Construção Sustentável
Grupo de pesquisa da Faculdade de Engenharia testa alternativa à areia de rio na fabricação de concretos e argamassas. A areia é um recurso natural utilizado na construção civil e está entre as substâncias minerais mais consumidas no mundo, junto à pedra britada. Em cada quilômetro de linha de metrô, por exemplo, são gastas 50 mil toneladas desses agregados. Já um quilômetro de estrada pavimentada leva cerca de 9.800 toneladas. As informações são de relatório do Instituto Brasileiro de Mineração. O documento mostra que a demanda por esses materiais subiu de 460 milhões de toneladas para 673 milhões de toneladas num período de 14 anos, de 1997 a 2011.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 40 bilhões de toneladas de areia e cascalho são suprimidos do meio ambiente todos os anos. Conforme o Ministério de Minas e Energia, no Brasil cerca de 70% é removida de leitos de rios. Esta fonte natural não é um recurso inesgotável e sua extração em velocidade superior à capacidade de renovação pode gerar impactos profundos no meio ambiente.
SOLUÇÃO ALTERNATIVA
Uma saída poderia ser o uso de diferentes agregados na construção civil. Na Faculdade de Engenharia, o Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Engenharia Civil, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais, realiza pesquisa com resíduos gerados no processo de tratamento de água potável. “Hoje temos dois caminhos: evitar a geração de resíduos ou, havendo essa geração, reaproveitá-los ou descartá-los da melhor forma. Estamos no caminho do reaproveitamento e a construção civil é um setor que absorve bem mui- tos dos resíduos gerados por outras indústrias”, comenta o coordenador do grupo, professor Jairo de Andrade.
O lodo de estação de tratamento de água (ETA) pode ser empregado em concretos e argamassas. O material, coletado na Companha Riograndense de Saneamento, é queimado em temperatura elevada em laboratório e fica como uma espécie de areia. Atualmente, o grupo utiliza teor de 2,5%, 5%, 7,5% e 10% de ETA em substituição ao agregado miúdo natural no molde de concretos e argamassas para realização de ensaios.
“A potencialidade de uso existe, mas ainda temos um longo período de testes de resistência mecânica, de aderência, de desempenho, vida útil e ação do tempo, análises de microestrutura e ensaios de caracterização. Por fim, pretendemos testar em larga escala, em protótipos, mas para isso precisamos de subsídios técnicos mostrando que realmente vale a pena. No futuro, queremos passar o conhecimento para o meio técnico, entrar em contato com o Sindicato das Indústrias da Construção Civil no RS, com empresas, conquistar parceiros”, planeja Andrade.
Resultados iniciais
O grupo de pesquisa obtém os primeiros resultados, que mostram uma perda de resistência em relação ao agregado convencional, a areia. No entanto, o professor Jairo de Andrade ressalta que essa perda ainda tem valores de resistência acima do mínimo estabelecido pela ABNT. “Temos o ganho na parte ambiental e de sustentabilidade. Atual- mente, esse material teria aplicações com menor responsabilidade estrutural, como meio fio, pavimentos de calçadas, vergas e contra-vergas de janelas. Tudo indica que existe potencialidade para no futuro ser algo mais abrangente”, destaca.
O projeto começou há um ano e meio e deve ter duração de, ao me- nos, cinco anos para alcançar entendimento global do problema. “Normas técnicas guiam todo o trabalho de engenharia. Porém, a norma só prevê uso de agregado natural. A ideia é apresentar um conjunto de dados consistentes mostrando a potencialidade de uso do material como agregado alternativo, para avaliação. Se aprovado, seriam criadas normas para utilização em larga escala em determinados processos, como o revestimento. É um longo caminho”, prevê o professor.
O grupo de pesquisa é multidisciplinar em engenharia civil. Composto por alunos de mestrado, graduação por meio de iniciação científica e professores, conta até com uma estudante voluntária.