O poder da linguagem
Graduado com láurea, Marlon Machado Oliveira destaca a importância das Letras na mudança da sociedade
Fascinado pela escrita e pela leitura, Marlon Machado Oliveira sempre teve grande facilidade de navegar pela área de Letras, Linguística e idiomas. Nos tempos de colégio, ajudava os colegas explicando de forma mais simples o conteúdo apresentado em aula. Seu desempenho fez com que fosse convidado pela escola a pular um nível, indo do 2º para o 4º ano com apenas oito anos de idade. “Aquilo me impulsionou para ver o meu potencial.” Hoje com 24 anos, é graduado e mestre em Letras pela PUCRS e faz doutorado em Linguística Aplicada, com previsão de conclusão para 2019.
Por conta da didática diferenciada de um professor de História, com mais prática e incentivo à pesquisa e menos conteúdo expositivo, desenvolveu muito sua habilidade de comunicação. Durante o Ensino Médio começou a trabalhar como menor aprendiz na função de etiquetador de roupas e percebeu que as pessoas tinham problemas por não se comunicarem da maneira correta. “Uma vírgula, uma expressão, uma palavra mal utilizada ou um olhar podem causar problemas entre colegas em uma empresa. Eu tentava ajudar minha chefe sugerindo dicionários e livros de sinônimos”, lembra.
TRAJETÓRIA ACADÊMICA
Ingressou na PUCRS via Enem em 2011, aos 17 anos, e conquistou uma bolsa ProUni com pontuação de 680. A nota de corte naquele ano era 580. “A primeira aula foi toda em inglês e frisei para mim que precisava melhorar no idioma”, recorda. Depois de um mês, buscou estágio como professor de inglês em uma escola pública em Charqueadas, cidade onde mora, e foi contratado para os turnos da manhã e tarde. A Universidade cursava à noite. Ao concluir os dois anos de estágio, passou a dar aulas em uma escola de idiomas, inicialmente em Guaíba e depois em Charqueadas, além de ministrar um curso de inglês no Pronatec, preparando profissionais para a Copa do Mundo no Brasil.
Durante a graduação, ficou claro para Oliveira que Letras é muito mais que leitura, escrita e tradução. “Podemos atuar em qualquer área, na Psicologia, com pensamento e linguagem; na Comunicação; no Direito, com argumentação. A linguagem é mais complexa que simplesmente a comunicação entre uma pessoa que fala e outra que escuta”, observa. Para ele, a escrita e a leitura são uma forma de expressar um ponto de vista a respeito do mundo. “Por meio dessas ferramentas podemos mostrar outras maneiras de pensar e entender a vida, o cotidiano, e não apenas uma rotina pacata de fazer tudo sempre da mesma maneira. Podemos fazer coisas diferentes estando no mesmo lugar”, garante.
Formado e laureado em 2014, conquistou uma bolsa para mestrado em Linguística na PUCRS em 2015. Ao mesmo tempo, fazia especialização no Instituto Federal Sul-riograndense, em Charqueadas, e seguia dando aulas. Casado desde 2017, Oliveira conta que a esposa Ana Lia Guimarães, psicóloga, sempre foi uma grande apoiadora em sua trajetória.
INGLÊS PARA TODOS
Na escola em Charqueadas lecionou inglês para 15 turmas de Ensino Fundamental. “Desenvolvi tanto a parte teórica quanto a prática e percebi a realidade da escola pública. Fiz projetos diferentes com os alunos, como um intercâmbio cultural com estudantes da Holanda. Finalizamos com uma conferência via Skype, mostrando as culturas de lá e daqui. Tentei dar aulas comunicativas para o contexto da escola pública”, revela.
Oliveira rebate a concepção de que inglês se aprende apenas em cursos particulares e de que o ensino é fraco em escolas públicas. “No doutorado trabalho com a habilidade oral em uma escola pública de Charqueadas, utilizando tecnologias digitais para os alunos apresentarem a sua cidade em inglês.
