“Devemos fortalecer nossa identidade”

Novo Reitor convida comunidade a se engajar numa causa comum

Por: Revista PUCRS

09/12/2016 - 13h06

O novo Reitor da PUCRS, Evilázio Teixeira, assumiu o cargo nesta sexta-feira, 9 de dezembro, no Centro de Eventos da Universidade, prédio 41 do Campus. Na mesma ocasião, o diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer/RS), Jaderson Costa da Costa, assumiu como Vice-Reitor. Teixeira concedeu uma entrevista para a Revista PUCRS, quando falou sobre sua vocação, seu jeito amoroso, inquieto e disciplinado, a missão de servir à Igreja e à Universidade e o desafio de manter o legado de Marcelino Champagnat, fundador do Instituto Marista, baseado no espírito de família e na simplicidade. “Gosto muito de uma expressão: ‘A PUCRS é a nossa casa’. Isso implica que temos uma causa comum e podemos fazer a diferença”, afirmou, ao estimular o maior engajamento da comunidade universitária. “Nós temos que retomar e fortalecer, cada vez mais, num mundo plural e aberto, a nossa identidade”.

Nascido em Vacaria (RS) em uma família de 11 filhos, Ir. Evilázio tem três bacharelados (Teologia, Filosofia e Direito), duas licenciaturas, dois mestrados e dois doutorados (um em Teologia e outro em Filosofia, feitos na Itália), além de cursos de gestão universitária, com estágio no Canadá e, mais recentemente, de Liderança e Negócios na Universidade de Georgetown (Washington, EUA). Sobre seu perfil na administração, adianta que trabalhará com muito diálogo e empenho.

Está na PUCRS há duas décadas. Sua atuação como diretor do Centro de Pastoral e Solidariedade ficou marcada pelo dinamismo. Foi vice-reitor nos 12 anos de gestão do Ir. Joaquim Clotet, quando coordenou o planejamento estratégico e a reorganização administrativa. Acompanhe as apostas do novo reitor para o futuro da Instituição.

Evilázio Teixeira

Foto: Bruno Todeschini – Ascom/PUCRS

Qual o legado do reitor Clotet?

Trabalhei com o Ir. Joaquim Clotet ao longo desses 12 anos. Partilhamos uma missão em comum, dentro do Instituto Marista. Ele nos deixa um grande legado. Em sua gestão, a PUCRS deu um salto qualitativo importante. Grandes personalidades nas áreas da ciência, da política, do meio empresarial e de outros tantos setores vêm aqui e saem impressionadas com a Instituição. O reitor projeta a PUCRS para o mundo e o traz para a Universidade. Outra dimensão é o empreendedorismo e a inovação. Em 2004, quando ele colocou isso como prioridade, levou um tempo para a comunidade se dar conta do que isso significava. Também se preocupou com a excelência, de modo especial, na pesquisa – que cresceu muito. A Universidade se coloca entre as primeiras no ranking nacional e está muito bem na América Latina e no mundo.

 

Como inspirar mais alunos e professores a assumirem atitudes empreendedoras? Como fazer com que a sociedade se beneficie do que é produzido na PUCRS?

Trabalhamos com o binário empreendedorismo e inovação. Empreendedorismo é o processo de transformar sonho em realidade e desenvolvimento. Sobre inovação, um grande inovador chamado Thomas Edison diz que é 1% inspiração e 99% transpiração. Uma cultura de inovação tem que ser de disciplina e de trabalho. Entendo que estamos prontos para dar esse salto. O grande desafio para a Universidade do século 21 será a empregabilidade. O profissional do futuro não tem que buscar emprego, deve criar mais empregos, dentro dessa perspectiva de desenvolvimento e melhoria da sociedade. Empreendedorismo e inovação precisam obrigatoriamente fazer parte da nossa pauta.

 

Quais suas prioridades?

A primeira é dar continuidade a projetos em andamento do planejamento estratégico – 2016-2022 e terminar de implementar e consolidar a reformulação acadêmica da estrutura organizacional do modelo de gestão e governança. Precisamos avançar e buscar a excelência em todas as nossas ações. A outra questão importante no patamar a que chegamos e neste mundo globalizado é a internacionalização. Também se faz importante a inovação e o desenvolvimento, que é o nosso posicionamento estratégico para os próximos anos. O conhecimento deve ter incidência na sociedade. Para fazer tudo isso, é preciso integridade e solidez econômico-financeira.

 

Como está a PUCRS hoje?

Dentro do cenário que vivemos no Brasil e no segmento comunitário e confessional, está bem, merecendo alguns pontos de atenção. Aumentou significativamente o número de Instituições de Ensino Superior, e o poder aquisitivo das pessoas diminuiu, dificultando o acesso. Temos de ser espartanos em termos de gastos. Precisamos fazer os ajustes necessários e isso exige uma corresponsabilidade de todos. Não conheço um reitor que não tenha essa preocupação. A integridade econômico-financeira ajudará a garantir não só investimentos necessários, mas também um ambiente saudável.

 

Qual a outra prioridade?

