Ainda em 2018, uma pesquisa do PPG em História da PUCRS analisou a influência da aviação na proliferação dos vírus
Em fevereiro, os primeiros casos da doença foram registrados no México. Já em março, o governo emitiu um alerta epidemiológico que pedia o fortalecimento da vigilância. Durante o mês de abril, a situação já era considerada uma emergência de saúde pública de importância internacional, com os primeiros casos anunciados nos Estados Unidos. E não, não se tratava da pandemia da Covid-19, mas da H1N1. Comumente conhecida como Gripe Suína, a doença assustou o mundo ao matar mais de 18 mil pessoas em 2009. O alumni Henrique Helms, do Programa de Pós Graduação em História da Escola de Humanidades, analisou, ainda em 2018, a influência da aviação para essa e outras crises globais provocadas por doenças, antes mesmo do planeta saber da chegada do novo coronavírus. Em A aviação como vetor de disseminação de enfermidades: “As doenças que vêm voando”, Helms explica que mesmo com a importante tarefa da integração nacional e internacional, os transportes aéreos acabam favorecendo a disseminação de doenças. “A história pode levar a uma reflexão de longa distância sobre a evolução das mudanças tecnológicas e o impacto disso na saúde pública, […] que não incorpora uma conotação negativa, […] mas que acrescenta no sentido de ampliar o entendimento sobre as dimensões atingidas a partir do desenvolvimento aeronáutico”, destaca um trecho da tese.
“Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”
A frase do filósofo Edmund Burke se mantém atual, segundo Cláudia Fay, professora e pesquisadora da Escola de Humanidades da PUCRS e orientadora da pesquisa na época. “Quando uma pandemia como a da Covid-19 acontece, olhamos para o passado e perguntamos: como a História pode nos ajudar a compreender o momento atual? Ela pode nos ajudar? Penso que sim! A História talvez não tenha a mesma função da Medicina na descoberta de uma vacina, por exemplo, mas ela nos dá muitas explicações e entendimento sobre aquilo que um dia fomos”, conta.
O papel da História é verificar as informações, comparar acontecimentos e mostrar os fatos, ao mesmo tempo em que busca evitar os erros do passado, destaca Cláudia. Para a professora, a humanidade evoluiu em muitos aspectos, principalmente tecnologicamente, mas ainda precisa avançar em outros pontos:
A negação da ciência, a descrença na mídia e em veículos e órgãos internacionais também poderiam ser uma “falha no avanço da sociedade”, segundo Cláudia. Para ela, momentos de insatisfação da população, causadas pelo desemprego e a crise, por exemplo, devem ser períodos de atenção e combate aos retrocessos.
“É difícil dizer como prever o comportamento das pandemias, pois elas são muito diferentes. Mas o conhecimento histórico de como isso modifica o cotidiano das pessoas ajuda a enfrentar melhor esse período e pensar em alternativas”, conta Helms. Ele aponta que as principais semelhanças são as preocupações das pessoas e a rapidez com que a rotina muda: “Em um dia é apenas um caso de gripe em uma cidade isolada. Em pouco tempo se torna uma situação internacional e pandêmica”. Foi assim durante a peste negra; a varíola; o sarampo; a cólera; as gripes Espanhola, Asiática e de Hong Kong; entre muitas outras doenças. Como a capacidade de se comunicar atualmente é muito mais ágil, as pessoas tendem a agir mais rapidamente e se antecipar. “É importante que atitudes coletivas sejam tomadas para que a gente tenha segurança. Imagino que a pior ação é não tomar uma ação”, destaca o pesquisador.
As populações já foram relativamente isoladas umas das outras. No entanto, o contato entre os povos, flora e fauna foi aumentando de forma significativa. Com isso, o movimento das doenças se revelou uma grande força na formação da história do mundo, e com as guerras, cruzadas e migrações, as infecções acabaram sendo levadas às populações mais suscetíveis, explica o pesquisador. Leia também: Gripe espanhola pelos registros do acervo Benno Mentz da PUCRS
Ao reduzir o tempo de percursos, apesar do acesso restrito às pessoas com melhores condições financeiras, andar de avião se tornou uma ferramenta de poder. “Tudo que foi conhecido pela aviação modificou a cultura humana oferecendo chaves, visão de mundo e paisagens, mensagens compreendidas acima da barreira das línguas”, diz a pesquisa. Com a aviação comercial, essa disseminação ficou ainda mais abrangente, conforme o infectologista Stefan Ujvari, citado na pesquisa. “Na história da humanidade, nunca ocorreu tanta locomoção humana como nos dias atuais. […] O mundo é interligado por pessoas que se deslocam para comércio ou lazer (incluindo o ecoturismo), missionários, refugiados, imigrantes, estudantes e peregrinos. Os continentes são ligados continuamente por embarcações marítimas e, muito mais rápido, pelos aviões”, conta.
Apesar de ter se formado em Ciências Aeronáuticas pela PUCRS e ter atuado como piloto por anos, Henrique Helms sempre gostou de História. Durante seu mestrado estudou O panorama da aviação nacional de 1986 e a quebra da Varig e, posteriormente, sobre as pandemias ao longo do tempo no doutorado. Segundo ele, “as questões da humanidade tendem a se repetir” e, para evitar isso, é preciso olhar o passado. Além de professora e pesquisadora, Cláudia Fay é coordenadora do Grupo Interdisciplinar de estudos do desenvolvimento científico e tecnológico e do Laboratório de pesquisa em história oral da PUCRS.
Com nota 5 pela Capes, o PPG em História da PUCRS se destaca por ter docentes com formação acadêmica internacional, trabalhar com temas plurais e atuar de forma interdisciplinar. Com pesquisas sobre imigração, arte, política, cidades, crises, cultura e vários outros temas, as inscrições para novos alunos de mestrado e doutorado estão abertas até 19 de junho.
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