O cão Buzz alegra as crianças no projeto Pet Terapia

Ação SocialFotos: Bruno Todeschini

Buzz encanta pacientes e funcionários

Visita do cachorro é uma das soluções terapêuticas na Pediatria do Hospital São Lucas

POR ANA PAULA ACAUAN

O cachorro Buzz não sabe. Mas cada vez que chega ao Hospital São Lucas é recepcionado com algum presente. Na primeira vez, na entrada da sala da recreação, havia uma árvore de balões enfeitados com ossinhos de papel. Na visita seguinte, estavam esperando por ele duas  cartinhas das crianças internadas na Pediatria. O projeto Pet Terapia mal começou (teve início em julho) e os resultados são sentidos nos olhos brilhando dos pequenos e na alegria pelos 40 minutos passados fora da rotina. O vira-lata de dez anos, astro de comerciais, atrai a atenção também de funcionários.

Uma vez por mês, os pacientes liberados pelos pediatras, suas mães e acompanhantes vivem momentos de descontração. Ao comando do adestrador Jone Cardoso, o cachorro sobe e desce de um pufe, rola pelo chão, posa para fotos, passeia, dá a pata, reza e faz contas (cada latido vale um número).

A pedagoga Juliana Pierdoná aposta que esse tipo de iniciativa ajuda na recuperação dos internados. O setor de Recreação buscou parceria com o Instituto do Câncer Infantil, que acompanha o trabalho em outros hospitais, e a empresa Hercosul, responsável pela vacinação e controle de infecções de Buzz.

ONDE PODEM DIZER NÃO

A pedagoga programa atividades para os turnos da manhã e tarde, buscando situações em que se aprende brincando. Utiliza música, jogos pedagógicos, recursos gráficos, sucata e tinta para tornar o dia mais produtivo.

“O objetivo é melhorar o humor, resgatar a autoestima e a alegria perdida e diminuir a ansiedade”, aponta. Porém, se as crianças não se sentem à vontade para cumprir o que é proposto, podem recusar. “Impedidas de dizer não para o exame e a medicação, aqui é importante que desenvolvam a autonomia.” Enfermeiros e técnicos sabem que aquele é o espaço dos pacientes. Não podem fazer procedimentos nem examiná-los. “Nesse espaço, o prazer está em primeiro lugar”, destaca Tia Jú.

Também há acompanhamento escolar. A pedagoga pede os conteúdos para a escola, ajuda as crianças a estudar e aplica as provas. Tudo depende do interesse dos pais e, principalmente, dos pacientes. “Às vezes, eles não estão em condições. Precisamos sentir o que é melhor.”

No espaço, o prazer de brincar está em primeiro lugar

“ATÉ AS PAREDES CHORARAM”

Alguns ficam hospitalizados durante meses, outros têm uma doença terminal e há quem passe por tudo sozinho, sem os familiares. Um deles ficou dos seus cinco aos 11 anos de vida no Hospital desacompanhado, mas tratado com muito carinho e atenção.

Outra paciente foi internada aos 11 com tumor de pâncreas. Na primeira semana de quimioterapia, perdeu o cabelo. Pegava papel crepom da recreação, molhava e pintava a careca. A toda hora mudava a cor e combinava acessórios. Como dançava, Tia Jú entrou em contato com a patroa do CTG de Cachoeirinha para uma Festa Junina especial. Conseguiu transporte para o peão ir ao Hospital uma vez por semana ensaiar com a menina. No dia, as prendas estavam com um lenço na cabeça e ninguém sabia dizer quem era a doente. “Até as paredes choraram.”

A pedagoga acompanhou o 5º ano da paciente. Uma professora se recusou a enviar a prova. Tia Jú foi investigar o motivo e recebeu como resposta: “Acha que vou perder meu tempo com quem está morrendo?” Sem esmorecer com a crueldade, preparou ela mesma o teste, com o cabeçalho da escola. A menina nunca soube. Passou para o 6º ano. Morreu em abril de 2002. Entre idas e vindas, completou um ano e dois meses de internação. “Ela me ensinou a sempre lutar e sentir alegria por estar viva”, emociona-se.

