Escrita Criativa

Contos e poesias de alunos

Espaço experimental com produção dos estudantes

Curta Biografia

190EscritaCriativa(Foto1_editada)As chamas dançam
Contra a parede
Queimam
Como o álcool em minha garganta
Entalhando em minha carne
Todas as minhas decisões
E eu rebolo
Na corda bamba
Rio e danço
Ao som das lágrimas
Minha eterna trilha sonora
Depois de horas
Perco o encanto
A lua pinta
O céu aberto
Mancha de prata
O vermelho morto
E o meu vermelho
Pinta a água
Sem prata
Sem nada
Só eu
E minhas decisões.

Alexia Rodrigues
5º semestre de Escrita Criativa – [email protected]

Ela se salva sozinha

190EscritaCriativa(Foto2)Estava perdida, como se estivesse caindo no buraco da Alice, em uma queda sem fim. Os dias seguiam como uma tortura atrás da outra e, por mais que tentasse se erguer, acabava se atolando cada vez mais na areia. Sentia-se imóvel, em meio à vida turbulenta. Quebrada, sem conseguir unir seus pedaços, ela apenas sobrevivia. Olhando os ponteiros do relógio, que para ela se moviam sem sentido, rezava para que parassem. Perdeu sua essência, sua muiteza e bolinho nenhum ou pó de fada a fariam voar novamente pela turbulenta rotina da vida. Ela precisava de mais, precisava descer da torre sozinha, ver o mundo de outro ângulo. Era preciso derrotar o dragão que vivia dentro dela, mas não por um príncipe, e sim por ela mesma. Se libertar e ir em busca do amor próprio.

UM DIA ENFIM

Cansou dos longos períodos de sono sonhando com o beijo da felicidade e, de frente para o seu reflexo, respirou fundo, sem questionar se era bonita ou boa o suficiente. Desfez as tranças e desceu em busca do seu próprio eu, atrás do tão esperado feliz para sempre, mas sozinha. Ela ia fazer por ela: o mundo era seu e, em breve, descobriria que nenhum sapatinho de cristal ou abóbora seriam necessários para que encontrasse o seu caminho. Poderia comer quantas maçãs quisesse, pois nenhuma a derrotaria. Finalmente ela aprenderia a voar. Iria dançar pela vida até depois da meia-noite.

 

Lana Francielly
2º semestre de Escrita Criativa – [email protected]

Diabo na Terceira Pessoa

Amanheceu após uma viagem intranquila e sem volta. Maldita flor da trombeta, havia lhe retirado completamente a lucidez. Lembranças claras já não existiam mais, apenas um emaranhado de pensamentos misturados a um resto do que poderia ser real. Azul e verde eram cores que, por algum motivo, estavam frescas na sua mente. Sem entender muito bem o que aconteceu, reparou no que pareciam ser lamentos, mas era impossível descrever o que diziam essas vozes. Assustou-se ao perceber que não havia mais céu: mãos trêmulas e o corpo paralisado. A inexistência do céu foi uma agonia indescritível, a pior sensação de sua vida. Antes que pudesse se recuperar, percebeu a estranha criatura de fisionomia esquelética que se aproximava. Aos poucos, a figura foi ganhando forma, por mais que José desejasse que ela continuasse longe ou fosse embora. Quando pôde perceber o que estava a sua frente, sentiu pela primeira vez o horror. A criatura tinha uma forma humana, não possuía pele, e era assustadoramente magra, suas carnes podres, seus olhos não possuíam cor; apenas um vazio. Era impossível olhá-la nos olhos. O Diabo estava à frente de José. Ainda sem acreditar, tentou algo por impulso. Meteu as mãos nos bolsos procurando a única coisa que poderia acalmá-lo: a carteira de Malboro.
― Desista. Não encontrará o que procura.
José o encarou sem conseguir pronunciar nada.
― Não há cigarros, não há álcool, não há mulheres, não há amigos.
— Nenhum tipo de prazer, nem mesmo… dor. Nada do seu mundo. Os que aqui caem apenas ficam com a pior de todas as punições: a consciência dos seus atos. Esta, aliás, é a parte que mais me diverte, nunca ninguém sabe por que cai aqui, mas sempre acabam descobrindo. Eis então o espetáculo… o sofrimento é eterno.
Dito isso, desapareceu

Pedro Luiz Silva Menegotto
Letras – [email protected]

Poesia atual

190EscritaCriativa(Foto3)O efêmero dita o sentido das vidas.
O propósito encontrado na futilidade.
Um sonho faz buscar no fim do arco-íris
uma barriga negativa.
Resta o desencaixe.
É proibido questionar,
O sentido não faz mais sentido.
A bailarina sem pernas brilha menos
que uma estrela.
Na estação presente,
gritos, dor, ditam a melodia.
E, ainda assim,
o sol brilha,
mas poucos o veêm.
A lua mostra a sua face,
embora mais ninguém se interesse
em desvendá-la.
Na ausência da responsabilidade,
o crime governa.
Entre votos corrompidos,
a justiça cala.
Num Brasil que não se dá o respeito
de que adianta o apelo?
Lenine clama por paciência
com um martelo no peito,
sem tempo pra perceber a raridade da Vida
que nunca perde essa vontade bigorna.

Lê Mayer
3º semestre de Escrita Criativa – [email protected]

Produção experimental dos alunos do curso de Escrita Criativa e de Letras da PUCRS selecionada pelo professor Bernardo Bueno.