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Fonte de Conhecimento e Juventude

Cada vez mais alunos acima de 50 anos levam inspiração e troca de experiências para a sala de aula

POR VANESSA MELLO

A universidade é um lugar de busca de conhecimento, formação profissional, preparação para o mercado, troca de experiências, interação, criação de vínculos com colegas e professores, amizades que ultrapassam os bancos acadêmicos, renovação e atualização constantes. É um espaço para todas as idades, do jovem adulto à maturidade. Seja pela busca de recolocação ou de uma nova carreira, para realizar o sonho de conquistar um diploma de graduação, pela nova fase de vida depois da aposentadoria ou pelo simples fato de ter mais tempo com os filhos alçando os próprios voos, o número de alunos acima de 50 anos no ensino superior tem aumentado com o passar dos anos.

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O diretor de graduação da Pró-Reitoria Acadêmica, Éder Henriqson, aponta três importantes aspectos em ter esse perfil de aluno na PUCRS. O primeiro deles é o conceito de life long learning, de aprendizado continuo ao longo da vida. “Como a técnica e tecnologia mudam de maneira muito rápida e acentuada, e os próprios contornos das profissões se alteram, um sistema de ensino superior precisa se organizar pressupondo a lógica da formação continuada do estudante, de forma a propiciar seu retorno para universidade em qualquer momento da vida e por diversas vezes”, explica.

O segundo grande eixo é da lógica da carreira, na qual, cada vez mais, as pessoas terão diferentes profissões ao longo da vida. “A perspectiva de se formar, buscar emprego em uma grande empresa e fazer isso até se aposentar é cada vez mais volátil. É preciso preparar sujeitos que terão carreiras, no plural. Os currículos de graduação devem se preparar para isso. A tendência é que sejam mais modularizados, para que tanto o jovem ingressante na graduação quanto o sênior possam fazer permanentes escolhas de certificação, que garantam novas competências e habilidades sempre que desejarem voltar a estudar”, avalia Henriqson.

Por fim, ter alunos acima de 50 anos na graduação é uma oportunidade de enriquecimento da sala de aula. “Esse é o aspecto mais importante. Eles têm capacidade diferenciada de marcar referência atitudinal, comportamental e de maturidade muito benéfica. Já viveram muitas coisas, sabem os desafios do mercado, da vida e da sociedade. Esse espírito de valorização da experiência e aproximação de gerações favorece uma formação mais qualificada”, garante. Como professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas, Henriqson presenciou experiências muito positivas, nas quais os alunos mais jovens se inspiravam e respeitavam esses colegas.

Suzy Craidy realiza o sonho de cursar Psicologia

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De professora a psicóloga

Formada em Estudos Sociais em 1979, Suzelmara de Mello Craidy era professora de escola pública no Ensino Fundamental. Ao se aposentar, decidiu concretizar um sonho antigo, cursar Psicologia. Atualmente aluna do 9º semestre, Suzy, como é chamada pelos colegas, ingressou na PUCRS como diplomada e já planeja a formatura para 2017/2. “Cheguei a fazer o psicotécnico quando uma das minhas filhas tinha um ano, mas como trabalhava e tinha criança pequena, deixei para mais tarde. Quando chegou a oportunidade, todos me deram o maior apoio”, diz.

Voltar à Universidade é para Suzy uma forma de aprender, prosseguir ativa, produzir algo útil e buscar satisfação pessoal. Em setembro ela completa 60 anos, em contraste aos colegas com faixa etária entre 20 a 25. A diferença de idade não foi nada negativa. “Vou a barzinhos, em reuniões nas casas dos colegas e sempre levo meu marido junto. Tenho uma relação de amizade sincera, fui até madrinha de um lindo casamento de uma colega”, comenta.

Agora Suzy faz estágio no Hospital de Clínicas, atende pacientes oncológicos e em cuidados paliativos. “Essa experiência mudou minha visão de mundo. Pretendo colocar em prática tudo o que aprendi. Penso em fazer uma especialização em oncologia e ter meu consultório”, revela. O conselho que Suzy deixa para quem já chegou aos 50 anos é sair de casa, ir atrás dos sonhos, ser ativo e dar exemplo para os filhos e netos. “Somos capazes de realizar muitas coisas”, afirma.

Mercado 50+

A consultora do Escritório de Carreiras Daniela Boucinha afirma que o mercado tem espaço para os novos profissionais acima de 50 anos, que estão iniciando uma nova carreira ou buscado recolocação. A seu favor, eles têm uma bagagem, mesmo que em outra formação ou tipo de emprego, que não se apaga e que pode ser aproveitada. “Esses profissionais devem usar essa história nas diversas competências que já têm desenvolvidas. Porém, é importante destacar que é um caminho árduo e não segue a mesma lógica de profissionais mais jovens. Há uma necessidade bem maior de apostar em networking e de mostrar atualização profissional. Sugiro fortemente um planejamento de carreira acompanhado por profissionais especializados.”

Silvana Anghinoni venceu o vestibular e está no final do curso de Pedagogia

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Em busca do diploma

Quem disse que existe idade limite para se conquistar o primeiro diploma de graduação? Depois de se aposentar como vendedora em uma livraria, Silvana Beatriz Anghinoni recebeu da filha muito incentivo para realizar o desejo de cursar o ensino superior. Silvana se preparou, fez aulas de revisão e foi aprovada no vestibular. Ingressou no curso de Pedagogia em 2014/1. Aos 58 anos, está no 7o semestre e garante que se diverte bastante com os colegas e com a troca de experiências. “Por ser mais velha, dou vários conselhos a elas.”

