Etnomatemática: estudos propõem novas abordagens para o ensino da disciplina

Professora e pesquisadora da Escola Politécnica, Isabel Lara possui uma longa trajetória de estudos que visa reconhecer e compreender o modo como um saber matemático foi gerado

08/02/2022 - 11h40
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GEPEPUCRS desenvolve estudos voltados para as possibilidades para a implementação da Etnomatemática como método de pesquisa e ensino na Educação Básica / Foto: Pexels

No mundo atual, marcado pelos processos de globalização e avanços tecnológicos na informação e comunicação, debates sobre diversos temas têm ganhado espaço. Entre eles, a busca por novas abordagens sobre o ensino tradicional de diferentes áreas do conhecimento. Presente no nosso dia a dia em muitos contextos, a Matemática é uma das disciplinas as quais pesquisadores têm se dedicado a estudar novas formas de ensino.

No Grupo de Estudos e Pesquisa em Etnomatemática na Escola Politécnica da PUCRS (GEPEPUCRS), estão sendo desenvolvidas pesquisas com o objetivo de apontar diferentes possibilidades para a implementação da Etnomatemática como método de pesquisa e ensino na Educação Básica. O grupo surgiu por iniciativa da pesquisadora do Programa de Pós-graduação (PPG) em Educação em Ciências e Matemática Isabel Cristina Machado de Lara.

“A Etnomatemática é uma tentativa de descrever e entender as formas pelas quais ideias são compreendidas, articuladas e utilizadas por outras pessoas que não compartilham da mesma concepção de Matemática”, comenta a pesquisadora.

Sobre a Etnomatemática

A Etnomatemática surgiu na década de 1970, como uma contraproposta do ensino tradicional de Matemática. É um método de pesquisa e de ensino que cria condições para que o pesquisador reconheça e compreenda o modo como um saber matemático foi gerado, organizado e difundido dentro de determinados grupos culturais.

É uma metodologia de pesquisa que possibilitam que pesquisadores identifiquem a presença da Matemática em diferentes culturas e contextos. A professora Isabel explica que tal compreensão possibilita uma reflexão destes saberes que foram ou não legitimados na perspectiva da Matemática Escolar.

As etapas de metodologia

Em sua trajetória de pesquisas com o GEPEPUCRS em Etnomatemática, a professora Isabel propõe uma metodologia de ensino que se guia a partir das três seguintes etapas: Etnografia, Etnologia e Validação.

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Campo de estudo visa compreender os saberes matemáticos de diferentes culturas / Foto: Pexels

Na primeira etapa, o pesquisador estabelece uma conexão com o grupo ou membros do grupo que será investigado para levantar dados sobre os saberes culturais e matemáticos desse grupo em relação aos fazeres cotidianos. Por meio de observações, entrevistas e narrativas, torna-se possível compreender a realidade e as práticas do grupo.

Com isso, parte-se para a realização da Etnologia, quando o pesquisador compara as informações coletadas na etapa anterior e relaciona os saberes matemáticos e culturais do grupo estudado com as propostas de ensino da Matemática Escolar. Neste momento, é possível identificar as diferenças e aproximações entre a matemática tradicional aprendida nas escolas com a matemática praticada dentro daquele contexto.

Assim, na etapa final de Validação, o pesquisador interpreta os dados coletados e define quais são usos matemáticos dentro de cada forma de vida. Para então, validar as diferentes manifestações de conhecimento cultural e matemático daquela realidade.

“Com esta trajetória de pesquisas que estão sendo construídas no grupo, tornou-se possível considerar a Etnomatemática como um método de ensino para Educação Básica, que pode criar condições que possibilitem aos professores e estudantes refletirem acerca de modos de matematizar que muitas vezes são deixados de lado e desqualificados, mas que podem estar presentes em formas de vida muito próximas à realidade em que estão inseridos” complementa a pesquisadora Isabel.

Pesquisas visam entender saberes e culturas

Desde 2012, quando surgiu o grupo GEPEPUCRS, foram concluídas dez pesquisas realizadas por alunos e alunas de mestrado, com orientação da professora Isabel. Nos projetos, os estudantes puderam trazer à tona o modo como alguns saberes foram marginalizados pela Matemática Escolar e, com isso, propor novas práticas de reparação dessas culturas por meio da Etnomatemática.

Como por exemplo, a pesquisa da aluna Mayara de Araújo Saldanha, do GEPEPUCRS, intitulada Histórias de Pescadores: uma etnomatemática sobre os saberes da pesca artesanal da Ilha da Pintada – RS. A estudante realizou uma etnografia, considerando a Etnomatemática como um método de pesquisa, com entrevistas de três pescadores artesanais. Com isso, evidenciou que os saberes matemáticos deste grupo não estão vinculados à frequência escolar, mas sim, das distintas situações diárias da prática da pesca, da necessidade de otimizar recursos e da prática de industrializar e comercializar seu trabalho.

Além disso, de acordo com a professora, uma das pesquisas desenvolvidas, fundamentada em Wittgenstein (filósofo austríaco), mostra que a Etnomatemática possibilita que as condições de significado dos conceitos matemáticos abordados durante o Ensino Superior ocorram quando o estudante conhece diferentes usos desses conceitos em seus respectivos cursos de graduação ou futura profissão.

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