Derretimento do permafrost e suas consequências para o Planeta.

Todos os anos o gelo da região do mar do Ártico possui uma trajetória de crescimento e recuo/diminuição. Essa trajetória está relacionada com os meses de inverno (do final de setembro a março/abril) e os meses de verão (de abril a setembro). Contudo, devido ao aquecimento global, essa trajetória tem sido alterada nos últimos anos,  período em que as extensões mínimas de gelo (fenômeno natural, que ocorre anualmente nos meses de verão, onde há um derretimento e consequentemente uma diminuição da extensão das geleiras) têm diminuído intensamente, ultrapassando sua média considerada normal. Dados do National Snow and Ice Data Center (NSIDC), demonstram que a extensão mínima (6.500.000 km²) tem diminuído a cada ano, como ilustrado abaixo:

Diminuição da extensão mínima de gelo no mar do Ártico ao longo dos anos. Fonte

De acordo com a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), se esse padrão for mantido, é possível prever que o mar do Ártico fique completamente sem gelo até 2050.

O aquecimento global não afeta somente o derretimento das geleiras do Ártico, mas também, implica em consequências preocupantes nas regiões de permafrost.

O permafrost é um tipo de solo, sedimento ou rocha que permanece com temperatura igual ou inferior a 0°C por dois ou mais anos.  As regiões de permafrost ocupam aproximadamente 22,79 milhões de quilômetros quadrados do Hemisfério Norte. Podemos encontrar grandes extensões de permafrost na Sibéria, no planalto tibetano, no Alasca, no Ártico canadense e em outras regiões montanhosas mais altas.

Ilustração da região de permafrost. O tom mais escuro de roxo indica porcentagens mais altas do solo permanentemente congelado. Fonte

Permafrost significa “permanentemente congelado”. Mas, nos últimos anos, também em função do aquecimento global, estamos presenciando um derretimento acelerado desse gelo, mantido há milhares de anos. A intensa utilização de combustíveis provenientes do petróleo, a queima de carvão em usinas e o desperdício de energia elétrica contribuem para o aumento da temperatura da Terra, por meio da emissão de gases que causam o efeito estufa.

Com o derretimento do permafrost, há liberação de compostos químicos em grandes quantidades, como o mercúrio, que é extremamente tóxico para a vida, e gases que promovem o aquecimento global. Os gases liberados são principalmente o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), que aceleram o aquecimento do planeta, gerando um efeito cascata.

As moléculas desses gases são diferentes e, portanto, apresentam propriedades particulares em relação ao seu papel no chamado “efeito estufa”. Por exemplo, o metano que contém um carbono e quatro hidrogênios (CH4), absorve 23 vezes mais os raios infravermelhos que uma molécula de gás carbônico, que é feita de um carbono e dois oxigênios (CO2). Isso quer dizer que o CH4 tem uma eficiência de efeito estufa 23 vezes maior que o CO2. Esses gases, que estão retidos no gelo, quando liberados para nossa atmosfera, formam uma camada que envolve a Terra, impedindo que o calor seja liberado para o espaço.

Como dito acima, o permafrost, é também uma grande reserva do elemento mercúrio (Hg), e seu derretimento ocasiona a liberação desse elemento, que acaba sendo carregado pelo ar e por correntes de água por grandes distâncias. A toxicidade do mercúrio varia nos seus diferentes compostos. A forma orgânica (metilmercúrio) é a mais fácil de ser absorvida. É, também, extremamente tóxica para todas as formas de vida animal, causando danos irreparáveis ao sistema nervoso central. Já a forma elementar (Hg) tem baixa toxicidade, porém o vapor quando inalado é absorvido através dos pulmões e se oxida dentro do organismo, causando danos irreversíveis e letais. Segundo alguns pesquisadores, a maior liberação de mercúrio ocorrerá provavelmente por volta de 2100, com o derretimento de toda a matéria orgânica do permafrost.

Além da liberação desses compostos químicos no ambiente, pesquisadores preocupam-se com as consequências do contato da diversidade de vida microbiana, ali encontrada até então na forma congelada, com os ecossistemas atuais. Existem milhares de microrganismos (com datação de até três milhões de anos atrás) que se encontram isolados e inativos no permafrost, em profundidades de até 400 metros, mas que podem voltar à atividade com o derretimento do seu sedimento. Alguns desses microrganismos podem liberar gás metano, que contribui para o aquecimento global, durante seu processo de biodigestão anaeróbica (sem a presença de oxigênio), ou seja, quando estão degradando matéria orgânica para obter energia. Outros microrganismos que podem estar saindo desta longa “hibernação” por derretimento do permafrost são bactérias, fungos e vírus ainda desconhecidos, que podem eventualmente ser prejudiciais aos atuais ecossistemas, ou ainda patogênicos ao ser humano e outros organismos.

Na exposição do Museu, área do Planeta Terra, é possível conhecer um pouco mais sobre os aspectos relacionados ao nosso Planeta, bem como a sua estrutura e alguns fenômenos naturais.

 

Referências:
http://www.usp.br/qambiental/tefeitoestufa.htm

http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/593610-emergencia-climatica-mudancas-climaticas-aumentam-risco-de-contaminacao-por-mercurio-pelo-derretimento-do-permafrost

https://periodicos.ifal.edu.br/diversitas_journal/article/view/339

https://br.rbth.com/ciencia/83309-que-acontece-se-permafrost-derreter

https://www.igarka-permafrostmuseum.ru/

https://nsidc.org/cryosphere/seaice/characteristics/difference.html

https://www.ncei.noaa.gov/news/arctic-ice-study

https://nsidc.org/cryosphere/icelights/2013/05/thawing-rotting-arctic

https://nsidc.org/nsidc-monthly-highlights/2018/04/mercury-rising

https://nsidc.org/cryosphere/frozenground/whereis_fg.html

https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-3-540-74335-4_6

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5607373/

https://microbiomejournal.biomedcentral.com/articles/10.1186/s40168-019-0778-3