O mar de Titã

Abaixo da atmosfera gasosa de Titã, a maior lua de Saturno, está Kraken Mare, um mar de metano (CH4) líquido. Astrônomos da Universidade de Cornell estimam que o mar tenha pelo menos 300 metros de profundidade próximo ao centro, espaço suficiente para um submarino robótico explorar.

 

A molécula de metano é formada por um carbono ligado a quatro hidrogênios. Fonte: Brasilescola

 

 

Depois de examinar os dados de um dos sobrevoos finais da missão Cassini em Titã, os pesquisadores detalharam suas descobertas em “The Bathymetry of Moray Sinus in Titan’s Kraken Mare“, publicado em 4 de dezembro de 2020 no Journal of Geophysical Research.

 

A luz do sol brilha nos mares do norte de Titã, neste mosaico colorido de infravermelho próximo da espaçonave Cassini da NASA. Fonte NASA/JPL/Univ. Arizona/Univ. Idaho


 

Medindo a profundidade

Há um bilhão de quilômetros da Terra, o gelado Titã está envolto em uma névoa dourada de nitrogênio gasoso. Contudo, a paisagem lunar tem uma aparência semelhante à da Terra, com rios, lagos e mares – neste caso, de metano líquido -, de acordo com a NASA. Enquanto viajava a 21.000 km/h a quase 1000 km acima da superfície de Titã, a espaçonave Cassini usava seu altímetro de radar para medir a profundidade do líquido em Kraken Mare e Moray Sinus, esta última sendo uma baía localizada na extremidade norte do mar. Os cientistas da Universidade de Cornell, juntamente com engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, descobriram como discernir a batimetria (profundidade) do lago (Moray Sinus) e do mar (Kraken mare), observando as diferenças de tempo de retorno do sinal de radar (radiação eletromagnética) na superfície do líquido e no fundo desses reservatórios. Os pesquisadores também conseguiram detectar a composição química do mar, reconhecendo a quantidade de energia do sinal de radar absorvida durante o trânsito pelo líquido.

 

Uma representação artística de Kraken Mare, o grande mar de metano líquido de Titã.
Fonte NASA/John Glenn Research Center


 

Uma das questões ainda não entendidas pelos pesquisadores é sobre a origem do metano líquido e de como ele consegue se manter na superfície. Isso porque a luz solar em Titã – cerca de 100 vezes menos intensa do que na Terra – converte constantemente o metano da atmosfera em etano (C2H6). Em períodos de aproximadamente 10 milhões de anos, esse processo esgotaria completamente os estoques de metano de superfície de Titã, de acordo com um dos autores. Em um futuro distante, um submarino visitará e navegará em Kraken Mare, estima Valério Poggiali, primeiro autor do artigo, o que poderá trazer informações valiosas sobre esse ambiente e também sobre sua eventual possibilidade de abrigar vida, pois se sabe que o metano é uma excelente fonte de carbono e energia para diversas formas de vida microbianas, pelo menos aqui em nosso planeta.

Referências:
Poggiali, V., Hayes, A. G., Mastrogiuseppe, M., Le Gall, A., Lalich, D., Gómez‐Leal, I., & Lunine, J. I. (2020). The bathymetry of moray sinus at Titan’s Kraken Mare. Journal of Geophysical Research: Planets, 125, e2020JE006558. https://doi.org/10.1029/2020JE006558

Mastrogiuseppe, M., et al. (2014), The bathymetry of a Titan sea, Geophys. Res. Lett., 41, 1432– 1437, doi:10.1002/2013GL058618.