O guardião das obras do Clínicas
Há 18 anos, a vida do engenheiro civil Fernando Martins Pereira da Silva tomou outro rumo. Formado pela PUCRS em 1993, tinha escritório no campo de cálculo estrutural, mas a doença da filha Gabriele, então com 4 anos, motivou a sua decisão de ingressar no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Estaria mais perto de especialistas e de recursos para ajudá-la a conviver com uma diabetes de difícil controle. Hoje fiscaliza as obras que dobrarão a área assistencial da instituição. Somente os leitos de CTI aumentarão de 35 para 110. De 15, as salas cirúrgicas serão 40.
Com a tarefa, que deve ser concluída em 2018, Martins se tornou assessor do Ministério da Educação para assuntos de infraestrutura de hospitais e universidades federais. De 2011 a 2014, acompanhou construções em todos os estados brasileiros.
Um ano depois de entrar no Clínicas por concurso ficou responsável pelo Serviço de Engenharia, que chegou a ter 300 funcionários. A proposta de ampliar a capacidade da instituição surgiu no plano diretor de 2011. O papel de Martins é gerenciar a aplicação dos recursos e o andamento do cronograma da obra, que está 55% pronta e visa melhorar a qualidade e atender às novas normas de segurança do paciente. “Na época em que foi construído, em 1970, não havia nem 20% dos equipamentos disponíveis hoje”, alegou ele, que se mudou para o canteiro de obras, numa estrutura improvisada com gabinetes e salas de reuniões.
Com a atuação no Clínicas, passou a ter informações que foram úteis na assistência da filha, como nome de médicos de referência. A doença teve outros impactos. O pai se acostumou a evitar o açúcar, o adoçante e até o sal. Aos 21 anos, o sonho de Gabriele é fazer Medicina na PUCRS.
Ela foi a segunda criança do Brasil a usar a bomba de infusão de insulina, vinda da Suíça. A família precisou entrar na Justiça para liberar o produto, embargado pela Secretaria da Saúde, enquanto a menina estava na UTI. Martins instruiu o advogado a suprir demandas de mais crianças. Conta que uma das políticas atuais é reflexo disso. “O Estado fornecia fitas para obter a glicemia pela urina. Os valores não eram exatos, dificultando o tratamento. Agora a medição é pelo sangue.”
MESTRE EM MEDICINA E ENGENHARIA
Para o engenheiro, uma das deficiências no setor da saúde é a análise da viabilidade econômica de projetos. Criou um programa de computador visando calcular os custos. Percorreu País, a convite do Ministério da Saúde, ensinando como aplicar essa metodologia e verificar, por exemplo, se vale a pena comprar um equipamento ou vacinar toda a população. Daí a fazer o Mestrado em Medicina – Epidemiologia na UFRGS foi um passo. Também é mestre em Planejamento Urbano Regional pela universidade federal e está no doutorado.
Na PUCRS desde criança
“Só seria duas coisas na vida: engenheiro ou médico.” Acabou se encontrando na Engenharia Civil. A opção pela PUCRS era natural pela convivência no Campus desde criança. A mãe, a analista de sistemas Marlene Martins, trabalhava no antigo Centro de Processamento de Dados e participou do projeto do primeiro vestibular informatizado da Universidade, com cartão perfurado. Criou inclusive uma empresa para informatizar o Hospital São Lucas. O menino adorava estar entre os computadores. “Tenho um carinho muito especial pela PUCRS.” Quando marido morreu, ela foi trabalhar na CEEE.
Aos 16, Martins entrou na Faculdade. Não havia tempo para mais nada. “Quem estuda Engenharia não se lembra de bar. A gente leva meio que como um sacerdócio. Tem que gostar muito mesmo.”
Todos os anos volta à PUCRS para falar aos alunos da disciplina de Ética e Exercício Profissional da Engenharia. Também bate um papo com os formandos, quando explica as diferenças entre o Sindicato dos Engenheiros (Senge) e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). Na diretoria das duas entidades, sua bandeira é a valorização da classe. “A minha maior defesa é da técnica. Como contratar um projeto por menor preço?”, questiona.
Do Crea (do qual foi 1º vice-presidente na gestão 2015-2017), recebeu o Atestado de Serviços Meritórios Prestados à Regulamentação e Fiscalização do Exercício Profissional, em 2013. O Senge lhe concedeu a Medalha do Mérito pelo trabalho em prol da Engenharia, em 2015.
Aos 49 anos, planeja diminuir o ritmo de trabalho e dar aula em universidade. Nos momentos de lazer, gosta de ler sobre algoritmo computacional e jogar tênis. Viaja uma vez por ano. Um roteiro inesquecível foi a ida de carro de San Francisco a Los Angeles (EUA) com a filha. No Vale do Silício, conheceram a sede da Apple e foram à casa de Steve Jobs.