Da PUCRS para a China
Apaixonado por aviões, Fábio Tomazini cresceu ouvindo as histórias de quando o avô materno Tonico era piloto de monomotor no Pantanal Mato-Grossense. Mesmo assim, nunca tinha pensado em ser piloto até que, ainda no Ensino Médio, conheceu o curso de Ciências Aeronáuticas da PUCRS em um guia para estudantes. Foi então que despertou o interesse pela carreira. Hoje, aos 35 anos, é comandante do Airbus A320 na companhia aérea chinesa HK Express, onde atua há quase dez anos.
Diplomado em Ciências Aeronáuticas em agosto de 2005, na 15ª turma do curso, Tomazini conquistou seu primeiro emprego formal seis meses após a graduação, em uma empresa de táxi aéreo de Campo Grande (MS). “Voei um turboélice Bandeirante na função de copiloto. Depois de quase dois anos, me mudei para Hong Kong”, conta.
Ao saber por meio de um colega de turma da PUCRS que a empresa chinesa abriria seleção, foi a Hong Kong participar do processo seletivo e conquistou a vaga. Tomazini ingressou na HK Express em janeiro de 2008 e começou como copiloto em um Boeing 737. Após uma reformulação do formato de negócios da empresa, passou a voar em um AirbusA320. A promoção para comandante veio em 2014.
A mudança de emprego e de país foi impactante, tendo que lidar com um equipamento diferente em uma região distinta, sem contar o fato de ser tudo em inglês. “O suporte da empresa e de colegas deixaram essa transição mais suave”, afirma.
O pulo de um táxi aéreo no Brasil voando turboélice para uma empresa aérea no exterior voando Boeing 737 foi um grande crescimento profissional. “O conhecimento técnico e humano que adquiri durante a graduação foram essenciais para a conquista desse emprego, já que na época eu era um piloto com relativa pouca experiência”, reconhece.
TEMPO DE ESTUDANTE
Da época de aluno, Tomazini guarda boas lembranças, como o ambiente universitário e os amigos. “O prédio da Ciências Aeronáuticas, os professores, os funcionários estão na minha memória até hoje”, garante. Natural de Salto, interior de São Paulo, escolheu a PUCRS “por ter sempre a melhor reputação entre os cursos de Ciências Aeronáuticas”.
EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL
A aviação comercial no exterior é um setor padronizado e funciona da mesma maneira em Hong Kong e no Brasil. As diferenças surgem na parte administrativa e na relação com funcionários, entre outras que não sejam operacionais.
As companhias aéreas internacionais geralmente exigem uma experiência prévia. Por isso é comum o piloto adquirir esse conhecimento prático no Brasil antes de tentar uma posição em outros países. O domínio da língua inglesa é exigência. Para quem deseja seguir os passos internacionais na aviação, ele destaca que dedicação nos estudos e persistência são indispensáveis. “A carreira de piloto requer cumprir vários passos. Faço-os um de cada vez”, aconselha.
Tomazini faz rotas para diversas cidades na China territorial e países como Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Camboja, Tailândia, Vietnã, Filipinas, Myanmar, Ilhas Marianas e Micronésia. Apesar de tantos destinos diferentes, não sofre de jetlag quando voa a trabalho, pois cruza no máximo dois fusos horários, o que não interfere no ritmo circadiano. Apenas nas viagens ao Brasil é que sente essa descompensação horária. Para se adaptar, planeja dias de folga antes de retomar às atividades como piloto. Para o futuro, planeja voltar ao Brasil e, quem sabe, poder voar de novo por aqui.
O desafio de ter o primeiro emprego de linha aérea em uma empresa estrangeira, além de melhor perspectiva de crescimento profissional e maior retorno financeiro, fez com que Tomazini encarasse uma nova vida em Hong Kong. “Foi muito difícil, pois era solteiro e sem apoio familiar por perto. Depois que me casei, o suporte que tive da minha esposa foi fundamental para continuar”, lembra. Casado há quase nove anos com a brasileira Juliana, é pai dos pequenos Henrique, de 4 anos, e Helena, de 2. “Nos conhecemos na época em que eu era copiloto em Campo Grande. Ela também atuava como piloto de um outro táxi aéreo”, conta.
Hong Kong é uma região administrativa especial da China. Como território autônomo, preserva muitas influências da época de colônia britânica. “Ainda que prevaleça a cultura chinesa, ela é misturada com uma forte presença de estrangeiros de todo o mundo, deixando a cidade um pouco mais ocidentalizada. Isso torna as diferenças mais amenas e de melhor convivência”, revela. O dialeto e língua oficial são o cantonês e o inglês. “Apenas o inglês é suficiente para viver aqui”, garante.
Trabalhar e morar fora do Brasil requer flexibilidade e mente aberta para se adaptar e aceitar costumes diferentes. A família adotou alguns hábitos locais, especialmente as datas comemorativas, como o ano novo chinês, mas procuram manter ao máximo a cultura brasileira dentro de casa. “O maior hábito brasileiro que temos é o culinário. Arroz e feijão tem quase todo dia. Queremos que nossos filhos cresçam com uma identidade cultural”, reflete.
A distância geográfica e de fuso horário não são impedimentos para que Tomazini e a família voltem com frequência ao Brasil para matar a saudade. “Costumo ir a cada oito meses em média, somente a passeio. Às vezes, fico por um período mais curto que a minha família, pois tenho que voltar ao trabalho”. Amigos e parentes também os visitam.
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