Matheus Costa foi beneficiado pelo Programa de Crédito Educativo PUCRS

TendênciaFotos: Camila Cunha

Ensino superior mais acessível no Brasil

Centro Brasileiro de Pesquisas em Democracia da PUCRS aponta que as matrículas triplicaram de 1995 a 2015

POR EDUARDO WOLFF

O sonho de ser um defensor público está cada vez mais próximo para Matheus de Souza Costa, 22 anos, aluno do 9° semestre de Direito. O estudante ingressou na Universidade em 2015, mas sem condições financeiras de pagar integralmente as mensalidades. A vontade de estudar aliada ao auxílio do Programa de Crédito Educativo PUCRS permitiu ao jovem ter acesso ao Ensino Superior.

A bolsa de estagiário e a ajuda financeira de seu pai também possibilitaram investir na futura carreira jurídica. “Se não fosse esse benefício, não estaria aproveitando toda a estrutura que a PUCRS oferece”, destaca Matheus. Com estágios realizados no Palácio da Polícia e no Foro Central, atualmente é escrevente autorizado do 2º Cartório de Registro Civil de Porto Alegre.

DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO

A história de Matheus faz parte do universo de estudantes pesquisados pelo Centro Brasileiro de Pesquisas em Democracia da PUCRS. O estudo teve como referência jovens entre 18 a 24 anos que acessaram as universidades brasileiras de 1995 a 2015. A pesquisa apontou que, nas últimas duas décadas, o Brasil apresentou um novo ciclo de expansão da rede de Ensino Superior, além de iniciativas e políticas públicas visando a redução das desigualdades de acesso. A taxa líquida de matrículas nesse nível de ensino, que, em 1995, era de 5,8%, em 2015, chegou a 18,1%.

O levantamento também indicou que a origem social dos jovens, apesar de ainda exercer forte efeito sobre as chances de ingresso no Ensino Superior, teve sua relevância reduzida nesses anos. O estudo completo foi realizado em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina.

André Salata, coordenador do Centro e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, observa que o peso da origem social sobre as chances de ingresso no Ensino Superior (condicional ou não à conclusão do Ensino Médio) ainda é muito marcante. Jovens provenientes de famílias de classes altas e com maior capital cultural ainda hoje têm chances muito mais altas de chegar à universidade do que os de classes trabalhadoras. “A sociedade se mostra mais democrática e aberta do que há duas décadas, apesar das enormes desigualdades persistirem”, analisa Salata.

Na opinião da professora do curso de Pedagogia e de Pós-Graduação em Educação e coordenadora do grupo de pesquisa Processos Motivacionais em Contextos Educativos, Bettina Steren dos Santos, ingressar na universidade no Brasil ainda é uma grande conquista. “Existem muitos estudantes da primeira geração, ou seja, são a primeira pessoa da família a frequentar a educação superior. Percebe-se que as mudanças nas políticas públicas de acesso possibilitam a valorização da vida dos futuros profissionais. Situações que já mostram de maneira positiva o impacto na qualidade e no desenvolvimento do País”, enfatiza.

Exemplo simulado

Rodrigo e Pedro têm entre 18 e 24 anos, moram na mesma região geográfica, em cidades com portes similares e em famílias com estrutura semelhante. Enquanto Rodrigo é filho de profissionais, os pais de Pedro são trabalhadores manuais.

  • Em 1995, Rodrigo teria chances 35 vezes maiores que as de Pedro de ter acessado o ensino superior.
  • Se Rodrigo e Pedro tivessem nascido em 2005, quando estivessem naquela mesma faixa etária, Rodrigo teria chances 19 vezes maiores que as de Pedro de ter acessado o ensino superior.
  • Caso Rodrigo e Pedro tivessem nascido 20 anos mais tarde, em 2015, as chances de Rodrigo seriam nove vezes maiores que as de Pedro de ter acessado o ensino superior.

Vida transformada

Valéria Fagundes ingressou na PUCRS via ProUni

Com uma carreira consolidada, Valéria Fagundes, 29 anos, criada pela avó paterna, começou sua trajetória no curso de Psicologia em 2008, quando conseguiu uma bolsa via Programa Universidade para Todos (ProUni). O benefício proporcionou seu acesso ao Ensino Superior que, segundo ela, transformou sua vida.

Na PUCRS, entre as várias oportunidades, uma foi estagiar na UTI do Hospital São Lucas. “Percebi a dificuldade em atender pacientes que não podiam usar a voz para se expressar e criei uma ferramenta conhecida como Pasta da Comunicação. A solução está presente em sete estados brasileiros, sendo usada por diversos profissionais da saúde”, celebra.

Depois de concluir a graduação, Valéria conquistou uma bolsa integral de mestrado em Geriatria e Gerontologia Biomédica com ênfase em Neurociência. Além de estar envolvida com a sua ferramenta de comunicação, orienta jovens a ingressarem no Ensino Superior por meio de uma avaliação neuropsicológica e avaliação profissional.

Casos hipotéticos

A pesquisa utilizou dados da Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD-IBGE) para os anos de 1995, 2005 e 2015 e, para destacar os resultados, utilizou comparações de casos hipotéticos.

 Redução das desigualdades
Ana e Marcela são duas jovens com idades entre 18 e 24 anos, moram na mesma região geográfica, em uma cidade com porte similar e em famílias com estrutura semelhante. Ambas concluíram o Ensino Médio. Ana é filha de proprietários empregadores, Marcela é filha de trabalhadores manuais não qualificados. Como tanto Ana quanto Marcela concluíram o Ensino Médio, tratamos aqui somente da barreira que separa o Ensino Médio do Superior. Veja:

– Em 1995, Ana teria chances seis vezes maiores que as de Marcela de ter acessado o Ensino Superior.

– Caso Ana e Marcela tivessem nascido dez anos mais tarde, em 2005, quando estivesse naquela mesma faixa etária (18 a 24 anos), Ana teria chances oito vezes maiores que as de Marcela de ter acessado o Ensino Superior.

– Se Ana e Marcela tivessem nascido vinte anos mais tarde, em 2015, quando estivesse naquela mesma faixa etária, Ana teria chances quatro vezes maiores que as de Marcela de ter acessado o Ensino Superior.

Barreira que separa o Ensino Médio do Superior

No caso de Paulo e Gustavo, ambos têm idade entre 18 e 24 anos, moram na mesma região geográfica, em  cidades com portes similares e em famílias com estrutura semelhante. Ambos ingressaram no Ensino Superior. Confira:

Se Paulo e Gustavo tivessem nascido dez anos mais tarde, no ano de 2015, quando estivesse naquela mesma faixa etária (18 a 24 anos), Paulo teria chances 88% maiores que as de Gustavo de ter acessado o Ensino Superior em uma Instituição Pública (em vez de privada).