Por José Miguel Chatkin*
O Dia Mundial Sem Tabaco foi criado pela Organização Mundial da Saúde para discutir políticas de redução do consumo de tabaco. O tema deste ano – “Tabagismo: uma ameaça ao desenvolvimento” – amplia o debate para os riscos sociais e econômicos, indicando que o problema não é apenas de saúde pública. No Brasil, o custo anual estimado atribuível ao tabagismo é de R$ 23,3 bilhões, o triplo do arrecadado com impostos incidentes sobre o cigarro, mesmo considerando os empregos proporcionados na cadeia produtiva. É o segundo maior produtor mundial de tabaco e o principal exportador da folha, ou seja, exporta um produto com mais de 7 mil substâncias tóxicas.
A cada três fumantes, dois morrem por doenças relacionadas ao tabaco. São 130 mil brasileiros todos os anos. Fumar encurta a expectativa de vida e traz risco a dezenas de doenças. As principais são infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer de pulmão e em outros órgãos.
Inúmeros obstáculos, ainda não equacionados, dificultam a troca da monocultura do tabaco pelo cultivo de alimentos, cuja produção não seja nociva à população, ao ambiente e aos agricultores. Entre eles, a baixa remuneração por hectare plantado com grãos em comparação ao obtido na cultura do tabaco.
O Brasil tem avançado no controle do tabagismo através de enfretamento multidisciplinar. A prevalência de fumantes caiu de 34,8%, em 1989, para 10,8% em 2015, terceira maior queda mundial. As medidas mais eficazes adotadas foram aumento da alíquota de impostos sobre os cigarros e estabelecimento de preço mínimo de produtos de tabaco; prevenção do fumo passivo; oferta de tratamento para a cessação do tabagismo, implantado na rede básica de saúde, embora ainda aquém das necessidades; advertências sobre os riscos à saúde nas embalagens, que se tornaram mais incisivas nos últimos anos.
Deste modo, o Brasil é um dos países que melhor lida com essa situação, com dados nitidamente alentadores. Mas ainda há muito por fazer: em virtude de sua grande população, o Brasil está entre os 10 países com maior número de fumantes em todo o mundo.
* Chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital São Lucas e professor da Escola de Medicina