A internacionalização do currículo está orientada em preparar estudantes para viver e trabalhar de forma eficaz e ética em um mundo cada vez mais interconectado.
As universidades têm a responsabilidade de preparar seus estudantes para viver e trabalhar em uma sociedade global – um mundo complexo e interligado, onde o local e o global estão cada vez mais conectados (Nussbaum 2002). Um currículo internacionalizado reconhecerá que, como graduados, todos os estudantes assumirão funções e responsabilidades sociais e culturais, bem como econômicas. Onde quer que estejam, suas vidas e seus trabalhos serão influenciados pelo ambiente global. Habilidades e conhecimentos internacionais e interculturais, uma consciência e o compromisso de se conectar positivamente com outras culturas, e a capacidade de pensar ‘localmente, nacionalmente e globalmente’ (Rizvi & Lingard 2010, p. 201) serão importantes neste mundo.
Como processo, a internacionalização do currículo é uma parte importante da revisão crítica e periódica do currículo. Deve incluir uma reflexão sobre o impacto e os resultados das práticas de ensino e avaliação na aprendizagem dos alunos, e uma revisão do conteúdo e da pedagogia. Nesse processo, é importante reconhecer os sucessos do passado, bem como imaginar novas possibilidades e se esforçar para melhorar o currículo. Essa última ação é crítica, dada a velocidade com que o mundo ao nosso redor está mudando.
As definições a seguir são amplamente utilizadas em toda a literatura e pesquisa sobre internacionalização do ensino superior. Destinam-se a ser um ponto de partida para reflexão e posterior exploração.
O processo intencional de integração de uma dimensão internacional, intercultural ou global no propósito, nas funções e na entrega da educação pós-secundária, a fim de
melhorar a qualidade da educação e da pesquisa para todos os alunos e funcionários e fazer uma contribuição significativa para a sociedade (de Wit & Hunter, 2015, p. 2).
O processo de integração de uma dimensão internacional e intercultural ao ensino superior, emergindo de interações sustentadas por redes colaborativas, com blocos socioeconômicos e outras partes que valorizam múltiplas culturas, diferenças e tempos, fortalecendo a capacidade científico-tecnológica nacional, conectada a contextos locais, buscando promover o desenvolvimento sustentável (Morosini, 2017, p. __). Conceito da Marília (2017)
Incorporar dimensões internacionais, interculturais e/ou globais ao conteúdo do currículo, bem como aos resultados de aprendizagem, às tarefas de avaliação, aos métodos de ensino e serviços de apoio de um curso de estudo (Leask, 2015, p. 9).
A integração proposital das dimensões internacionais e interculturais no currículo formal e informal para todos os alunos em ambientes de aprendizagem domésticos (Beelen & Jones, 2015, p. 69).
Um compromisso, confirmado por ação, de infundir perspectivas internacionais e comparativas em todo o ensino, pesquisa e missões de serviço do ensino superior. Ela molda o éthos e os valores institucionais e atinge todo o empreendimento de ensino superior. É essencial que seja adotada pela liderança institucional, gestores gest, professores, estudantes e todas as unidades de serviço e apoio acadêmico. É um imperativo institucional, não apenas uma possibilidade desejável … [Ela] não só afeta toda a vida no campus, mas também os quadros de referência externos, as parcerias e as relações das instituições (Hudzik, 2015, p. 7).
Exige um compromisso com o treinamento de profissionais atenciosos no campo, trabalhando em conjunto com pesquisadores, formuladores de políticas e líderes institucionais que são sensíveis aos aspectos práticos que residem nas “grandes questões” que dominam tantas discussões estratégicas sobre internacionalização hoje (Rumbley, 2015, p. 17).
A análise crítica de e um envolvimento com sistemas e legados globais, complexos e interdependentes (por exemplo, naturais, físicos, sociais, culturais, econômicos e políticos), e suas implicações para a vida das pessoas e para a sustentabilidade da Terra (Green, 2019, p. 12 )
Sugere possibilidades para práticas colaborativas na aprendizagem global, que valorizam e usam as diversas perspectivas, conhecimentos, habilidades e experiências dos alunos (Green, 2019, p. 14).
