17/11/2021 - 16h45

Seres humanos são responsáveis por um aumento de 1,07°C na temperatura média do planeta 

COP26 e Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas alertam sobre os impactos causados pelo homem na natureza

COP26 alerta para as mudanças no clima causadas pela influência humana / Foto: Unsplash

No último sábado, 13 de novembro, a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes – COP) chegou ao fim em Glasgow, na Escócia. Considerada a maior e mais importante conferência sobre o clima do planeta, o encontro anual é uma oportunidade para as nações debaterem as atualizações sobre o processo de aquecimento global, discutindo metas e programas globais para a redução da emissão de gases-estufa em uma escala temporal.  

O acordo deste ano, assinado por quase 200 países, propõe uma redução global das emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030, se tomados por base as emissões de 2010, e uma neutralidade de emissões de CO2 até 2050, com o objetivo principal de limitar o aquecimento global em 1,5°C.  

O diretor do Instituto de Meio Ambiente da PUCRS, Nelson Ferreira Fontoura comentou algumas mudanças importantes no acordo da COP26. “Considerando que os quatro maiores produtores mundiais de gases estufa são, respectivamente, China, Estados Unidos, Índia e Rússia, destaco que a China e a Índia não ratificaram uma eliminação progressiva do uso de carvão, porém concordaram em promover uma diminuição gradual do uso deste combustível fóssil”, ressalta.  

Além disso, Fontoura ressalta o estabelecimento de uma agenda de cooperação entre EUA e China para a redução de gases de efeito estufa, com importantes investimentos chineses na produção de energia solar, e a volta dos EUA para a agenda climática. “Já a Rússia se comprometeu a neutralizar suas emissões até 2060, enquanto a Índia, pela primeira vez, prometeu atingir este objetivo para 2070, vinte anos após o objetivo global da cúpula, que seria 2050”, adiciona. 

O papel do Brasil neste cenário 

O Brasil, em função da matriz energética com abundantes fontes hidroelétricas, grande produção de etanol, assim como pela expansão no uso de energia eólica e solar, não é um dos vilões no consumo per capta de combustíveis fósseis. “Na verdade, estamos muito abaixo das principais economias mundiais como emissores de carbono decorrente de combustíveis fósseis”, explica o diretor do IMA. 

Por outro lado, existe uma grande preocupação em relação as perdas significativas de cobertura vegetal na expansão da fronteira agrícola para a Amazônia e Cerrado. Para isso, temos o Código Florestal, uma legislação ambiental que protege 80% da cobertura vegetal florestal em cada propriedade da Amazônica Legal (50% se a propriedade for inserida em municípios com grandes reservas indígenas ou unidades de conservação).  

“O Brasil deve estar atento em aplicar de forma correta sua legislação ambiental, com responsabilização efetiva de qualquer ação que implique em supressão ilegal de cobertura florestal”, complementa.  

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O mundo em alerta 

Assim como a COP26, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), órgão da Organização das Nações Unidas, também alerta para as mudanças recentes no clima causadas pela influência humana. A prévia do próximo relatório que deve ser divulgado em 2022 traz constatações de inúmeros estudos realizados por milhares de cientistas que formam o painel.   

Para o diretor do Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais (IPR) Felipe Dalla Vecchia, um dos pontos mais importantes do novo levantamento está na linguagem usada nas conclusões principais. “Ao contrário de relatórios anteriores, quando a ação humana sobre o clima era tratada como muito provável ou extremamente provável, o relatório atual coloca essa relação como inequívoca”, explica. Tal alteração no clima fará com que eventos climáticos extremos ocorram cada vez com mais frequência, gerando por exemplo, perdas para a agricultura e pecuária, problemas de saúde pública e escassez de água para consumo humano. 

