Pesquisadora da Escola de Negócios apresenta os principais fatores relacionados à acumulação de dívidas e como se obter mais estabilidade financeira
Na última década, especialistas perceberam que ocorreu um elevado crescimento no nível de endividamento no Brasil. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) do mês de outubro de 2021, o endividamento das famílias aumentou 0,6 ponto percentual entre setembro e outubro, alcançando 74,6% dos lares no país.
As decisões de consumo a crédito, ou seja, de fatores de endividamento por parte dos brasileiros, têm sido um dos assuntos mais pesquisados e comentados ultimamente. A professora e pesquisadora da Escola de Negócios Frederike Mette participou da realização de um estudo exploratório com indivíduos de baixa renda para entender o comportamento do consumidor endividado.
Em sua pesquisa, Frederike aponta que há uma preocupação geral relacionada à falta de alfabetização financeira, de conhecimento financeiro e de educação financeira da população. Além disso, estudos recentes no Brasil têm se voltado para tentar entender o comportamento do consumidor com base na Economia Comportamental e Psicologia Econômica.
De acordo com a psicanálise, que vem ser a origem da Economia Comportamental, tradicionalmente a relação das pessoas com o seu dinheiro está diretamente ligada a emoções. Assim, os indivíduos utilizam o dinheiro para impressionar e influenciar outras pessoas, para sentir-se poderosos e ganhar status na sociedade.
“Na nossa sociedade, o dinheiro está relacionado a poder, talento, habilidade, beleza, saúde, inteligência, sucesso, liberdade, independência, segurança, esperteza, bênção, merecimento, status, bem-estar. Ele é utilizado pelas pessoas no sentido de ostentação”, explica Frederike Mette.
Na pesquisa, foram realizadas entrevistas individuais com consumidores das classes D e E. Com isso, foram levantados os principais fatores relacionados ao acúmulo de dívidas não pagas. Dentre os motivos, destacam-se as compras por impulso, pagamento do valor mínimo das faturas do cartão de crédito, uso de financiamentos e empréstimos para aquisição de bens ou até mesmo para pagar outra dívida e fatores imprevistos ou eventos não planejados.
Nessa época de fim de ano, onde há festas, encontros, momentos em família e muitas trocas de presentes entre as pessoas, é comum que elas estejam muito mais propensas a consumirem de forma rápida e ignorarem o planejamento financeiro que deveria ser feito para os gastos. A professora Frederike pontua que para evitar o desequilíbrio financeiro, é fundamental que haja um planejamento futuro mensal, para agir com cautela e procurar identificar certos pontos.
“Primeiramente, é importante que exista um cuidado com o valor mensal disponível para compras dentro do orçamento individual ou familiar. Além disso, é importante que exista uma atenção redobrada com o valor mensal disponível para compras para entender o quanto é possível comprometer-se com dívidas e parcelas nesse momento”, destaca.
Após compreender qual é a sua realidade financeira, é possível criar objetivos e metas. Outra opção é realizar investimentos, para se obter uma certa estabilidade financeira no futuro. Frederike explica que para começar a investir, o primeiro passo é definir bem o perfil de investidor. Ou seja, o quanto de risco a pessoa está disposta a correr e em quanto tempo ela precisará do dinheiro.
“Se for uma reserva de emergência, a pessoa deve optar por investimentos sem risco e que tenha liquidez rápida, ou seja, rapidez no resgate do valor. Se for para o futuro, como previdência, pode correr mais risco e buscar opções sem muita liquidez, como planos de previdência complementar”, exemplifica.
Para buscar mais informações ou ajuda para realizar investimentos, a dica é sempre consultar as instituições financeiras seguras e que estejam cadastradas pelo Governo no site do Banco Central e da CVM. A pesquisadora complementa que começar a investir pode ser um bom caminho para evitar endividamento.
“Investir gera uma sensação de proteção ao indivíduo, o que aumenta o seu bem-estar e, consequentemente, tende a reduzir sua propensão a compras por impulso. Além disso, não é necessário muito dinheiro para começar, é possível iniciar com 50 reais, basta dar estes primeiros passos”, indica.
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