A escolha por Pedagogia foi pelo amor que Silvana tem por crianças e por acreditar que somente por meio da educação é possível “salvar” a humanidade. “Talvez trabalhe meio turno em uma escola de educação infantil ou faça um trabalho voluntário de reforço em escolas públicas, ou de contação de histórias em hospitais e orfanatos. Quero que meus conhecimentos sirvam para alguém”, pensa.

Natural de Tapera, Silvana mudou-se para Porto Alegre em 1990 para trabalhar com os irmãos. Para ela, estar em sala de aula abriu sua mente para diferentes questões. “O ambiente, a convivência com os jovens e com as professoras trazem um conhecimento que teoria e livro nenhum ensinam”, recomenda.

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Oscar foi escolhido pelos professores e colegas

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Pensamento e físico revigorados

A constante vontade de aprender e renovar ideais levou Oscar Lorenzo Inzulza Concha a ser aluno universitário pela terceira vez. O primeiro diploma conquistou no Chile, onde nasceu, em Administração, no ano de 1974. O segundo foi na PUCRS, em Economia, há 35 anos. Em 2016, concluiu a graduação em Direito. “Cumpri todo o programa proposto em cinco anos, incluindo as disciplinas complementares. Tenho uma natureza de dispersão, então os momentos que consegui me concentrar foram bem aproveitados. Administrei o tempo da melhor forma possível”, analisa. Nascido em Valparaiso, Concha veio para o Brasil a trabalho em 1975.

A escolha pelo Direito foi pela necessidade do mercado, já que atua em comércio exterior. “Como economista, preciso estar atualizado com informações, especialmente sobre normas e tributos”, explica. Desde o primeiro semestre coloca em prática os novos conhecimentos e já fez parcerias com colegas em consultoria para empresas. E a jornada acadêmica de Concha não vai parar por aí. A intenção agora é fazer mestrado com foco em Direito Empresarial Tributário, também na PUCRS. O filho de 33 anos, formado em Engenharia Civil pela PUCRS, e a mãe, que mora em Vina del Mar e completa 100 anos em 2017, são seus grandes incentivadores.

Na formatura em Direito

FOTO: SP PRODUÇÕES

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Aos 68 anos, Concha revela que foi bem recebido pelos professores e colegas, que, segundo ele, tinham idade para serem seus filhos ou netos.

A integração foi natural e a diferença de gerações passou despercebida. “Participo de grupos de WhatsApp e Facebook com os colegas, vou a churrascos e aniversários. Ganhei anos de vida. E como se o pensamento e o físico se renovassem. Aprendi muito com eles, especialmente nessa parte de dinâmica da comunicação, que é constante e empolgante”, elogia. Para ele, um aluno mais velho promove o intercâmbio de conhecimento e encoraja o debate. “Eu levava a minha experiência de estudos, de mercado e de vida para a aula. Isso ajuda o professor a ampliar o conteúdo”, completa.

Energias renovadas

Manter-se ativo, não importa a idade, é fundamental para trabalhar aspectos cognitivos, emocionais e físicos, acionando centros do cérebro que fazem com que a pessoa se proteja de depressão e possa retardar alguma forma de demência. A afirmação é da professora Irani Argimon, do curso de Psicologia. Além disso, a relação com a família se fortalece, pois existe uma troca. “No momento em que a pessoa mais madura volta a estudar, ela se torna mais conquistadora no aspecto de continuar a crescer e produzir, acrescentando esses novos conhecimentos para os demais com quem convive. Ela consegue falar na linguagem dos netos, em uma conversa de dupla referência, de avô e de aluno, e até levam seus parceiros para atividades com os colegas”, reflete.

Para Irani, é preciso romper com crenças de que Faculdade é coisa apenas para jovens. “Nos bancos escolares, as pessoas mais maduras conseguem acompanhar as mudanças tecnológicas, que são muitas”, aponta. A docente utiliza o exemplo de um braço quebrado, que após o uso de gesso precisa de fisioterapia para recuperar os movimentos. O mesmo vale para o cérebro que, se não é exigido, vai reduzindo as atividades cognitivas, de memória, de atenção e até mesmo de afeto. É preciso atitude e a família pode e deve estimular. O importante é não ficar parado.

Estagiário experiente

184-capa-08A economista Maria da Glória Tassinari Yacoub, diplomada pela PUCRS, participou do Torneio Empreendedor em 2016 e criou a plataforma Estagiário Experiente, portal de reinserção de profissionais acima de 50 anos no mercado. A proposta é abordar o conceito de trabalhabilidade, com oportunidades de atividades remuneradas, reportagens sobre maturidade e mercado, possibilidades de mentoria para jovens profissionais, curadoria de conteúdo para blog, vídeos e cursos. Em junho, o site passou a divulgar vagas para enfermeiros atuarem de casa, solucionando dúvidas via WhatsApp, e a receber textos colaborativos para publicação on-line.

Também promove, a cada 30 dias, rodadas de conversas em formatos variados, sempre sem custo, em locais abertos, como cafés e livrarias. Neste ano, Glória pretende lançar um canal no YouTube para reciclagem de conhecimentos. O primeiro vídeo será sobre a linguagem da informática.

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