A pequena Maria Rafaela vibra com a chegada de Buzz

Matando a saudade

Maria Rafaela Leite, 4 anos, era só alegria na sala da recreação. Andava de um lado para o outro em busca de brinquedos, mesmo presa ao soro. Quando Buzz chegou, o contentamento triplicou, pois pôde matar a saudade dos cinco cachorros que tem em casa. “Assiste à TV, mas gosta de correr e mexer nas coisas”, relata a mãe, Juliana Souza, que, desde o diagnóstico de epilepsia da filha, vive para ela. De manhã, à espera dos médicos, Rafaela precisa ser contida para ficar no leito. De tarde, um mundo inteiro se abre.

 

Um lugar para brincar e sorrir

Quem entra na sala da recreação da Pediatria do Hospital São Lucas e vê um ambiente colorido, cheio de trabalhos manuais e brinquedos até pensa que está em uma escola. Por instantes, nesse clima, pais e crianças conseguem esquecer a dor e o sofrimento. A pedagoga Juliana Pierdoná, conhecida como Tia Jú, acredita que as festas comemorativas e as atividades rotineiras geram benefícios terapêuticos aos pacientes e resultam na sua melhora integral.

Dois murais cheios de cartas, convites e fotos comprovam que os momentos compartilhados no ambiente fizeram a diferença. Com frequência, Juliana recebe as crianças (ou já adultos) que estão em consulta no ambulatório ou passam no Hospital para um abraço. “Eles vêm me apresentar a namorada ou pedir que reze porque vão tirar a carteira de motorista”, conta.

 

Tia Jú: “Preciso fazer o melhor que posso por elas

Tia Jú, afeto e cuidado

Juliana Pierdoná é pedagoga formada pela PUCRS, com especialização em Psicopedagogia, também pela Universidade. Trabalhou no Colégio Santa Inês, de Garibaldi, onde nasceu, e depois na Creche Sobradinho Alegre, em Porto Alegre. Em 1999, começou no Hospital São Lucas. “Sempre que algum aluno estava com fome ou faltava material, eu comprava. Aqui não tenho como suprir a principal necessidade das crianças – a saúde. Então preciso fazer o melhor que posso por elas.”

Tia Jú sabe os nomes de todos os pacientes. Quando ingressou no Hospital, o setor tinha uma dúzia de brinquedos. Hoje a sala está lotada com material escolar – fornecido pela instituição –, jogos diversos, motinhos, casinhas de bonecas e videogames. O local aceita doações. A cada oportunidade, convoca amigos, ex-colegas e funcionários a colaborar com presentes ou suas habilidades, como cantar, tocar ou encenar.

Seu poder de mobilização não tem limites. A festa de Natal, que sempre ocorria no hall da Pediatria, passou a ser no Anfiteatro Ir. José Otão, para 170 crianças (com 230 cartas atendidas). Este ano, Tia Jú reservou o Parque Esportivo.

Cartas de paciente e familiar

Tia Jú, a bruxinha boa da PUCRS

Você, Tia Jú, é a bruxa que faz a magia do amor e, com o brilho dos teus olhos, transforma tristeza em alegria, lágrimas em risos, pesadelos em sonhos maravilhosos. Uma bruxa em forma de gente, uma gente em forma de anjo que Deus colocou neste mundo para torná-lo bem melhor. Nós te amamos.

Lori e Fabi

 

Oi, gata garota

Com o coração partido, quero te dizer obrigada e te amo… Muitas vezes cuidaste de mim sem pedir nada em troca, gastou teu tempo comigo e com os da minha casa sem esperar nada de mim, amou o meu bem mais precioso sem nem pedir licença e conhecer. Esse apoio me fez levar sempre alegria para o meu Vini, nunca pensar no que poderia acontecer. Vou me preparar para encontrá-lo. Grande abraço

Lu