De portas abertas
Iniciativas de acolhimento e apoio a imigrantes e refugiados vão ao encontro do princípio de solidariedade da Universidade
A cada minuto, 20 pessoas precisam deixar suas comunidades de origem em razão de guerras, conflitos e outras formas de violência. O dado faz parte do relatório Tendências Globais 2018, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Mais de 68,5 milhões de pessoas estavam deslocadas por guerras e conflitos até o final de 2017, ou seja, uma a cada 110 pessoas no mundo. Outras causas como perseguições, crise econômica e miséria também têm forçado milhares a deixar seus países de origem em busca de novas oportunidades.
O Brasil entrou na rota das migrações internacionais no século 21. O fluxo teve um aumento significativo a partir de 2010, especialmente após a ocorrência do terremoto no Haiti, e diante da crise econômica de países como Bolívia, Peru e Venezuela. O número de estrangeiros que pediram refúgio no Brasil aumentou 161% em 2018 de acordo com dados do Ministério da Justiça. No último ano, o Brasil recebeu solicitações de refúgio de estrangeiros de 97 nacionalidades diferentes e contabilizou 19.429 pedidos em todo o País. Desse total, 14.449 foram de venezuelanos, seguidos por haitianos e cubanos.
A cada minuto, 20 pessoas precisam deixar suas comunidades de origem em razão de guerras, conflitos e outras formas de violência. O dado faz parte do relatório Tendências Globais 2018, do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Mais de 68,5 milhões de pessoas estavam deslocadas por guerras e conflitos até o final de 2017, ou seja, uma a cada 110 pessoas no mundo. Outras causas como perseguições, crise econômica e miséria também têm forçado milhares a deixar seus países de origem em busca de novas oportunidades.
O Brasil entrou na rota das migrações internacionais no século 21. O fluxo teve um aumento significativo a partir de 2010, especialmente após a ocorrência do terremoto no Haiti, e diante da crise econômica de países como Bolívia, Peru e Venezuela. O número de estrangeiros que pediram refúgio no Brasil aumentou 161% em 2018 de acordo com dados do Ministério da Justiça. No último ano, o Brasil recebeu solicitações de refúgio de estrangeiros de 97 nacionalidades diferentes e contabilizou 19.429 pedidos em todo o País. Desse total, 14.449 foram de venezuelanos, seguidos por haitianos e cubanos.
NOVAS PERSPECTIVAS
Diante desse novo cenário, com sociedades cada vez mais híbridas e seguindo o princípio da solidariedade que aparece no Marco Referencial da Universidade, a PUCRS tem criado gradualmente novas iniciativas que visam o acolhimento de imigrantes e refugiados em projetos sociais. Exemplo disso são as aulas de português para imigrantes, que iniciam sua quarta edição em 2019. A atividade resulta da parceria entre a Escola de Humanidades, o Centro de Pastoral e Solidariedade e a Paróquia Santa Clara, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre.
À frente da iniciativa estão a decana associada e a professora da Escola de Humanidades, Regina Kohlrausch e Cristina Perna, respectivamente, e os mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Letras. “O benefício efetivo da aprendizagem do idioma ocorre em situações do cotidiano em que haja oportunidades para a comunicação, ou seja, no uso de coletivos para o deslocamento diário, nas compras, na busca por emprego e moradia, na formação de amizades, entre outras tantas”, comenta Regina.
De acordo com as professoras, no decorrer das aulas há uma real troca de experiências porque elas são planejadas para que a cultura dos imigrantes seja incluída nos conteúdos programáticos. “Ao falarmos da nossa cultura, é dada a oportunidade de que falem da sua. Em outras palavras, ao falarmos sobre a música brasileira, perguntamos sobre a música haitiana, ao falarmos sobre a comida brasileira, perguntamos sobre a comida haitiana, assim como sobre os demais temas do cotidiano”, adiciona Cristina.
