Vulcões: causas e efeitos

Quando pensamos em forças da natureza, certamente os vulcões são logo lembrados. E não é para menos. A cada grande evento vulcânico, nos deparamos com cenários que impressionam, tanto pelas mudanças das paisagens ao seu redor, quanto pelo rastro de destruição causado.

Atualmente, existem cerca de 1.500 vulcões potencialmente ativos no planeta Terra, sendo que 50 deles encontram-se efetivamente ativos neste exato momento. Apenas no mês de setembro de 2021, três deles entraram em erupção: o Vulcão de Fogo (Guatemala), o Etna (Itália) e o Cumbre Vieja (Ilhas Canárias – Espanha). Estariam, esses três eventos, interligados? A resposta é não, pois a distância entre eles é enorme em relação às suas zonas de abrangência e áreas de risco. Contudo, para entender quais são as semelhanças e diferenças entre eles, vamos observar como são originados os vulcões.

Tipos de vulcões: podem ser diferenciados em suas formas e por suas erupções.

Vulcão-escudo: expele enormes quantidades de material magmático (magma, ou lava vulcânica), que são rochas derretidas a altíssimas temperaturas, formando uma larga montanha remetente a um “escudo”, que é o nome dado a rochas formadas por lava solidificada

Cone de escória: é o mais comum, é menor em relação ao vulcão-escudo, e o magma expelido é de baixa viscosidade.

Estratovulcões: mantém-se em longa atividade, a lava expelida é de alta viscosidade e, por vezes, apresenta explosões violentas.

Caldeira: possuiu um grande diâmetro (até 100 km2), podendo ser formado rapidamente (em questão de dias ou até mesmo em algumas horas). Os gases saem de forma violenta de seu interior.

Vulcão submarino: encontra-se no fundo oceânico e é responsável pela formação de um novo “assoalho” marinho.

Localização dos vulcões: A crosta terrestre está fragmentada em pedaços, chamados de placas tectônicas. Essas placas “boiam” e se deslocam sobre o manto terrestre (camada de rochas líquidas do planeta, que fica abaixo da crosta), por forças exercidas por ele mesmo. No entanto, a composição química da crosta (e das placas) nem sempre é uniforme, o que origina uma diferença de densidades entre as próprias placas. De modo geral, as placas se dividem em mais densas (placas que estão cobertas pelos oceanos) e menos densas (placas que compõem os continentes). Ao colidirem, as placas oceânicas tendem a “mergulhar” (subducção) para baixo das placas continentais, como você pode observar na figura abaixo.

Figura 1: perfil esquemático de choque entre placas tectônicas. Fonte: infogeobr.wordpress.com.

Quando a placa tectônica oceânica “mergulha”, retornando ao manto, as rochas são novamente fundidas, enquanto a placa continental, ao sofrer pressão no sentido oposto, origina então dobras na crosta terrestre. Essas dobras dão origem a pequenas ilhas vulcânicas (a exemplo das Ilhas Canárias e o vulcão Cumbre Vieja); bem como a imensas cadeias de montanhas (Vulcão de Fogo, na Guatemala). Sendo assim, a maior ocorrência de vulcões considerados ativos se localiza em regiões de choques entre as placas tectônicas (também chamadas de limites convergentes). Na figura abaixo estão marcados os três vulcões anteriormente citados.

Figura 2: Localização dos três vulcões e limites tectônicos. Fonte: modificado de sciencetechnews.com.br.

Estrutura de um vulcão: de modo geral, os vulcões apresentam a mesma estrutura básica, descrita abaixo.

Câmara magmática: onde o magma fica armazenado;

Chaminé: em formato de tubo, é por onde o magma é conduzido ao exterior;

Cratera: também conhecido como “boca” do vulcão, é por onde o magma extravasa e passa a ser chamado de lava vulcânica;

Cone vulcânico: formato geral dos vulcões Cumbre Vieja, Etna e Vulcão de Fogo.

Figura 3: Perfil esquemático de um vulcão. Fonte: modificado de kidsdiscover.com/vulcanoes.

 

Vulcões como agentes de transformação

Apesar de sabermos que os vulcões são “mecanismos” extremamente primitivos do nosso planeta, que, de certa forma, foram essenciais para o surgimento da vida na Terra, as ocorrências de eventos vulcânicos geram muitas transformações e inquietudes.

Além das modificações na paisagem como um todo, as erupções costumam causar grandes impactos sociais nas áreas habitadas próximas a eles. A água do mar possui vários sais dissolvidos, compostos por elementos como cloro, flúor, enxofre entre outros. Reações químicas, ocasionadas do contato com a lava que está a uma temperatura altíssima, geram vapores e gases tóxicos, que se dissipam na atmosfera podendo atingir grandes distâncias. O vulcão também emite outros gases juntamente com a lava e as cinzas.

O contato com esses gases pode irritar a pele, os olhos e o aparelho respiratório e causar diferentes lesões, incluindo danos ao sistema nervoso, bloqueio da metabolização de cálcio e magnésio e inibição de enzimas importantes, o que pode levar a uma falência de vários órgãos.

Além disso, minúsculos cristais vulcânicos surgem pelo resfriamento rápido da lava, os quais podem ser perigosos para os seres humanos e outros animais.

Tomando como exemplo o Cumbre Vieja, caso de erupção vulcânica mais recente, ,  haverá um impacto significativo nos organismos marinhos, com possível proliferação principalmente de algas, organismos bem adaptados a altas temperaturas, que possuem mecanismos de absorção de metais que favorecem seu desenvolvimento. Os organismos bentônicos (animais que vivem no substrato de ambientes aquáticos) também serão afetados significativamente, por consequência da mudança na química da água.

Em comparação a estudos em outras áreas afetadas por vulcões, acredita-se que a recuperação de sistemas afetados por erupções, como o vulcão Cumbre Vieja, pode acontecer em um prazo de dois anos.

Por outro lado, há pesquisadores que sugerem que as erupções vulcânicas contribuem para a manutenção da vida e do ambiente. O vulcão Krakatoa, localizado na província indonésia de Lampung, após ocasionar uma grande destruição em 1883, serviu como fertilizante para o solo. O material que é expelido do interior da Terra vem carregado também de substâncias nutritivas para o solo, o que pode atrair bactérias, vermes e assim sucessivamente outros organismos e vegetações que poderão retomar o ecossistema desse ambiente.

No Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS você pode conhecer mais sobre as movimentações tectônicas e diversas dinâmicas do planeta Terra ocasionadas por esses movimentos.

 

REFERÊNCIAS:

Jerram, Dougal: introdução à vulcanologia / Dougal Jerram; [tradução Breno Leitão Waichel]. – – São Paulo: Oficina de Textos, 2018.

PRESS,F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T.H. Para Entender a Terra 4a edição. Tradução: MENEGAT, R. Porto Alegre, Bookman. 2006.

https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-09-23  acesso em (30/09/2021)

SOUSA, Rafaela. “Vulcões”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/vulcoes.htm  acesso em (30/09/2021)

VENTUROLI, Thereza. “Vulcões: Os senhores da morte”; Superinteressante. Disponível em: https://super.abril.com.br/ideias/vulcoes-os-senhores-da-morte/

CHIARENZA, Alfio. “Asteroid impact, not volcanism, caused the end-Cretaceous dinosaur extinction”; PNAS. Disponível em: https://www.pnas.org/content/117/29/17084

GRESHKO, Michael. “Vulcões ajudaram vida a se recuperar após impacto de asteroide que extinguiu dinossauros”; National Geographic Brasil. Disponível em: https://www.nationalgeographicbrasil.com/ciencia/

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/