25/03/2022 - 14h31

250 anos de Porto Alegre: pesquisas fomentam desenvolvimento sustentável da capital  

Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, que tem mais de 20 anos de trajetória, desenvolve diversos projetos em prol da biodiversidade e inovação de Porto Alegre  

Foto: Giulian Serafim/PMPA

A demanda por recursos naturais, juntamente com a necessidade de conservação ambiental para as gerações futuras, representa um conflito cada vez mais presente nas relações dos humanos com a natureza. Em Porto Alegre, os recentes debates giram em torno da preservação dos rios, da fauna e da flora. Em seus 250 anos, a capital é reconhecida pelo aporte de diversos rios importantes que representam um enorme recurso hídrico para a cidade.  

O professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Nelson Ferreira Fontoura possui uma trajetória de pesquisas que contribuem para o campo da ecologia aquática. O docente explica que Porto Alegre é uma cidade privilegiada em relação a outras capitais brasileiras, como Florianópolis, Curitiba e São Paulo em relação à disponibilidade de água. Isso se deve ao aporte de diversos rios importantes que formam o lago Guaíba: Jacuí, Caí, Sinos e Gravataí, além de rios menores como Dilúvio, Petim, Araçá, dente outros.  

Fontoura também atua como diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS (IMA), criado em 1998, com o objetivo de promover ações em prol do meio ambiente. O IMA realiza diversos projetos importantes para o estado do Rio Grande do Sul e, especialmente, Porto Alegre, como o Diagnóstico e Monitoramento Ambiental do Arroio Dilúvio e Análise de Distribuição de Peixes no Lago Guaíba. 

Diversidade da Fauna 

Pesquisadores verificaram grande diversidade de peixes e invertebrados / Foto: arquivo pessoal

O Guaíba representa um enorme recurso hídrico para Porto Alegre. Mesmo que seja relativamente raso, com profundidades menores de dois metros e meio na maior parte da sua extensão, o lago apresenta comprimento de cerca de 50 quilômetros e largura máxima de aproximadamente 19 quilômetros. Além disso, de acordo com estudo desenvolvido pelo IMA, mesmo com agressões históricas ao Lago Guaíba, a fauna de peixes e invertebrados aquáticos ainda é abundante e bem distribuída.  

Com o projeto A distribuição de peixes e invertebrados no lago Guaíba como subsídio para o licenciamento ambiental, foi possível evidenciar que o Guaíba apresenta ainda grande diversidade faunística com espécies de peixes oriundas dos grandes rios, como a piava e o grumatã, ou que chegam de águas oceânicas, cruzando a Laguna dos Patos, como a tainha, o bagre-branco e a corvina.  

Através do extenso trabalho de amostragem realizado durante o estudo, os pesquisadores do IMA verificaram que mesmo junto à cidade de Porto Alegre, onde os impactos ambientais são maiores, uma grande diversidade de peixes e invertebrados é encontrada.  

Condições ambientais 

Pesquisa avalia qualidade da água do Arroio Dilúvio / Foto: arquivo pessoal

Com a implantação do Programa Integrado Socioambiental (Pisa,) da Prefeitura de Porto Alegre, melhores condições ambientais para o Lago Guaíba têm sido verificadas ao longo do tempo. As obras tiveram início em 2007 e implantaram a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da Serraria, assim como extensa rede coletora e distribuidora do esgoto cloacal. De acordo com Fontoura, isso ampliou significativamente o tratamento do esgoto doméstico da capital gaúcha. Porém, segundo o docente, ainda há muito o que fazer. 

Para o pesquisador, o Arroio Dilúvio é um exemplo emblemático. “Ao longo das duas margens do arroio, no eixo da Avenida Ipiranga, existem canalizações instaladas pelo programa Pisa que interceptariam o esgoto cloacal, desviando o mesmo para tratamento na ETA da Serraria. Mas o Dilúvio continua com uma qualidade de água bastante ruim”, explica.  

Essas conclusões foram evidenciadas pela pesquisa Diagnóstico e Monitoramento Ambiental do Arroio Dilúvio (eixo Ipiranga), também realizada pelo IMA. Conforme o estudo, a qualidade da água ruim deve-se à uma extensa e antiga rede de esgoto mista, que mistura o esgoto pluvial, proveniente da drenagem da chuva, com o esgoto doméstico, que assim ainda chega ao Dilúvio em quantidades expressivas. A solução demandaria ainda grandes investimentos na rede coletora de esgotos, de forma a promover uma separação completa do esgoto cloacal e pluvial. 

Guaíba mais limpo 

Foto: Giulian Serafim/PMPA

Outro ponto que preocupa nos debates e estudos sobre preservação do meio ambiente é a ocupação irregular do solo. Ao longo de anos, populações carentes foram ocupando as encostas dos morros e as margens dos arroios urbanos, em áreas que seriam protegidas por lei (Área de Preservação Permanente – APP). Fontoura explica que muitos dos problemas do Arroio Dilúvio estão relacionados às suas nascentes, como no município de Viamão, com a ocupação irregular das margens da Represa da Lomba do Sabão.  

De acordo com o pesquisador, esta população, em grande parte, não tem acesso à saneamento básico e recolhimento de lixo, seja por dificuldade de acesso dos caminhões do DMLU, que não conseguem passar pelas vielas estreias, seja por se tratar de regiões controladas pelo tráfico de drogas.    

“Embora estejamos no caminho certo para um Guaíba mais limpo, muito ainda resta por ser feito, exigindo planejamento e investimentos, assim como uma gestão coordenada dos vários municípios envolvidos com o Governo do Estado. Em se tratando de meio ambiente, planejamento de longo prazo e coordenação das diversas esferas da administração pública são essenciais”, finaliza.

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