Rede de solidariedade |
O Centro de Pastoral e Solidariedade e a Rede Marista têm se engajado com a causa da imigração. Diversas iniciativas visam auxiliar famílias e amenizar as consequências da crise humanitária e da mudança de país. Entre os projetos, está o apoio a dez famílias venezuelanas acolhidas no Complexo Marista Graças, em Viamão. As principais fontes de apoio dessas famílias são a Prefeitura Municipal de Viamão e a PUCRS, oferecendo suporte psicológico, jurídico, administrativo, orientação de carreira e aulas de português, com o objetivo de auxiliá-los na auto gestão. Além desse projeto, outras campanhas de arrecadação e apoio foram colocadas em prática. Para Nathalia de Andrade, agente de Pastoral, tais iniciativas são importantes para a PUCRS porque vão ao encontro do propósito e dos valores maristas, sobretudo o da solidariedade. “Essas ações envolvem nossos alunos e professores na causa dos direitos humanos, promovem a cultura da solidariedade, bem como a produção e a disseminação de conhecimento, promovendo a formação de valores, o acolhimento ao outro e a troca de experiências entre pessoas de diferentes culturas”, adiciona. |
Recolocação no mercado de trabalho |
Outro destaque é o projeto realizado em parceria com a Fundação Irmão José Otão (Fijo) e PUCRS Carreiras, que possibilitou a orientação de carreira e a elaboração de currículos profissionais aos imigrantes. “O principal objetivo é acolhê-los e dar-lhes suporte para que vivam com dignidade e possam reconstruir sua identidade”, comenta a agente de pastoral Nathalia de Andrade. A área de Gestão de Pessoas da PUCRS teve a possibilidade de apoiar a inserção profissional de imigrantes por meio de um trabalho social realizado pela Universidade – Pastoral e Escola de Humanidades. “Recebemos 15 haitianos que foram avaliados para as oportunidades existentes e contratamos seis funcionários para a área de higienização e transporte”, conta Isabel Degrazia, gerente da Gerência de Gestão de Pessoas. De acordo com Isabel, lideranças e colegas dessas áreas também foram parceiros e assumiram o compromisso de auxiliar esses profissionais em sua adaptação na Universidade e capacitação para o trabalho. “Entendemos que a diversidade contribui muito com o desenvolvimento pessoal e profissional de todos que têm a oportunidade de relacionar-se com esses colegas imigrantes e evidencia nossos valores humanitários”, completa. Murielle Doriska é uma das funcionárias da Universidade, natural da cidade de Porto Príncipe, no Haiti. No Brasil há três anos, a haitiana conta que, após o terremoto que atingiu a cidade em 2010, a falta de oportunidades fez com que deixasse o país em busca de melhores condições de vida. Empregada no serviço de higienização da PUCRS desde 2017, a colaboradora conta que participou do curso de português na Paróquia Santa Clara e foi auxiliada pelas professoras e equipe de Pastoral a fazer seu currículo para enviar à PUCRS. “Estou muito feliz por estar empregada, podendo ajudar minha família que ficou no Haiti e cuidar da minha filha que nasceu aqui no Brasil”, comenta. “Sinto saudades de casa, mas fiz deste país um novo lar.”
|
Apoio jurídico e psicológico |
Na Escola de Direito, o Serviço de Assessoria em Direitos Humanos para Imigrantes e Refugiados (Sadhir) é mais uma iniciativa. Composto por alunos e profissionais egressos da Universidade, familiarizados com as dificuldades e inseguranças enfrentadas por quem está em situação de vulnerabilidade no Brasil, o Sadhir atua na solução de diversas demandas relacionadas ao cenário migracional brasileiro. A iniciativa tem o objetivo de auxiliar os imigrantes a se estabelecerem no Brasil e a solucionarem eventuais demandas judiciais e dúvidas relativas a assuntos como documentação, moradia e saúde. O Serviço de Assistência Jurídica Gratuita (Sajug) atende na sala 140 do prédio 8 do Campus. Agendamentos e informações: [email protected]. O Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (Nepte), vinculado à Escola de Ciências da Saúde e coordenado pelos professores Christian Kristensen e Danielle da Costa, trabalha em um projeto internacional de pesquisa sobre imigração e saúde mental em colaboração com a Université de Bourgogne Franche-Comté, na França. A pesquisa investiga o processo migratório e a saúde mental de imigrantes e refugiados de diversas nacionalidades no Brasil e na França (veja matéria na página 18). A partir desse projeto, a equipe realiza atendimentos psicoterápicos para a população imigrante ou refugiada. O núcleo oferece avaliação psicológica para qualquer nacionalidade dentro do ambulatório e, caso a pessoa tenha a demanda atendida pelo Nepte, tem a chance de utilizar os serviços de atendimento focados no tratamento de traumas. Mais informações pelo e-mail [email protected]. Para a coordenadora executiva do Escritório de Cooperação Internacional, Heloísa Delgado, essas iniciativas beneficiam não só quem busca novas oportunidades, mas também aqueles que fornecem ajuda, contribuindo para um Campus cada vez mais internacionalizado e multicultural. “São exemplos genuínos de solidariedade, que se constituem em um legado para as atuais e futuras gerações”, completa.
|