Estudo conduzido pelo professor Moisés Bauer, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, debate sobre como nossas células podem ser impactadas pelo estresse
O estresse psicológico acelera o envelhecimento fisiológico e imunológico em vários aspectos. Isso é o que foi estudado por Moisés Bauer, pesquisador e coordenador do Laboratório de Imunobiologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida. “Demonstramos essa relação pela primeira vez há mais de 20 anos, descrevendo altos níveis de estresse, ansiedade e depressão em idosos de 60 a 91 anos, muito saudáveis, que viviam de forma independente na região metropolitana do Rio Grande do Sul”, conta o professor.
De acordo com ele, essa sobrecarga emocional relacionada ao estresse aumentava níveis do hormônio cortisol (marcador biológico do estresse) no organismo e debilitava a capacidade de proliferação dos linfócitos T, uma importante função da nossa imunidade celular, implicada na defesa contra vários patógenos, incluindo vírus e câncer.
“Vimos que idosos cronicamente estressados (cuidadores de pacientes com Alzheimer, por exemplo) têm essa imunidade celular ainda menor quando comparados a idosos não estressados. Essa redução foi também associada a níveis elevados do hormônio cortisol”, completa Moisés.
O pesquisador explica que o estresse pode acelerar o principal relógio biológico já estudado, diminuindo o tamanho das extremidades dos cromossomos (chamadas telômeros). Em cada etapa de divisão celular, os cromossomos ficam um pouco mais curtos na região dos telômeros. Para evitar um encurtamento expressivo e a perda de material genético relevante, as células se tornam senescentes, ou seja, perdem a capacidade de renovação celular e param de se dividir. O tamanho dos telômeros se relaciona inversamente com o envelhecimento cronológico.
“Sujeitos entre 20 e 50 anos com doenças crônicas, que têm grande sobrecarga de estresse emocional ao longo das suas vidas, como pacientes com transtorno bipolar do tipo I, apresentam mais células imunes senescentes no sangue e telômeros dos linfócitos mais encurtados do que sujeitos controles – sugerindo um envelhecimento biológico acelerado”, explica o professor.
Além disso, o estresse psicológico está associado com uma maior atividade inflamatória de base, com aumento de várias proteínas inflamatórias no sangue. O processo de envelhecimento aumenta gradualmente essa atividade inflamatória sistêmica (conhecida como inflammaging) que se relaciona com o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, metabólicas e câncer. O estresse antecipa o inflammaging e dessa maneira acelera o envelhecimento em jovens adultos com transtornos do humor (como depressão).
“Sabemos hoje que esse aumento de inflamação relacionado ao estresse agrava os transtornos do humor, e drogas anti-inflamatórias são eficientes para tratar esses pacientes”, adiciona o pesquisador. Segundo ele, a sobrecarga emocional, em qualquer etapa na vida, está associada com uma imunossenescência mais acelerada, imunidade mais baixa, com mais células senescentes (com telômeros encurtados) e maior atividade inflamatória de base.
A pesquisa conduzida pelo pesquisador Moisés Bauer integra as linhas de pesquisa em neuroimunologia e imunossenescência. Os estudos são conduzidos com diversos parceiros nacionais e internacionais, além de fazer parte de redes temáticas dentro e fora do Brasil.
Atualmente, o grupo de pesquisa Imunologia do Estresse, coordenado por Bauer, desenvolve projetos que visam analisar a relação da imunossenescência com a Covid-19, tanto na identificação de idosos da comunidade com maior risco de desenvolvimento de infecções graves (em parceria com o professor Douglas Sato) bem como em adultos hospitalizados com Covid-19 grave (em parceria com o professor Marcus Jones e a professora Florencia Barbé Tuana).
No início de setembro, o professor Moisés Bauer ficou entre os dez principais pesquisadores na área de imunossenescência no site Expertscape. A plataforma ordena pesquisadores, clínicos e instituições em mais de 29 mil tópicos biomédicos. A partir do ranqueamento mundial em cada área específica, seleciona os especialistas no assunto. A pesquisa foi feita com as produções nos últimos dez anos (2011-2021), totalizando 1015 artigos publicados neste período.
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