis, no qual aborda projeções para o século 21, a partir do cenário atual, na qual as empresas de garagem tendem a superar as grandes corporações, além de mostrar como ambientes como o Vale do Silício impulsionam e potencializam o surgimento de novas soluções e oportunidades.
Do analógico ao digital
O percurso profissional levou Mauricio Benvenutti a tornar-se um influenciador que fez o caminho inverso: do presencial para o digital. Apaixonado por imagens, viu no Instagram a mídia social para interagir com seu público, desde 2015. “Posto fotos, vídeos, escrevo e respondo às perguntas todas as noites. E eu mesmo gerencio. O conteúdo, que é o que mais diferencia uma rede social de outra, não pode ser delegado”, defende.
Com viagem de três meses marcada para a China este ano, o perfil @mauriciobenvenutti deve trazer outras novidades das terras orientais para os seus mais de 40 mil seguidores. Ele irá na companhia da esposa Nathalia, “parceira de aventuras”. E não descarta ficar em definitivo em solo chinês. “Essa é a essência do profissional de hoje: saber mesclar as oportunidades com uma vida flexível e equilibrada”, reflete.
Profissionalização é uma tendência
O início amador, com imagens, áudios e textos experimentais, é um dos traços comuns entre os influenciadores digitais. Porém, com a multiplicação de perfis, de redes de relacionamento e aparelhos mais sofisticados, os caminhos apontam para a profissionalização, em especial quando se visa retorno financeiro.
“Atualmente, os influenciadores usam muito bem as redes para se expressar, e com meios rápidos de propagação das suas mensagens. Isso é transformado não apenas em dinheiro, mas em passes para eventos e em reconhecimento público, atraindo marcas”, destaca André Pase, professor da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos. Especialista em meios digitais, ele afirma que, além de as produções mais profissionais “outra tendência é aproveitar mídias sociais como trampolim para lugares onde o influenciador terá maior retorno financeiro, como produtos, serviços e aplicativos de marcas próprias”, sinaliza.
Pase lembra, com pertinência, que influenciadores sempre existiram, antes do ambiente on-line. “A aluna mais conhecida do colégio, o líder comunitário, o comunicador que indicava tendências”, cita como exemplos. Porém, não basta ter um perfil nas mídias sociais para influenciar. A audiência precisa perceber valor, autenticidade e propósito em quem segue. “É importante ter domínio da produção e do assunto, estar sempre pronto para falar muito e bem a respeito do tema; agir de forma natural e publicar com regularidade”, recomenda o professor.
Consultoria aproxima creators
Atenta às possibilidades de qualificação de pessoal e de conteúdo para a internet, a jornalista Andressa Griffante investiu na criação do rs bloggers, consultoria focada em conectar e preparar influenciadores digitais. Cursos, bate-papos, encontros, palestras e fóruns on-line são itens disponíveis no cardápio da empresa.
Graduada pela PUCRS em 2009, Andressa detectou esse nicho de mercado em 2015, após vivenciar experiências em assessoria de imprensa. “Diversos clientes pediam por divulgação em blogs e outros formadores de opinião digitais, justo quando eu me aproximava de duas profissionais de comunicação que mantinham blogs pessoais. Daí nasceu a ideia de criar um projeto para blogueiros e youtubers gaúchos”, relata.
Relacionamentos e parcerias
A proposta foi bem acolhida pelo mercado, com o cadastro de 150 influenciadores regionais nos primeiros 3 meses. “Na sequência, começamos a receber e-mails de profissionais de marketing e agências de outros estados solicitando indicações e orçamentos de influenciadores do RS”. Em 2016, um novo site para relacionamento com os creators entrou no ar, incluindo capacitações e profissionais parceiros de design, programação web, fotografia e vídeo.
Para Andressa, as tendências apontam para o fortalecimento de ecossistemas de influenciadores, aproximando-os de possíveis anunciantes, consultorias, programas de aceleração, especialistas em direito digital, entre outras oportunidades. “Com a profissionalização, equipes de marketing e agências conseguirão diferenciar o influenciador verdadeiro daquele que possui números inflados e sem comprometimento”, alerta.
Famecos certifica para YouTube
No início deste ano, durante o período de matrículas, foi ofertada a primeira certificação adicional do Movimento PUCRS 360º, com o tema Produção em YouTube. As inscrições se esgotaram em poucas horas, e a Escola de Comunicação Artes e Design – Famecos prevê mais vagas, abertas também ao público externo com graduação em outras áreas, para o segundo semestre. De acordo com o professor Fábian Chelkanoff, coordenador do curso de Jornalismo, “a procura superou as expectativas, mas estamos trabalhando para atender aos novos pedidos e ampliar as turmas”, projeta.