Texto de Thamiris Scheffel, mentora no Programa Mulheres na Ciência
Existe um modus operandi no nosso jeito de ser que está totalmente atrelado as nossas raízes e essência. No nosso caminhar, muitas vezes somos guiadas (ou desviadas) por escolhas feitas individualmente, mas baseadas em alternativas que estão intimamente ligadas ao “coletivo” vigente da sociedade. E a quantas anda este “coletivo”? Qual a cara do “coletivo” na área acadêmica ou mesmo na ciência? E é aí que eu penso o quão ordinário pode ser o extraordinário. Enquanto mulher, penso muito sobre “o quê” ou “quem” estaria conduzindo as nossas escolhas e o quanto somos influenciadas por uma nuvem um tanto quanto machista e sexista na área científica. A falta de empatia nos afeta constantemente, comentários provocativos e desrespeitosos são disparados das mais variadas fontes dentro da Academia. Mas talvez o que me afete mais profundamente é o desrespeito vindo de outra mulher, amiga mundana, parceira de mundo.
Neste ponto, praticar e pensar a sororidade é tão primitivo, urgente e essencial para a ciência, que parece engraçado ter que explicar… a sororidade é transformadora pois transfere o foco individual para todas as mulheres – o NOSSO coletivo! “Soror” está para irmandade das mulheres assim como “frater” simboliza irmandade dos homens; o segundo está no dicionário, o primeiro não, pois então!
A sororidade é um abraço apertado cheio de empatia e apoio. É quando inspiramos e nos deixamos inspirar, quando evitamos comentários maldosos, ajudamos e respeitamos outras mulheres ou a nós mesmas, questionando até mesmo nossos próprios pensamentos.
Com a esperança nos olhos e a força do pensamento no coração, eu enxergo o cenário atual com uma placa de “em construção”, penso que estamos no caminho certo, juntando ferramentas e fazendo transformações importantes na repaginação do nosso futuro. Está aí o Programa Mulheres na Ciência 2022 para ilustrar tudo isso. Então, seja por toda a nossa história ou pela força do nosso grupo, é URGENTE compreender, respeitar e ajudar outras mulheres a serem as mais brilhantes que puderem ser em qualquer área da ciência! Um abraço bem apertado para todas vocês!
Thamiris Becker Scheffel é doutora em Biologia Celular e Molecular pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), especialista na modalidade de residência multiprofissional pelo Hospital São Lucas da PUCRS, bacharel em farmácia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) com período sanduíche na Universidade de Coimbra, Portugal. Atualmente é pós-doutoranda no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, onde atua, juntamente com uma equipe de pesquisadores, na condução de pesquisas ligadas às doenças do sistema nervoso central. Sua principal área de atuação é a biologia do câncer, fazendo uso de modelos celulares e modelos animais no estudo de tumores cerebrais. Seus interesses estão relacionados à pesquisa envolvendo cânceres difíceis de tratar, buscando compreender o microambiente tumoral para a busca de novas estratégias terapêuticas.