De trainee a contratada da Microsoft
Enquanto assistia de casa à Apple Worldwide Developers Conference (WWDC), conferência anual voltada a desenvolvedores, Barbara Kudiess pensava que um dia gostaria de estar lá. Isso foi em 2014, ano em que ingressou na PUCRS no curso de Engenharia da Computação. Na época, nem imaginava que nos dois anos seguintes teria a oportunidade de ver presencialmente, na Califórnia (EUA), os anúncios das novidades da Apple na WWDC.
A oportunidade surgiu ao participar do então Brazilian Education Program for iOS Development (BEPiD), hoje Apple Developer Academy, de capacitação para o desenvolvimento de aplicativos para dispositivos da marca. O programa é gratuito, aberto para acadêmicos de qualquer curso e tem uma carga horária de 20 horas semanais durante dois anos. Nesse período, Barbara – que após dois anos de graduação migrou para o curso de Ciência da Computação – aprendeu a lógica de programação para crianças e participou da construção de dois aplicativos. Seu desempenho rendeu viagem para as conferências de 2015 e 2016.
A experiência e o conhecimento adquiridos tornaram seu currículo interessante a ponto de conquistar uma vaga de trainee na Microsoft, em Redmond (EUA). “No início de 2017, um diplomado PUCRS que hoje trabalha na Microsoft visitou a Escola Politécnica para uma palestra. Ele falou sobre o processo seletivo de estágio e, ao final, entreguei meu currículo”, conta. Barbara foi chamada para uma conversa via Skype e, na fase seguinte, foi a São Paulo para uma entrevista na sede da empresa. “Talvez só tenha sido chamada para trainee da Microsoft por ter essa vivência prévia com aplicativos”, avalia.
BASTIDORES DO WINDOWS
Barbara integrou o time do Windows de dezembro de 2017 a março de 2018. Trabalhou no grupo Windows e Devices, dentro da equipe User Experience Platform, implementando o novo design da Microsoft, chamado Fluent Design System. “Minha tarefa foi criar um novo controle XAML para aplicativos UWP. Criei um protótipo do controle e desenvolvi o projeto a partir do zero. Aprendi sobre o processo de desenvolvimento e ferramentas (design, codificação, teste, depuração).
Desde o início, sentiu-se parte da equipe e foi tratada como uma funcionária. Com isso, ganhou liberdade e muitas responsabilidades. “Não havia um horário específico de trabalho, o importante era as atividades serem realizadas. Além disso, tive que aprender muito e resolver problemas. ‘Estão todos trabalhando, cada vez que interrompo alguém com perguntas tiro o tempo dessa pessoa’, pensava. Tomei muitas decisões sozinha, como dar nome aos métodos de cada comando usado por desenvolvedores de aplicativos”, lembra.
RESPONSABILIDADES
A jovem de 22 anos chegou à sede da empresa no início de dezembro e logo grande parte da equipe saiu de férias para as festas de final de ano. Então, correu atrás para se contextualizar e foi autodidata em muitas situações. “Caí em um time com um código já existente enorme. Tive que me inteirar e entender o que acontecia para usá-los nas minhas criações.Desenvolvi o que podia enquanto o pessoal não retornava. Fiz um protótipo para apresentar e, após feedback, fiz os ajustes necessários”, conta.
Interagiu com pessoas de diversos países, como Egito, França e Argentina, o que, garante, ampliou seus horizontes. Ainda, teve a oportunidade de ver na prática, em uma empresa conhecida mundialmente, tudo o que aprendeu na graduação. “Foi uma experiência incrível. E o melhor, recebi proposta para trabalhar lá após me formar”, celebra. Em fevereiro de 2019, Barbara faz as malas com destino a Vancouver (Canadá), onde atuará até sair seu visto de trabalho para os EUA.
Essa foi a primeira vez que morou sozinha. Precisava ir ao mercado, limpar a casa e andar de ônibus, já que não tinha carro. Com isso, sente- se mais preparada para sair de casa no próximo ano. “O período de trainee também me ajudou a ver como é trabalhar na empresa. Quando for efetivada, já saberei como funciona, mesmo sendo em outra cidade”, diz. Embora com o inglês fluente, o maior desafio foi formular o pensamento e expor suas ideias em outra língua. “Às vezes a conversa ficava rápida e eu tinha que acelerar o raciocínio, mas é tudo uma questão de costume”, complementa.