Reposiciona professores e alunos em relação uns aos outros e ao trabalho que desenvolvem na universidade (Matthews, 2017). Sugere um poderoso – e bastante radical – imaginário social alternativo ao neoliberalismo, porque os alunos “como parceiros” não são vistos como clientes consumindo os produtos do trabalho dos professores, mas sim como co-produtores de conhecimento (Green, 2019, p. 14 )
Interações e diálogo mutuamente respeitosos entre pessoas de diferentes culturas, que promovem o entendimento mútuo, enquanto preservam a identidade cultural de cada indivíduo. É importante ressaltar que o conceito de interculturalidade não se refere apenas às relações que se desenvolvem entre indivíduos pertencentes a diferentes países ou regiões do mundo, mas também leva em consideração indivíduos que estão dentro da mesma comunidade, mas que possuem características diferentes de caráter étnico, social ou de outro ponto de vista (Leask, 2021).
O curso sequenciado de atividades e experiências de ensino e aprendizagem, organizadas em torno de áreas de conteúdo, tópicos e recursos definidos, cujos objetivos são avaliados de várias maneiras, inclusive por exames e diversos tipos de tarefas, sessões de laboratório e outras atividades práticas (Leask, 2009, p. 207).
Materiais que os alunos recebem, por exemplo, estruturas de módulos, leituras recomendadas e guias de avaliação (Le Grange, 2019, p. 7).
As várias atividades extracurriculares que ocorrem no campus, como: as atividades opcionais que não fazem parte dos requisitos formais para a conclusão do curso, que, no entanto, contribuem e de muitas maneiras definem a cultura do campus e, assim, são uma parte importante do contexto em que o currículo formal é executado (Leask, 2009, p. 207).
Lições incidentais sobre poder e autoridade que são aprendidas; que conhecimento é valorizado e de quem, e que conhecimento e de quem não é valorizado, em questões como quais livros e referências são usados e a forma como as atividades, em classe e fora da classe, são organizadas. As lições aprendidas com o currículo oculto podem ser tanto positivas quanto negativas (Leask, 2009, p. 207).
O que os alunos aprendem sobre a cultura dominante de uma universidade e quais os valores que ela reproduz (Le Grange, 2019, p. 7).
O que as universidades deixam de fora – o que não é ensinado e aprendido em uma universidade (por exemplo, conhecimentos indígenas) … (Le Grange, 2019, p. 7).
O currículo também pode ser concebido como:
Um termo genérico referente a esforços diversificados para resistir aos processos distintos, mas entrelaçados, de colonização e racialização, para decretar transformação e reparação em referência aos efeitos históricos e contínuos desses processos, e para criar e manter vivos modos de conhecer, ser e se relacionar que esses processos buscam erradicar (Stein & Andreotti, 2017, p. 370).
É abrangente no sentido de que não pode acontecer de forma fragmentada, na qual um ou dois indivíduos mexem em suas estruturas de módulo – em vez disso, exige que todos os participantes se envolvam. Dois grupos importantes são professores acadêmicos e desenvolvedores acadêmicos, cuja tarefa é apoiar os acadêmicos na reformulação do currículo.
Não é um evento, mas um processo e não é necessariamente fácil de alcançar (Le Grange, 2019, p. 5).
É um “princípio normativo para o tratamento igualitário de todas as formas de conhecimento” (Van der Velden, sd, p. 12). Isso não significa que todas as formas de conhecimento sejam iguais, mas que a igualdade daqueles que detêm o conhecimento (ou conhecedores) forma a base do diálogo entre os saberes, e que o que é necessário para a democracia é um diálogo entre os aqueles que detêm o conhecimento e seus saberes.
A justiça cognitiva permite o desconhecido e a consciência de que as nossas formas de conhecimento têm ausências (Sousa Santos, 2014). Requer diferença para que a democracia e a criatividade fluam e é uma consciência de que todos os saberes podem e devem ser flexíveis: “A justiça cognitiva não é um tipo de insistência preguiçosa para que todo tipo de conhecimento sobreviva como é” (Visvanathan, 2016, p.5 / 8) (Leibowitz, 2017, pp. 100,101).
É um modo de pesquisa por equipes ou indivíduos que integra informações, dados, técnicas, ferramentas, perspectivas, conceitos e/ou teorias de duas ou mais disciplinas ou corpos de conhecimento especializado para avançar no entendimento fundamental ou para resolver problemas cujas soluções estejam além do escopo de uma única disciplina ou área de prática de pesquisa (National Academy of Sciences, 2005 , p. 39)
As abordagens interdisciplinares nas ciências sociais envolvem, no mínimo, a aplicação de percepções e perspectivas de mais de uma disciplina convencional para a compreensão dos fenômenos sociais (Miller, 2017, np.)
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