Artigo assinado por Ir. Evilázio Teixeira, Reitor da PUCRS
O incansável Herbert de Souza (Betinho) dizia que “um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura.” Foi com esse propósito que a PUCRS, juntamente com a Arquidiocese de Porto Alegre, lançou a semente do projeto que agora se torna realidade por meio de Protocolo proposto pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul e desde já assumido por diversos parceiros que realizarão ações concretas para combater a fome e o desperdício de alimentos em Porto Alegre. O projeto tem por base a recente lei federal que autoriza restaurantes, supermercados e outros estabelecimentos dedicados à produção e ao fornecimento de alimentos a doar os excedentes não comercializados e ainda próprios para o consumo.
Nossa expectativa é colhermos resultados concretos imediatos e trabalharmos para no futuro termos uma lei como a francesa, em que toda a cadeia produtiva contribui para até 2025 reduzir pela metade o desperdício de alimentos naquele país. Também nos inspira o objetivo da Agenda 2030, que espera acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas, em particular os pobres e pessoas em situações vulneráveis, incluindo crianças, a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano.
Vivemos numa civilização que idolatra a produção, o consumo e o dinheiro como valores supremos, onde tudo é medido em termos de operosidade e de eficiência e, muitas vezes, esquecemos de valores como justiça, solidariedade, liberdade e igualdade. Fatores de suma importância para a sociedade e que vem nos preocupando muito no que se refere às disparidades existentes em nosso meio. Nesse sentido, não é mais possível aceitar que milhares de pessoas passem fome em nossa cidade enquanto toneladas de alimentos em condições de consumo são jogados no lixo.
Nosso olhar para esse compromisso mundial precisa começar em algum lugar: na nossa casa, no entorno de nossa casa, no bairro, na cidade. Nossa busca é por uma coalisão de esforços para mudar essa realidade. Não se substitui os deveres do Estado, mas as organizações da sociedade civil podem e devem corroborar com uma cidadania em que todos os atores sociais participam e protagonizam – a partir das suas possibilidades e expertises – para uma nova sustentabilidade planetária e humanismo.