Dissertação sobre Ciências Sociais desenvolvida na PUCRS é reconhecida como a melhor do País

Marcelli Cipriani Rodrigues recebeu a distinção nacional em concurso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais

02/03/2021 - 08h57
Cadeia

Foto: Unsplash

Mestre pelo Programa de pós-graduação em Ciências Sociais (PPGCS) da Escola de Humanidades, Marcelli Cipriani Rodrigues recebeu o prêmio de melhor dissertação do Brasil em concurso realizado pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpoc), que selecionou a melhor tese e dissertação em Ciências Sociais em 2020. Sob orientação do professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, Marcelli estudou a relação entre o aumento dos homicídios em Porto Alegre e a queda desses crimes na Cadeia Pública da capital. 

A dissertação intitulada Os coletivos criminais de Porto Alegre: entre a “paz” na prisão e a guerra na rua já havia sido premiada na etapa regional do concurso , em dezembro, representando o Sul e o Centro-Oeste. Posteriormente, foi escolhida por um júri internacional como a melhor dissertação do Brasil na área.  

“O prêmio conquistado por Marcelli é consequência direta da excelência do trabalho da pesquisadora. Isso também evidencia a qualidade do trabalho desenvolvido pelo nosso PPG – representado aqui pelo professor Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, orientador de Marcelli  – na formação de mestres e doutores. Finalmente, cabe destacar que essa conquista é mais um indicador consistente da presença da PUCRS no âmbito da pós-graduação brasileira”, afirma o coordenador do PPGCS Rafael Madeira. 

Movimentos de guerra e paz 

Em sua pesquisa, Marcelli teve o objetivo de investigar a coexistência entre a progressiva redução dos índices de mortes, motins e rebeliões ocorridos na Cadeia Pública de Porto Alegre – a “pacificação” – e o considerável aumento de homicídios ocorridos nas ruas, durante o período que ficou conhecido como “a guerra das facções”. “Pude apurar que a guerra resultou de uma reordenação das dinâmicas do crime no município, que passou a se articular não meramente em grupos criminais, mas mobilizando suas ações, primordialmente, de duas formas: frentes de aliança compostas por vários grupos e redes de favores e serviços que marcam, por oposição, quem são os inimigos 

Com isso, os confrontos adquiriram outra dimensão, passando da escala micro local – enfrentamentos pontuais entre um e outro grupo – para outro nível, que agrega uma gama de aliados e inimigos. Além disso, como conta Marcelli, a guerra não estava associada, inicialmente, a disputas territoriais, mas à afirmação do poder e à necessidade de desqualificar os rivais, o que fez com que os homicídios adquirissem um caráter simbólico, tornando-se um meio de possível provocação ao rival.  

“Apurei, também, que, para consolidarem-se nas ruas, os coletivos lançam mão do espaço prisional, onde grandes trocas comerciais são firmadas e alianças estratégicas são estabelecidas. Durante o conflito, esse recurso possibilitou a entrada de novos adeptos às organizações das facções fora da prisão, projetando essas alianças no território urbano”, explica Marcelli.  

Entretanto, para assegurar a autonomia e o controle das galerias prisionais, os presos devem contribuir na manutenção do sistema em “paz”, além de serem incorporados em inúmeras funções e atividades necessárias à operacionalização cotidiana do presídio. Assim, a “pacificação” tornou-se vantajosa tanto aos grupos criminais quanto à administração: os primeiros se fortalecem e expandem cada vez mais suas alianças, enquanto a segunda assegura o funcionamento da prisão com tranquilidade, apesar do baixo investimento no sistema prisional e do índice galopante de aprisionamentos. 

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