Quero falar com o prefeito sobre a importância de mostrar a cidade em outro idioma, já que temos eventos como um rodeio internacional. Mostro para os alunos que o inglês é fundamental não só para trabalho e viagens, mas também para conhecer o mundo, por internet, vídeos e filmes”, destaca.
O tema da oralidade foi o escolhido para o doutorado na Unisinos por envolver questões como saber administrar o idioma, usar o tom correto de voz, utilizar as palavras no contexto certo, saber com quem se está falando e as informações prévias que as pessoas têm, saber empregar expressões, quando ser formal ou não, adaptar a prosódia (ritmo da frase, muito rápido ou muito lento). E Oliveira não pretende parar por aí. Para o pós-doutorado tem planos de ampliar o projeto em modelo de intercâmbio, como fez durante o estágio, mas desta vez no exterior.
Experiência internacional
No final da graduação, Oliveira concorreu e foi o primeiro colocado, dentre 250 candidatos, no edital Top China. Autodidata, estudou mandarim durante seis meses antes de embarcar para Xangai, onde fez um curso de um mês sobre desenvolvimento humano e consciência ambiental. Além disso, teve a oportunidade de ministrar aulas de inglês em nível avançado para professores da Jiao Tong University. “Adquiri outra visão de mundo nas questões de espaço e tempo, cultural, linguística. E pude confirmar a capacidade de poder ir para outros lugares”, conta.
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Atualmente, Oliveira é professor de inglês em uma escola de Porto Alegre e ainda dá aulas particulares de inglês, francês, italiano e alemão em Charqueadas. Durante a graduação, escolheu alemão como disciplina eletiva durante três semestres. Depois, continuou estudando por conta própria. Fez o mesmo com francês e espanhol. “Consigo ouvir o som da palavra e reproduzir a forma escrita”, explica.
Apaixonado pelo ambiente escolar e acadêmico, planeja atuar na formação de professores de idiomas. “Sempre desenvolvi trabalhos focados na questão do ensino. Tenho facilidade em fazer algo complexo, palpável. Gosto da teoria na prática ou da prática utilizando a teoria. A sala de aula é mais do que um espaço físico. Pode ser o que determinarmos”, ressalta. Com seus alunos particulares, inova fazendo aulas em restaurantes e supermercados. “Também promovo conversas pelo Skype entre eles e alguns amigos meus que são estrangeiros. Uso apps, vídeos, músicas, documentários, palestras, muitas ferramentas além do livro didático”, complementa.
Para Oliveira, é na universidade que as maiores transformações na sociedade acontecem. “Nela serão formados os futuros profissionais que usarão o inglês nas suas atividades diárias. Lidar com linguagem, que é algo inerente ao ser humano, é o que me motiva e me faz perceber que, de forma direta ou indireta, participo da modificação na sociedade. Vejo as Letras como uma maneira de significar e ser no mundo. Nós nos comunicamos e significamos, deixamos marcas e atuamos pela linguagem, que é viva como o ser humano”, observa.
PUCRS, o pilar
Ao falar da sua experiência na PUCRS, Oliveira garante que a Universidade foi o pilar da sua formação, com uma base sólida e interdisciplinar. “Foi fundamental. Levo comigo o profissionalismo e o lado humano na pesquisa, o carisma por tentar entender as pessoas que não conseguem nos entender, o olhar empático e êmico, no sentido de não ver somente o meu ponto de vista, mas os dos outros, o olhar humano, ético e profissional”, assegura.
Na sua caminhada, Oliveira também destaca a fé cristã. Atuante no grupo de teatro da Igreja Quadrangular em Charqueadas, diz que essa atividade o ajudou muito na questão da expressão oral, a se comunicar e a mostrar emoções. “A minha fé em Deus e o meu relacionamento com Cristo me ajudaram a chegar onde eu estou”, salienta.