É a questão dos valores, da alma e da missão da Instituição. Nossa visão de mundo se inspira na tradição humanista cristã. Aqui entram a inspiração primeira do fundador Marcelino Champagnat, que originou o carisma marista, visando a um compromisso com a formação integral e cidadã. Valores como o amor ao trabalho, sentimento de pertencimento e, obviamente, uma proposta que não apenas ofereça uma formação técnica e profissional, mas também sentido de vida e comprometimento na construção de um mundo melhor, querem ser o diferencial da Universidade. A missão é inegociável. Nesse sentido, a da PUCRS é clara: “Fundamentada nos direitos humanos e nos princípios do cristianismo e na tradição educativa marista, tem por missão produzir e difundir conhecimento e promover a formação humana e profissional, orientada pela qualidade e pela relevância, visando ao desenvolvimento de uma sociedade justa e fraterna”. A missão deve ser a nossa carta magna e nossa cláusula pétrea.

 

O processo de reorganização administrativa está se concretizando com a criação das Escolas. Como essa fusão de cursos e estruturas poderá se refletir em interdisciplinaridade?

Esse trabalho tem a ver com um estudo de cenários em relação ao mundo e por onde estão indo as melhores universidades. A grande pergunta que estava por trás: o que podemos fazer para garantir a perpetuidade da Instituição e consolidar a sua excelência? Ao longo de três anos, nos demos conta de que a verdadeira reorganização da PUCRS não é simplesmente ligada à administração, mas acadêmica, trabalhando por área de conhecimento e proporcionando uma formação mais completa ao estudante. O futuro aponta para uma interdisciplinaridade efetiva em todas as áreas do conhecimento. As Escolas vão contribuir muito para isso. Aí tem um elemento novo: estão se constituindo os percursos formativos. O aluno vai poder transitar nas diversas Escolas, cursar disciplinas, e não é só interdisciplinaridade ad intra, dentro da Escola, tem que ser ad extra, fora da Escola.

 

Quais reflexos essas mudanças terão na gestão?

As Escolas terão mais autonomia, mas com responsabilidade. Hoje temos uma centralização na Reitoria e nas Pró-Reitorias. Haverá uma caminhada de descentralização, mas com acompanhamento assistido, capacitando as Escolas.

 

O que significa, neste momento da Rede Marista, a escolha de um leigo como vice-reitor?

A PUCRS teve um leigo como reitor, nos seus primórdios. Para a Rede Marista, é algo não só normal, mas desejável e necessário. A maioria dos diretores de Colégios Maristas, por exemplo, são leigos. O Instituto está em 81 países, tem 3.500 irmãos, com faixa etária relativamente avançada, e 72 mil leigos na Instituição, que atendem 654 mil crianças e jovens. Nos últimos anos, consideramos que irmãos e leigos estão a serviço da missão. A vinda do Dr. Jaderson Costa da Costa vem colaborar com o que o Instituto Marista trabalha há anos. Penso que podemos aprender muito com os leigos e vice-versa. O Instituto está se renovando. Maristas de Champagnat, Irmãos e Leigos partilham e vivem o carisma.

 

O professor Jaderson Costa da Costa vem da área científica. Que frutos a PUCRS poderá colher tendo uma liderança reconhecida nesse campo?

Além de vir da área científica, é um grande gestor. Basta ver o quanto mostrou ser empreendedor e inovador, com o Instituto do Cérebro. Conhece a Universidade. Comunga dos valores institucionais. Tem esse comprometimento e um elemento que vai nos ajudar muito: o grande complexo pujante que é a área da saúde.

 

O Ir. Norberto Rauch disse que o cargo requer renúncias. O que deixará de fazer ao ser empossado reitor?

Eu não digo o cargo, mas a missão de ser reitor e a própria vida exigem renúncias. Elas fazem parte da condição humana. A grande renúncia é a do tempo pessoal. É preciso generosidade no que se refere à administração do tempo, estando para e pelas pessoas, a serviço da missão.

 

Qual é o seu projeto de vida?

É fazer o que minha Instituição me pede como um serviço e missão. Eu gostaria, por exemplo, depois, de me dedicar exclusivamente à leitura, ao cultivo pessoal e espiritual, a palestras e a algum trabalho voluntário.

 

E a docência?

Sempre gostei muito. Uma das motivações para ser irmão foi justamente porque me identifiquei como professor.

 

Desde quando o senhor não dá mais aulas?

Aula formal desde que assumi aqui. Dou palestras e trabalho com grupos.

 

Que legado o senhor quer deixar?

É uma pergunta complexa e profunda. Gostaria que meu trabalho fosse um serviço à Igreja e à Instituição. Meu dever é garantir que a PUCRS cumpra sua missão. Diante das diversas situações, busco o discernimento. Na minha meditação, peço que Deus me dê proteção e me ilumine. É importante que as pessoas tenham comigo uma relação de diálogo e confiança. Eu me inspiro em Jesus de Nazaré e seu modo de fazer liderança: uma mistura de firmeza e ternura, proximidade e justiça. O modo como Ele se relacionava com as pessoas e agia sempre foi inspirador.

 

Como o senhor se define?

Eu sempre perguntava para minha mãe como eu era quando criança. “Tu sempre foste amoroso e inquieto.” É verdade. Ao longo dessa vivência de 50 anos, eu agregaria mais dois elementos. Sou exigente comigo e com as pessoas, mas procuro ser justo. Tenho que aprender a ser mais paciente; já cresci, porém o caminho ainda é longo.

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