358 aparelhos apreendidos na rede prisional e entregues à PUCRS pelo MP já passaram pelo Laboratório de Projetos em Engenharia
Por meio de um convênio assinado no início do ano, a PUCRS e o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MP/RS) estão restaurando centenas de celulares que são disponibilizados para estudantes da rede pública de ensino que não têm recursos para acompanhar as aulas remotas no contexto da pandemia. Os aparelhos, que são preferencialmente smartphones, foram apreendidos na rede prisional e passam por uma triagem feita no Laboratório de Projetos em Engenharia (LPE) da Escola Politécnica.
Até o momento, o LPE já recebeu 358 aparelhos para a análise. Após passar pela revisão inicial do hardware, higienização adequada e formatação para excluir todos os dados, técnicos/a e estudantes que atuam no laboratório fazem a instalação dos aplicativos que são necessários para o acesso às aulas.
O professor Anderson Terroso, responsável na PUCRS pelo andamento do projeto do MP, nomeado de Alquimia II, explica que o objetivo é ajudar a diminuir as barreiras das desigualdades sociais que foram enfatizadas pela pandemia: “Antes os pais ou responsáveis pelos alunos tinham que ir até a escola e buscar os materiais impressos para que eles pudessem fazer as atividades”.
A retomada da vida em sociedade pós-pandemia passa por diferentes áreas. A tecnologia, por sua vez, tem o papel democrático fundamental de aproximar a informação e o conhecimento que às vezes parece distante de quem mais precisa. E a atuação de estudantes nesse momento é um dos principais fatores que viabilizam as ações solidárias.
Essa é uma prática comum em sala de aula na Escola Politécnica, que alinha o conhecimento acadêmico com iniciativas que ajudam a melhoras a vida das pessoas. É o exemplo do Aplicativo Adoção, desenvolvido também em parceria com o MP, e que até agosto de 2020 já havia ajudado 38 crianças e adolescentes a encontrarem novas famílias.
Para o reitor, Irmão Evilázio Teixeira, o papel da Universidade vai muito além dos muros do Campus. “A educação superior deve almejar a criação de uma nova sociedade em que as desigualdades sociais não sejam normalizadas. Isso passa também por atuar de forma a impactar positivamente a vida da comunidade em que está inserida, olhando desde a base do ensino até o acesso à profissionalização. No contexto da pandemia, não apenas nossos profissionais, mas nossos estudantes de diferentes áreas, para além da saúde, têm tido um papel muito importante na busca de soluções que resolvam os problemas que estamos vivenciando hoje”, destaca.
Segundo o procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, a parceria com a PUCRS é um exemplo de como cada um pode fazer a sua parte pela mudança social: “Para além da questão tecnológica em si, a sociedade demanda organizações menos burocráticas e mais flexíveis e orientadas a resultados. Ninguém almeja mudar a realidade sozinho. Precisamos aprofundar programas de cooperação, somando inteligências corporativas para fazer mais e melhor com a nossa legislação”.
O promotor de Justiça Fernando Alves, formado em Direito pela PUCRS, foi o idealizador do projeto. Ele conta que graças à parceria, o que era apenas uma ideia se tornou um projeto duradouro. “O Alquimia II é uma forma única de colocar a estrutura da Universidade e o sistema de justiça juntos nessa luta. O projeto iniciou de modo temporário e artesanal, mas teve grande impacto social com a participação e o conhecimento técnico da comunidade acadêmica”, acrescenta.
Grande parte dos/as especialistas da área da Educação defendem a continuidade da adaptação das aulas na modalidade online para evitar a proliferação da Covid-19. Por isso ações como o projeto Alquimia II são tão importantes. Ao mesmo tempo que ajudam a levar internet a locais antes sem acesso, permitem que crianças e adolescentes aprendam de casa.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 5,5 milhões de alunos e alunas tiveram problemas para estudar em 2020, devido às dificuldades de implementação do ensino remoto no Brasil. Em março, o Banco Mundial projetou que o número de estudantes no ensino fundamental que não conseguem ler ou compreender textos simples pode aumentar de 50% para 70% no País.