Ricardo Barberena e outros intelectuais de países de língua portuguesa estão reunidos para discutir o futuro do idioma
O diretor do Instituto de Cultura da PUCRS, professor Ricardo Barberena, embarcou para Portugal na semana passada como convidado do Ciclo Cidadania da Língua, que faz parte da Feira do Livro de Coimbra, em Portugal. Promovido pela Associação Portugal-Brasil 200 anos (APBRA), o evento teve início no dia 23 (sexta-feira) termina no próximo domingo, dia 2 de julho. A feira conta com a participação de personalidades da cultura, literatura e educação de países de língua oficial portuguesa. Já estiverem presentes nomes como Yara Nakhanda Monteiro (escritora luso-angolana), Djamila Ribeiro (filósofa e escritora brasileira), Rafael Gallo (vencedor do prêmio literário José Saramago), e Laurentino Gomes (historiador).
O evento tem como eixo principal o debate sobre o futuro do idioma, trazendo reflexões sobre a língua portuguesa enquanto território e buscando fortalecer a cooperação e o diálogo entre os países que a adotam. A programação surgiu após entrar em prática, em Portugal, o Acordo sobre Mobilidade entre os Estados membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que garante facilidades de residência e locomoção de cidadãos entre os nove países signatários. Com a aprovação do acordo, o conceito de cidadania da língua deixou de ser apenas uma ideia, tornando-se uma realidade legislada.
Leia mais: 5 poetas brasileiros que você precisa conhecer
No domingo (25), Ricardo Barberena participou do debate Trânsitos, arte e literatura, junto com Andréa Nogueira (coordenadora do SESC), Jamil Chade e Samantha Buglione (curadores da APBRA). As questões norteadoras do bate-papo foram: Quais os desafios e potencialidades atuais para os trânsitos na arte e literatura entre os pais de língua portuguesa? Quais os desafios enfrentados pelos artistas e curadores nos países de língua portuguesa? Como as instituições culturais podem trabalhar em conjunto para ampliar o acesso às artes e à literatura (dos e) entre os países de língua portuguesa?
Em sua fala, o professor Barberena contrapôs a lógica por detrás das ideias de nação e de cidadania da língua, partindo de conceitos estabelecidos por dois teóricos: Ernest Renan e Homi Bhabha. Para Renan, a nação é aquilo que escolhemos esquecer ao fazer uma narrativa oficial e historiográfica e seguindo o conceito de Bhabha, a nação é uma narração, uma visão metonímica, provisória, que busca estabelecer uma síntese dentro da diferença. A cidadania da língua, por outro lado, não quer impor uma unidade calcada na homogeneização dos países que adotam a língua portuguesa como idioma oficial.
“Pensar numa cidadania da língua é pensar numa união na diferença, quase uma aporia, um paradoxo, porque os diferentes países de língua portuguesa têm diferentes culturas, têm diferentes formas de falar o português. Não é mais ficar em uma unidade, mas pensar em uma constelação, pensar em uma interculturalidade.”
A busca por uma cidadania da língua portuguesa permite a fuga de uma visão encastelada e estável de identidade nacional, que flerta com determinados estereótipos e que é construída a partir de um lugar de poder. Embora ainda haja muito a se avançar nesse sentido, adotar esse viés de cidadania é um convite para a criação de pontes: “É pensar a cultura e a interculturalidade como essa grande possibilidade de conexões, diálogos, limiares e, sobretudo, de um exercício radical de alteridade”, afirma o diretor do Instituto de Cultura, que participa de mais uma hoje (28), intitulada Os desafios da nova cidadania.
Leia também: Como transformar o hábito da leitura em uma profissão