Pesquisas científicas são fundamentais para preservação da biodiversidade no bioma
Representando dois terços das florestas naturais do Brasil e cobrindo quase 50% do território brasileiro, a Amazônia é o maior bioma do País. Com extensão aproximada de 421 milhões de hectares, sendo a principal floresta tropical do mundo, o ecossistema concentra uma vasta biodiversidade. Celebrado nesta segunda-feira, 5 de setembro, o Dia da Amazônia busca alertar para a necessidade de preservação do bioma, um dos mais valiosos patrimônios naturais da humanidade.
Essencial para o equilíbrio climático, a Amazônia contribui para a manutenção e distribuição da umidade em todo o continente.
“As árvores da floresta retiram água da terra para uso no metabolismo em todas as partes da planta. A água é levada até as folhas, onde é liberada na atmosfera em forma de vapor. Esse vapor concentrado acima das copas das árvores, aliado à umidade que vem dos oceanos, forma o que conhecemos como ‘rios voadores’, responsáveis pela distribuição da umidade acumulada. Esse fenômeno cria situações interessantes, como a ausência de desertos ao leste da Cordilheira dos Andes, por exemplo, onde se esperaria que ocorressem formações desérticas semelhantes às dos demais continentes”, explica o professor Pedro Maria Abreu Ferreira, docente da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e coordenador científico do Centro de Pesquisas e Conservação da Natureza Pró-Mata.
Ferreira também destaca que a redução contínua de área florestal, provocada pelo desmatamento, pode levar a consequências catastróficas, além de gerar alterações na dinâmica de umidade. “Com a redução do número de árvores, o efeito de translocação da umidade do solo para a atmosfera será reduzido, bem como o efeito de atração de umidade oceânica que a floresta como um todo promove. O aporte de chuva proveniente dos rios aéreos, principal fonte de umidade para muitas áreas importantes para as atividades de agricultura, por exemplo, reduzirá ou até mesmo cessará. Não sabemos quando isso acontecerá, ou o quanto de floresta pode ser removida sem que isso ocorra. Mas, quando ocorrer, estaremos possivelmente em um ponto sem retorno, com consequências continentais”, alerta o professor.
De acordo com levantamentos do Mapbiomas, entre 1985 e 2019, a perda líquida de cobertura de floresta na Amazônia foi de 44 milhões de hectares – o equivalente a 9,5 vezes a área do estado do Rio de Janeiro.
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Pesquisador do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, Ferreira ainda aponta que a produção científica é primordial para expandir o conhecimento sobre o ecossistema e a biodiversidade. “As reduções drásticas no financiamento à pesquisa que estão ocorrendo sistematicamente no Brasil só contribuem para a perda cada vez mais acelerada de áreas naturais, incluindo a Floresta Amazônica. Para utilizarmos o potencial dos ecossistemas, precisamos conhecê-los. Para conhecê-los, precisamos pesquisá-los.”, enfatiza Ferreira.
Segundo o professor, a ciência conhece apenas uma pequena fração de toda a biodiversidade amazônica. Ele também destaca muitas das espécies que estão neste momento sendo extirpadas da natureza pelo desmatamento ou pelas queimadas relacionadas não são conhecidas, ou seja, nunca foram coletadas e formalmente descritas.
“Além de seu valor intrínseco, esta biodiversidade desconhecida tem um valor potencial inestimável no sentido de uso pela sociedade humana. Novos fármacos, cosméticos, e materiais de interesse para a engenharia são apenas alguns exemplos dos potenciais de aplicação”, aponta.
Além da atuação científica, a ação e participação da sociedade é indispensável para a preservação. “Há diversas organizações nacionais e internacionais que têm como principal objetivo a conservação da biodiversidade da Floresta Amazônica. Participar ativamente destes grupos é um caminho. Mas, antes disto, penso que o mais importante seja buscar informação. Só se conserva o que se conhece”, comenta Ferreira. Além de contar com pesquisadores que realizam estudos sobre o bioma, a PUCRS também possui iniciativas diretamente relacionadas à Floresta Amazônica, vinculadas ao Projeto Rondon.
O coordenador do Pró-Mata explica que a floresta abriga animais que são reservatórios naturais de organismos potencialmente patogênicos para humanos. Segundo o professor, a fragmentação da floresta potencializa o contato humano com estes animais, aumentando a probabilidade de transmissão desses patógenos.
“Todos os grandes surtos de infecção viral que ocorreram nos últimos anos, incluindo a pandemia por coronavírus, derivaram de eventos iniciais de transmissão de animais silvestres para humanos. A próxima pandemia pode estar sendo liberada lentamente pela redução das nossas florestas, e só vamos ter poder de nos anteciparmos a eventos deste tipo com o conhecimento gerado pela pesquisa científica”, ressalta.