Em artigo publicado pela Zero Hora, o pesquisador do IPR Rodrigo Sebastian Iglesias explica que o aumento de temperatura global em mais de 1ºC observado desde a Revolução Industrial só consegue ser explicado incluindo os gases de efeito estufa nessa equação, cuja concentração no ar aumentou 50% neste período devido ao uso intenso de combustíveis fósseis. “Um aumento de um ou dois graus na temperatura pode parecer pouco, mas o equilíbrio do sistema climático da Terra é delicado, e pequenas variações podem trazer impactos imprevisíveis no futuro”, alerta o pesquisador. 

Atenção para o futuro 

De acordo com os pesquisadores do IPR, os cenários para os quais ainda é possível manter o aumento de temperatura em 2 graus até 2100 (em relação ao período 1850-1900) consideram a necessidade de atingirmos emissões negativas a partir de 2050. Para tanto, serão necessárias ações em diferentes áreas, desde tecnologias e processos que removam CO2 da atmosfera, processos que mitiguem as emissões associadas a fontes estacionárias (termelétricas e produção de cimento, por exemplo), uso de combustíveis de baixa intensidade de carbono (etanol e biodiesel), além da participação de uma fatia maior de energias renováveis no grid de energia. 

Outro ponto salientado é que muitas das mudanças climáticas já são irreversíveis em escala de séculos e até milênios, considerando o que já emitimos de gases de efeito estufa desde a era pré-industrial, como resultado do uso de combustíveis fósseis, da produção industrial, desmatamentos e avanço de fronteiras agrícolas. “Por exemplo, nenhum cenário de emissões futuras prevê que o nível do mar deixará de subir ainda neste século. O mesmo ocorre para a acidificação e desoxigenação de oceanos, esse processo ainda vai perdurar por centenas de anos, porque os oceanos reagem muito mais lentamente a mudanças na atmosfera”, adiciona Dalla Vecchia. 

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Projetos desenvolvidos na PUCRS 

Laboratório NT-Solar, energias renováveis

Escola Politécnica conta com Núcleo de Tecnologia em Energia Solar / Foto: Bruno Todeschini

A Universidade entende a urgência da discussão sobre o impacto do homem na natureza e desenvolve pesquisas em diferentes áreas do conhecimento. Entre eles está o projeto internacional financiado pela União Europeia pelo programa Erasmus+ coordenado pelo Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE) e co-coordenado pelo Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, onde se pretende reduzir o impacto ambiental das instituições de ensino superior. Através deste projeto a PUCRS está desenvolvendo o Programa de Gestão Ambiental, o qual se encontra em fase de análise pela administração superior da universidade. 

Já entre os projetos desenvolvidos no Instituto do Petróleo e dos Recursos Naturais, destaca-se a pesquisa de mecanismos de sequestro de carbono através da carbonatação de resíduos industriais, aquíferos salinos e rochas-reservatório. Para Dalla Vecchia, a complexidade do tema exigirá um esforço global no desenvolvimento de pesquisa de ponta, sendo que o somatório de todas as diferentes tecnologias é o que poderá fazer a diferença para os objetivos de 2050 e 2100.  

Pensando nisso, dezenas de projetos voltados para a mitigação de mudanças climáticas já foram desenvolvidos pelo IPR ao longo dos seus mais de 15 anos de atuação. O Instituto está à frente, por exemplo, de projetos que objetivam desenvolver tecnologias para uso sustentável e ambientalmente correto de petróleo e gás natural, garantindo o fornecimento de energia para as demandas da sociedade.  

Projetos de pesquisa em parceria com a indústria na área de bioenergia associada com CCS (BECCS), uso de microrganismos e microalgas para a produção de produtos e combustíveis de baixa intensidade de carbono, armazenamento de CO2 e mineralização de rochas basálticas e produção de hidrogênio verde também estão no portfólio de projetos e pesquisas desenvolvidos pela equipe de professores e pesquisadores do IPR. 

Além disso, a PUCRS conta também com o Núcleo de Tecnologia em Energia Solar, da Escola Politécnica, que é o único centro de pesquisa e desenvolvimento na América Latina projetado para desenvolver e caracterizar células solares e módulos fotovoltaicos em escala piloto e de um curso de engenharia em energias renováveis. 

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