Estudo realizado por estudantes de Publicidade e Propaganda, sob orientação do professor Ilton Teitelbaum estuda a influência das redes sociais na pressão estética
Que mulher nunca quis ter o corpo dos sonhos? A pressão estética afeta mulheres desde a infância, fazendo com que passem a viver relações complexas com seus próprios corpos. As redes sociais estampam a vida perfeita: imagens editadas semelham a vida real e é cada vez mais difícil ver pessoas sem filtros. De que forma isso impacta na percepção do gênero feminino sobre si mesma? Tentando encontrar essas respostas, estudantes do curso de Publicidade e Propaganda elaboraram a pesquisa Mídias Sociais e a Relação das Mulheres com a sua Aparência.
Se anteriormente o ideal de corpo era de modelos que estampavam as capas de revista, hoje em dia os influenciadores das redes sociais ocupam esse papel. “Recebo pacientes que chegam com fotos de si mesmos com filtro e falam ‘eu quero ficar com a boca assim’. Em muitos casos, são bocas impossíveis de serem feitas”, comenta a cirurgiã plástica Renata Vidal, em entrevista à revista Elle.
“Antes, as formas de comunicação eram muito mais tranquilas. Era uma revista, a televisão… Eram itens que faziam parte do entretenimento das pessoas, mas existia um certo afastamento, você sabia que eram celebridades. Era algo inalcançável. Hoje em dia, com acesso facilitado para a comunicação em rede, a gente percebe que a Natália, de Porto Alegre, se compara com a Kylie Jenner, que tem idade semelhante, mesmo que as realidades sejam muito diferentes, e começa a querer ser como ela”, explica Natália Manquevick, uma das responsáveis pelo estudo.
O grupo percebeu que o Instagram é a rede social mais utilizada pelas mulheres que participaram do estudo e três pontos induzem a busca por procedimentos estéticos:
Embora as mulheres sigam celebridades que falam abertamente sobre os procedimentos realizados por elas, são pessoas do seu próprio ciclo social que têm a maior influência sobre as decisões. Nesse caso, pessoas famosas servem como inspiração e conhecidos que já ocuparam o posto de pacientes atuam como “especialistas por experiência”.
Tainá, de 34 anos, mesmo sem cirurgia, já pensou em fazer uma rinoplastia. Sua insatisfação com o nariz surgiu ainda durante a infância:
“Minha mãe brincava de apertar o meu nariz, ela vinha ‘deixa eu apertar para afinar ele’, eu achava engraçadinho, porque era criança. Hoje em dia, percebo que desde lá já era uma negação ao aspecto da pele, da genética, das nossas origens”, conta.
Acredita-se que as insatisfações das mulheres com a aparência e o corpo são mais expressivas pela influência e o impacto de vivências passadas na infância e na adolescência. Nessa fase, em que a pessoa ainda está desenvolvendo sua personalidade, críticas e apontamentos feitos pela família têm impactos permanentes na autoestima.
As mídias sociais são responsáveis por expandir essas inseguranças e ampliar essa pressão estética, pois os filtros possibilitam corrigir aspectos físicos que causam incômodo e, a partir da satisfação com a imagem alterada, a possibilidade de corrigir verdadeiramente essas imperfeições se torna mais real.
Tanto na fase qualitativa quanto na quantitativa da pesquisa participaram mulheres de 18 a 34 anos divididas em dois grupos geracionais: as mais novas, entre 18 e 24 anos, e as mais velhas, entre 25 e 34. Algumas diferenças entre ambas as faixas etárias ficaram em evidência, como:
Alguns aspectos, no entanto, se mostraram um consenso entre a maioria das entrevistadas ou respondentes da etapa quantitativa, independentemente da idade:
Com a pandemia, as pessoas passaram a se enxergar mais pelas telas, intermediadas por filtros, o que impactou muito na percepção das mulheres sobre si mesmas. Pesquisadores dos EUA já identificaram o que foi denominado dismorfia do Zoom, ou seja, uma ansiedade sobre a aparência individual causada pelas chamadas de vídeo.
Além disso, a possibilidade de trabalhar de casa durante o pós-operatório foi um dos impulsionadores para que mulheres realizassem intervenções cirúrgicas para modificar o rosto ou o corpo.
A maior parte das respondentes da etapa quantitativa da pesquisa acredita que esse mercado se expandirá no futuro, com um aumento na busca e na realização desses procedimentos. No entanto, apesar da pressão estética ser sentida pela maioria delas, a minoria das participantes do estudo realizou algum procedimento, embora as mais novas tenham pretensão de fazê-lo. A falta de desejo não é o principal agente desmotivador para essas intervenções, mas, sim, os altos valores das cirurgias e o medo de erros médicos e dos riscos.
O estudo Mídias Sociais e a Relação das Mulheres com a sua Aparência foi elaborado no primeiro semestre de 2021 dentro na disciplina de Projeto de Pesquisa de Mercado em Publicidade e Propaganda, sob orientação do professor Ilton Teitelbaum, pelas estudantes Ana Aguiar, Gabriela Machado, Maria Bitencourt e Natália Manquevick.
Para Natália, foi importante realizar essa pesquisa para compreender que o público não é homogêneo e que cada pessoa possui sua individualidade. Ainda, complementa que um dos motivos para a escolha do tema foi que as pesquisadoras não desejavam ser coniventes com a pressão estética, tornando importante compreender de que forma ela ocorre e quais são suas consequências na sociedade.
Após um mapeamento inicial da problemática, as estudantes realizaram a etapa qualitativa da pesquisa, que contou com entrevistas em profundidade com jovens de 18 a 34 anos com e sem procedimentos estéticos, a psicóloga Susana Gib, a cirurgiã plástica Gabrielle Adames e a “especialista por experiência” Jeane Pereira. Por fim, a etapa quantitativa teve 253 mulheres respondentes, moradoras de Porto Alegre e Região Metropolitana e pertencentes à faixa etária analisada.
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