E-book do pesquisador André Salata retrata a percepção da população a respeito das classes sociais e econômicas no País
Por: Bianca Garrido Dias
Quem faz parte da Classe Média no Brasil? Quem se percebe e é percebido como parte dela? O que é necessário para integrar-se à mesma? A partir desses questionamentos, o professor do curso de Ciências Sociais da Escola de Humanidades da PUCRS, e coordenador do Centro de Pesquisas em Democracia (CBPD), André Salata, pesquisou o tema por quatro anos. Sua tese, defendida em 2014, foi transformada no e-book A Classe Média Brasileira: posição social e identidade de classe. O livro está disponível para download neste link.
Além da percepção de que algo estava mudando no País em relação a questões econômicas e sociais, uma das motivações de Salata para o trabalho foi a divulgação de uma pesquisa publicada pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), onde se afirmava que o Brasil havia se tornado, em 2008, um país de Classe Média. No estudo consta que, entre os anos de 2003 e 2008, devido aos avanços na economia e melhor distribuição de rendimentos, a maior parte da população brasileira já se encontrava em uma camada intermediária de renda, que seria a Classe C ou a Nova Classe Média. “O interesse do meu trabalho se dá em buscar saber como as pessoas percebem sua posição social em relação à Classe Média. Em vez de entrarmos na discussão a respeito da melhor definição de Classe Média ‘no papel’, analiso as atuais disputas em relação à sua redefinição”, explica. O professor também buscou verificar a imagem que os brasileiros têm da classe média, e o que consideram ser importante para que alguém faça parte desse grupo.
Durante a pesquisa, Salata misturou dados quantitativos e qualitativos. Na parte qualitativa, ele entrevistou moradores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, que responderam a questões envolvendo renda familiar, escolaridade, consumo, renda, identidades, representações, valores e percepções. Metade dos entrevistados tinha nível socioeconômico típico do intervalo de renda “C”, enquanto a outra metade apresentava perfil socioeconômico mais próximo da camada “AB”. “Essa foi uma das partes mais relevantes do trabalho, quando pude conversar com as pessoas, conhecer suas histórias de vida. Também foi importante para compreender como os grupos percebiam sua posição social, reivindicando ou não fazer parte da Classe Média”, diz. “Para a grande maioria dos entrevistados, quem faz parte da classe média tem casa própria, carro, plano de saúde, viaja bastante e tem filhos em escolar particular”, afirma Salata.
Já a análise quantitativa avaliou dados do Survey Sobre a Classe Média Brasileira (Cesop-Unicamp), coletados pelo Ibope, que possui informações a respeito das identidades de classe e da percepção das pessoas sobre as características de quem integra aquela classe, já citadas anteriormente.
Por fim, o pesquisador concluiu que integram essa classe no País as camadas socioeconomicamente mais privilegiadas da população: aqueles que possuem educação superior, renda alta, plano de saúde, frequentam teatros, cinemas, e fazem viagens internacionais. “Assim, os ganhos na esfera econômica não teriam sido suficientes para garantir a incorporação, à Classe Média, daquele contingente de indivíduos e famílias que na última década ascenderam ao nível C de rendimentos”, afirma.