Reportagens sobre desigualdade social no Brasil foram ao ar nos dias 8, 9 e 12 de fevereiro
A desigualdade social aumentou no Brasil durante a pandemia. É o que mostra um estudo realizado em uma parceria entre PUCRS, Observatório das Metrópoles e Observatório da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). A pesquisa inspirou uma série de reportagens, exibida no Jornal Nacional nos dias 8, 9 e 12 de fevereiro de 2021. Os pesquisadores utilizam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicam, trimestralmente, boletins da desigualdade.
Composta por três episódios, a série de reportagens abordou a desigualdade em diferentes aspectos: na educação, na economia e no mercado de trabalho. André Salata, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e um dos coordenadores da pesquisa, concedeu entrevistas ao Jornal Nacional. Entretanto, como apontado por Salata, essa não é a primeira grande divulgação da pesquisa: os resultados do estudo já foram manchete de capa em importantes jornais brasileiros, o que demonstra que os pesquisadores conseguiram atingir seu propósito – romper com a “barreira” entre a academia e a sociedade, levando a público suas descobertas em uma linguagem acessível a todos.
“Infelizmente o Brasil é um país muito propício para quem trabalha com desigualdades, pois, há décadas, é um dos mais desiguais do mundo. Além disso, desde 2015, essa questão começou a se agravar, tendo sido ainda mais intensificada durante a pandemia. As desigualdades trazem diversas consequências, como a pobreza”. Explica o professor, que acrescenta ser necessário chamar a atenção para esse assunto de forma que o debate público sobre a desigualdade aconteça. Para Salata, o fato de a pesquisa ter sido divulgada na TV aberta e em rede nacional demonstra que esse objetivo foi alcançado.
O que mostram as reportagens
Desigualdade na Educação: De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação, os alunos devem dedicar, no mínimo, quatro horas diárias para os estudos. Entretanto, durante a pandemia, a média foi de 2,37 horas por dia e a desigualdade é visível: alunos de classes sociais mais altas ultrapassaram esse tempo, tendo estudado, diariamente, 3,19 horas, enquanto os mais pobres apenas dedicaram 2,04 horas ao aprendizado. Regionalmente, também há desigualdades: os alunos da região Norte foram os mais excluídos, enquanto alunos do Sudeste, de Goiás, do Distrito Federal, do Pauí e do Ceará foram os que mais tiveram tempo para dedicar aos estudos. A educação pode ser a chave para a mudança de vida das pessoas de baixa renda e a desigualdade nessa área, com a dificuldade de acesso às aulas por estudantes das classes mais baixas, causa danos muito grandes, aumentando, também, a desigualdade de oportunidades.
Desigualdades na Economia: Além de as pessoas estarem perdendo renda, André Salata explica que sua distribuição não está sendo feita de maneira igualitária. Com a queda na atividade durante a pandemia, no período de recuperação, ricos tendem a ficar ainda mais ricos e pobres, mais pobres: os 10% mais ricos do País perderam apenas 3% de sua renda na pandemia, enquanto a quantidade perdida entre os 40% mais pobres foi de 32%, descontando o auxílio emergencial, que amorteceu o impacto e reduziu, um pouco, a desigualdade. Mesmo assim, o professor aponta que o mercado de trabalho não deve se recuperar tão rápido e que o fim do auxílio traz um cenário preocupante.
Desigualdades no Mercado de Trabalho: No mercado de trabalho. o cenário também é desigual: para conseguir manter sua posição social e o rendimento, é necessário ter qualificação, o que muitas vezes não é a realidade das classes sociais mais baixas, retornando ao problema da Educação desigual, aponta Salata. Após a queda causada pela pandemia, deverão se recuperar os setores financeiro, tecnológico, telecomunicações, imobiliário e parte do varejo; enquanto continuarão em queda o lazer e a hotelaria, as viagens, a alimentação, os serviços domésticos e outros serviços. Os trabalhadores informais, que não têm proteção, são os primeiros a sentir os efeitos da crise, sendo facilmente descartados pelo mercado de trabalho e, tendo as maiores perdas na renda.
A série de reportagens pode ser conferida no site do Jornal Nacional e a pesquisa completa está disponível no site do Observatório das Metrópoles.
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