Saber expressar-se bem é sempre uma habilidade útil
Por: Bernardo Bueno
Aprenda a expressar-se bem; descubra técnicas infalíveis para o sucesso; escreva um romance em sessenta dias; veja só essa dica para ter sucesso, e comunique-se melhor agora. Gente por aí vendendo sucesso não falta. Também não faltam fórmulas infalíveis, ainda mais na internet. Mas, como bem sabe o Cebolinha, planos infalíveis não existem.
Seja qual for a sua profissão ou área de estudo – Letras, Jornalismo, Física, Administração, Odontologia – saber expressar-se bem é sempre uma habilidade útil. Porque se você não sabe se expressar, alguém vai fazer isso por você.
Algumas pessoas acham que se livraram das aulas de português e literatura porque têm uma profissão onde não precisam se preocupar com isso. Mas espera aí: todos nós escrevemos diariamente. De fato, talvez nunca tenhamos lido e escrito tanto: entre Facebook, Whatsapp e notícias online, quantas palavras você leu e escreveu hoje?
Talvez o nível de exigência seja menor em redes sociais. De fato, eu não espero que você escreva uma mensagem no Whatsapp ou Facebook no mesmo tom que usa para escrever um e-mail para o seu chefe, um relatório de vendas ou aquela palestra para uma conferência. Mas aí eu pergunto: você sabe diferenciar os contextos? Sabe mudar o tom confortavelmente entre o mais sério e o mais relaxado? Sabe explicar seus sentimentos numa carta para o seu namorado ou namorada com uma linguagem mais sensível e atenciosa do que aquela que você usa no seu grupo no celular?
Outro perigo de não sentir-se confortável ao escrever (e falar, afinal, essas coisas estão interligadas) é não saber defender o seu ponto de vista. Se você não sabe construir um argumento, pode não ter voz na hora de tomar aquela decisão importante no trabalho. Ou seja: quem sabe se expressar tem voz. Quem não sabe, acaba por depender dos outros. E os outros nunca sabem exatamente como nos sentimos.
Infelizmente, não existem regras infalíveis para desenvolver a linguagem. A língua é viva e está sempre mudando. A maneira como falamos e escrevemos indica nossa educação, bagagem cultural e ideologias. Toda escrita e forma de expressão são muito pessoais.
As únicas dicas que eu tenho não são rápidas nem infalíveis: pratique. Cometa erros. Escreva um diário. Escreva cartas. Escreva à mão e no computador. Leia livros, revistas, artigos de jornal. Leia sobre ciência e economia. Escute quando os outros falam (você escuta mesmo ou está só pensando na próxima coisa que vai falar?). Escreva em sua segunda língua. Peça opiniões. Revise as mensagens no Facebook. Antes de enviar um e-mail irritado, releia. Precisa mesmo mandar agora? Escreva com antecedência. Deixar um texto de molho por um tempo ajuda na hora de revisar. E, acima de tudo, lembre-se: se você não tiver voz, alguém vai pôr palavras em sua boca.
Coordenador do Curso Superior em Escrita Criativa da PUCRS
* Este artigo expressa a opinião pessoal do seu autor.