Pobreza e problemas de infraestrutura afetam o país

Ação Social

Ensino como solução de desenvolvimento

Professores da PUCRS organizam cursos e mestrado no Instituto Superior Politécnico Sol Nascente, em Angola

POR VANESSA MELLO

Um país rico em recursos naturais, com grandes reservas de minerais e de petróleo, e alta concentração de renda, mas sofre com os efeitos de guerras que, juntas, duraram mais de 40 anos. A guerra civil, travada entre o Movimento Popular de Libertação de Angola e a União Nacional para a Independência Total de Angola, de 1975 a 2002, e a guerra de libertação do país, de 61 a 74, deixaram marcas. Produziram uma fortíssima migração no sentido rural-urbano, além de terem acarretado a um forte armamento. O resultado é uma concentração populacional na grande Luanda, com o aumento de favelas, as chamadas de musseques, e problemas de infraestrutura urbana.

Sua história pós-Independência está estruturalmente marcada pela escolha de um regime de partido único que vigorou até o final dos anos 1980, criando uma analogia entre o Estado e o partido no poder. “Isso compromete o exercício das liberdades em várias frentes. As oposições precisam ter mais espaço no cenário político, e o respeito às diversidades necessita de mais apoio”, analisa Marçal Paredes, do Programa de Pós-Graduação em História da PUCRS, especialista na área de história contemporânea de Angola, e professor visitante na York University, no Canadá, por meio do Programa Institucional de Internacionalização PUCRS-PrInt.

Nesse sentido, a educação é ferramenta fundamental para o desenvolvimento econômico, social e político de um país, para a garantia de liberdades e respeito às diversidades. A PUCRS vem realizando uma importante parceria com Huambo, no país africano, com foco em  formação e instrumentalização de professores para produção e disseminação de conhecimento. Desde 2014, professores dos Programas de Pós-Graduação em Filosofia, Educação e Letras participam de missões de uma semana para capacitação discente e docente no Instituto Superior Politécnico Sol Nascente (ISPSN), instituição de ensino privada com cerca de nove cursos de graduação e três especializações.

Criação de mestrado e cooperação

O Instituto planeja seu primeiro mestrado, em Direito e Filosofia Política, e contou com a ajuda do coordenador do PPG em Filosofia, Agemir Bavaresco, e a do professor Thadeu Weber para a organização. O projeto aguarda liberação dos órgãos competentes de Angola. Weber esteve em Huambo em 2018 para a aula inaugural dos cursos de especialização com a disciplina de Ética, Direito e Política. Após aprovado, deve integrar o quadro de docentes do mestrado de forma intensiva.

Para fortalecer ainda mais a parceria interinstitucional e a solidariedade estratégica com a África, os PPGs submeteram um projeto por meio do Edital de Cooperação Brasil Sul-Sul (Capes/Coopbrass). Se aprovado, terá duração de quatro anos, com bolsas para professor visitante, doutorado-sanduíche e pós-doutorado no ISPSN. “Auxiliaríamos na implementação do mestrado deles e trabalharíamos o princípio da dignidade e formação humana na capacitação profissional“, comenta Jair Tauchen, bolsista PNPD e coordenador do projeto junto a Bavaresco.

Bettina, ao centro, com os professores do ISPSN em Huambo

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Formação de professores

Em 2018, a professora Bettina Steren dos Santos, do PPG em Educação, esteve no ISPSN ministrando aulas para 80 professores no curso Didática da Investigação Científica. Foi então convidada pelo diretor da instituição, Inácio Valentin, a organizar um curso de formação de docentes e história da educação. Com 340 horas, começou em agosto de 2019 e atende16 estudantes (professores do ISPSN e de escolas de Huambo) com envolvimento de 14 docentes da PUCRS. Em setembro, Bettina retornou a Huambo por uma semana para conduzir a disciplina de Psicologia da Educação. Segundo a professora, o número de alunos do instituto aumentou de 2018 para 2019. “Eles estão com mil estudantes a mais, totalizando 4.500, e o diretor Valentin atribuiu esse crescimento à parceria com a PUCRS”, afirma.

Para o especialista em história contemporânea de Angola, a PUCRS pode se constituir como uma grande parceira a fim de acentuar a diversificação e a internacionalização do ensino em Angola. “Temos um papel importante a desempenhar no país africano. É imperioso lembrar que o Instituto Marista está em Angola desde 1954, atuando na formação de professores e alunos”, conclui Marçal Paredes.