18/02/2019 - 10h11

Pesquisa que mostra impacto da depressão na epilepsia é publicado em periódico internacional

Estudo realizado pelo do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul foi publicado na revista médica Epilepsia

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Pesquisadores no InsCer (da esquerda para a direita): Gabriele Zanirati, Gianina Venturin, Samuel Greggio e Pamella Azevedo / Foto: Bruno Todeschini

Uma pesquisa desenvolvida por integrantes do Laboratório de Neurociências do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) mostra que, quando a depressão está associada à epilepsia, acaba contribuindo para a piora do quadro. Procurando a correlação desses mecanismos com o comportamento depressivo, o grupo investigou possíveis alterações no metabolismo cerebral em modelos experimentais com epilepsia do lobo temporal. Esse é o tipo mais frequente e refratário ao tratamento, ou seja, cerca de 30% dos pacientes deixam de responder aos anticonvulsivantes. Também é comum que apresentem declínio cognitivo e depressão. O estudo foi publicado no periódico internacional Epilepsia.

A avaliação foi feita por exames na microtomografia por emissão de pósitrons (microPET), uma ferramenta de alta tecnologia disponível no Centro de Pesquisa Pré-Clínica do BraIns. “Com esse exame, nós conseguimos verificar quais regiões consomem mais ou menos glicose, a principal fonte de energia cerebral”, explica Gabriele Zanirati, autora do estudo e em estágio pós-doutoral no BraIns. Através da injeção de um radiofármaco, é possível visualizar e quantificar dados moleculares funcionais em modelos experimentais de pequeno porte. Foi utilizado o análogo da glicose Fluorodesoxiglicose marcado com Flúor-18 (18F-FDG). “Quanto maior o consumo, maior é a atividade no órgão”, esclarece Pamella Azevedo, bióloga e uma das coautoras do estudo.

A depressão é considerada a condição psiquiátrica mais frequente em portadores de epilepsia, atingindo de 30% a 35% deles. “Embora os aspectos psicossociais possam contribuir para o desenvolvimento de depressão, pesquisas sugerem, cada vez mais, que a relação entre ambas está associada a mecanismos neurobiológicos comuns, como alteração na expressão de neurotransmissores envolvidos nas duas doenças, processos neuroinflamatórios e desregulação do eixo hipotálamo-pituitário-adrenal, responsável pelo controle neuroendócrino”, explica Gabriele. Mas isso ainda não foi totalmente desvendado pelos cientistas.

Metodologia do Estudo

Para avaliar o comportamento depressivo, a equipe fez testes já estabelecidos na literatura com animais de pequeno porte. Após, os ratos epilépticos foram divididos em dois grupos: não depressivos e depressivos (ou seja, que apresentaram esse comportamento, porque, assim como os pacientes, nem todos os animais com epilepsia desenvolvem os sintomas de depressão). “O estudo demonstrou que a depressão desempenha um papel importante no cérebro epiléptico, revelando alterações relevantes e complexas no metabolismo e na rede metabólica cerebral envolvendo regiões relacionadas com ambas as patologias”, afirma Gabriele.

Animais com as duas doenças tiveram maior redução da atividade do cérebro quando comparados a animais epilépticos sem depressão. Esses modelos que demonstraram menor metabolismo cerebral também apresentaram um comportamento depressivo mais exacerbado durante os testes avaliados, além de um maior número de conexões anormais na rede metabólica cerebral entre regiões envolvidas com ambas as patologias.

Prevenção e tratamento

A partir dos resultados, o grupo busca novas estratégias eficazes e seguras para prevenção e tratamento. O projeto abre caminho para estudos de redes metabólicas em portadores de epilepsia e depressão, com potencial não só para diagnóstico mais preciso, mas também para escolha e avaliação da terapêutica”, destaca o coordenador da pesquisa, diretor do BraIns e professor da Escola de Medicina, Jaderson Costa da Costa. A ideia é mais adiante realizar um estudo clínico, envolvendo pacientes.

Os pesquisadores chamam a atenção dos profissionais da saúde para que busquem o diagnóstico precoce a fim de prevenir o impacto da depressão na qualidade de vida dos pacientes. “Seguiremos estudando os mecanismos comuns entre essas duas patologias para possibilitar a busca por novas alternativas de prevenção e tratamento”, informa Gabriele.

O estudo teve financiamento do CNPq, Capes, PUCRS e Pandurata. Além de Costa da Costa, Gabriele e Pamella, assinam o artigo os pesquisadores ligados ao InsCer Gianina Venturin, Samuel Greggio, Allan Alcará, Eduardo Zimmer e Paula Feltes, que em 2018 defendeu o doutorado e conquistou a dupla diplomação na PUCRS e na University Medical Center Groningen.

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