Fernando Naiditch fala sobre inovação e desafios na educação nos EUA e Brasil
Com experiência nos contextos socioeducativos brasileiro e norte-americano, Fernando Naiditch, professor brasileiro na Montclair State University em Nova Jersey (EUA), está na PUCRS desde março a convite do Programa de Pós-graduação em Educação, da Escola de Humanidades. Especializado em interculturalidade na aquisição e educação de segunda língua, Naiditch foi professor da PUCRS na década de 90 e, desde 2000, mora nos Estados Unidos.
Natural de Porto Alegre, o docente atualmente ministra a disciplina de Princípios de Educação Multicultural na PUCRS e participa do grupo de pesquisa Processos Motivacionais em Contextos Educativos, com a professora Bettina Steren dos Santos. Autor de diversos artigos, Naiditch tem suas pesquisas focadas na área de educação multilíngue e multicultural e no ensino linguística e culturalmente responsável.
Formação prática
Questionando sobre o que é a inovação dentro da formação para novos professores, o profissional é enfático: é preciso aproximar a teoria e a prática dos estudantes. Para Naiditch, os alunos das licenciaturas devem conhecer a realidade da sala de aula desde o início de sua formação.
“Cada vez mais vejo um incentivo para o estudante reconhecer o ambiente educativo desde cedo nos Estados Unidos”, comenta. Os modelos curriculares norte-americanos têm se modificado para garantir vivência e, consequentemente, aprendizagem prática ao longo de toda a graduação.
Entre os benefícios de tais práticas, Naiditch destaca a compreensão do aluno a respeito de seu papel como educador, sua capacidade de adaptação e aprendizado potencializado diante diferentes realidades. “O professor que vive a sala de aula desde o começo de sua formação estará mais preparado para os desafios que a profissão exige diariamente”, completa.
Educação multicultural
Naiditch também comenta sobre boas práticas que, cada vez mais, precisam e merecem ser discutidas. “Devemos desenvolver a consciência dos estudantes e dos professores para o multiculturalismo e a diversidade”, adiciona.
O professor destaca como os fluxos migratórios no Brasil, por exemplo, devem alterar ainda mais as dinâmicas em sala de aula. “Nova York é uma cidade onde encontramos pessoas de diferentes países e culturas. Precisamos constantemente fazer com que esses indivíduos se sintam inclusos em nosso programa educacional. Vejo que isso será uma realidade cada vez mais presente no Brasil”, comenta.
Com a presença gradativamente mais frequente de imigrantes haitianos, senegaleses e venezuelanos no Brasil, os professores precisam estar, mais do que nunca, preparados para uma postura multicultural. Reconhecer as diferentes culturas e realidades pode contribuir para que esses alunos se vejam no ambiente educacional, seja trazendo novos autores, atividades ou dinâmicas interculturais.
“Os Estados Unidos tiveram que repensar o papel da escola em função desse novo cenário. As escolas americanas mudaram dramaticamente nas últimas décadas e há hoje uma distância sociocultural muito grande entre professores e alunos, o que evidencia um afastamento ainda maior entre as línguas, culturas, etnias, raças e poder socioeconômico representados nas salas de aula. Mais que nunca, há uma urgência de se preparar educadores capazes de incorporar múltiplas perspectivas e diversas vozes na conversa educacional e na prática pedagógica”, explica.
Naiditch completa dizendo que a sociedade precisa garantir oportunidades iguais e os devidos meios para a educação de todos os estudantes. “Acima de tudo, necessitamos de um esforço coletivo para eliminar diferenças raciais e socioeconômicas. Só assim conseguiremos preparar cidadãos para a vida numa sociedade livre e democrática. Quando a escola falha, a nação falha com seus cidadãos”, conclui o docente.