Estudos apontaram que falta de oxigênio na água tem causado a morte de peixes
Desenvolvido pelo Instituto do Meio Ambiente da PUCRS (IMA), o monitoramento permanente do Arroio Dilúvio é realizado desde junho deste ano de forma mensal em cinco pontos ao longo da Avenida Ipiranga, entre a Avenida Antônio de Carvalho e a foz com o Lago Guaíba. Após a coleta das amostras, a água é analisada pelo Laboratório de Processos Ambientais (LAPA), da Escola Politécnica da PUCRS, e pelo Centro de Pesquisa de Toxicologia e Farmacologia (INTOX), da Escola de Ciências da Saúde e da Vida. As análises possibilitam o diagnóstico da qualidade ambiental dentro do ecossistema do Arroio e podem servir como base para identificar quais as redes de drenagem que apresentam maior carga de poluição orgânica e que necessitariam de intervenções prioritárias.
Mau cheiro e morte de peixes
Na última quinta-feira, dia 5 de dezembro, um acúmulo de algas foi observado em um trecho final do Dilúvio na Avenida Ipiranga. De acordo com o diretor do IMA, o professor Nelson Ferreira Fontoura, este fenômeno acontece principalmente no verão pela falta de chuvas e diminuição do nível do Arroio, que causam a proliferação de algas sobre os sedimentos de fundo, as quais se desprendem em blocos na forma de placas flutuantes. Estas, expostas ao Sol e à dessecação, acabam se deteriorando, liberando o mau cheiro.
Outro acontecimento que chamou a atenção para as águas do Dilúvio foi o aparecimento de dezenas de peixes mortos. Os animais já tinham sido vistos na superfície em novembro e reapareceram no início deste mês. Segundo Fontoura, os estudos do IMA apontaram que a principal causa das mortes é a baixa concentração de oxigênio na água, que ocorreria especialmente nas madrugadas mais quentes. Além disso, ele ressalta que a poluição contribui para a degradação ambiental do ecossistema do Arroio.
“Identificamos, como já esperado, uma concentração muito elevada de coliformes fecais, os quais já estão presentes na Avenida Antônio de Carvalho, confirmando que já temos uma elevada carga de poluição orgânica vinda do bairro Agronomia e de Viamão. Temos também metais pesados, como mercúrio, zinco, cobre e níquel, que aparecem em concentrações elevadas nos sedimentos. Embora não tenhamos informação da origem dos mesmos, existe contribuição expressiva do desgaste de discos e pastilhas de freio de automóveis, que geram uma fuligem metálica que é lavada pela chuva e conduzida ao Dilúvio pelo sistema de drenagem urbana”, explica.
Recuperação ambiental
O monitoramento realizado pelo IMA propõe um diagnóstico a longo prazo sobre a evolução da qualidade ambiental do Arroio. Para Fontoura, a solução dos problemas recorrentes necessita de ações efetivas. “A resolução dos problemas ambientais do Dilúvio passa por profundas intervenções no sistema de drenagem urbana, com necessidade de separação total da rede de esgoto cloacal, que já sofre tratamento, da rede de esgoto pluvial, que drena para o Arroio”, aponta o professor.
Fontoura ainda destaca que a ocupação irregular do solo urbano em áreas de proteção ambiental junto aos arroios formadores do Dilúvio é um problema que contribui diretamente para a poluição do Arroio. “Esta população de baixa renda, que ampliou a ocupação de morros e encostas ao longo de muitos anos, não tem acesso à rede de esgoto, e o recolhimento de lixo não é o suficiente. Neste caso, o esgoto das residências e o lixo são lançados diretamente nos arroios, chegando ao Dilúvio. A solução deste problema vai exigir um plano de governo que ultrapasse uma única administração, pois serão necessários recursos da ordem de bilhões de reais e uma sucessão de administrações municipais comprometidas com este objetivo, até que se resolva definitivamente o passivo ambiental já instalado”, afirma.