O evento contou com sessão de autógrafos no Instituto de Cultura da PUCRS
Arthur Telló, escritor e professor da Escola de Humanidades, lançou seu primeiro livro, Os cadernos de solidão de Mario Lavale, pela Editora Zouk, no dia 7 de novembro, no Instituto de Cultura da PUCRS/Delfos. O evento, lotado por alunos e ex-alunos, amigos e colegas do corpo docente, contou com um bate-papo mediado pelo escritor e professor Pedro Gonzaga e pela escritora e aluna do curso de Graduação em Escrita Criativa Maria Williane, também responsável pelo projeto gráfico da capa. A abertura foi feita pelo diretor do Instituto de Cultura, professor Ricardo Barberena.
Os cadernos de solidão de Mario Lavale é um livro de contos que traz histórias de crises sentimentais, finais de relacionamento, morte, luto e silenciamentos. Apesar de apresentar diversidade temática, ter uma divisão por seções e transitar entre o cotidiano, o fantástico e o estranho, cada conto, como avaliou Pedro Gonzaga, “constrói-se como uma espécie de engrenagem em relação aos outros contos”. Isso resulta numa “obra coesa em sua multiplicidade e amplitude, que transborda o número de páginas”, de acordo com o mediador.
Quem fala?
Ao ser questionado sobre o processo de criação, Telló revelou que os contos foram escritos, ou reescritos, em 2018, momento em que foi surgindo uma figura que não era bem ele e que ganhou destaque dentro do livro: Mario Lavale, o dono dos cadernos de solidão. Essa ‘persona’, que aparece como personagem em alguns contos, tem sua onipresença garantida pelo título. O leitor aceita estar lendo seus escritos e, pouco a pouco, a descobre e a constrói a partir das histórias narradas.
Mesmo sob a presença dessa figura, o autor afirmou que o livro tem “pequenas tintas autobiográficas”, salientando, porém, a utilização de uma biografia distorcida, de maneira semelhante à que fazia Philip Roth em seus romances. Além do escritor norte-americano, o livro possui diversas outras influências, tendo uma temperatura que, como sintetizou Williane, “atravessa do iceberg de Hemingway até a escrita efervescente da América Latina”. Apresenta, como grande referência, o escritor uruguaio Mario Levrero, a quem Mario Lavale pode ser entendido como tributo.
A solidão
O autor declarou que, ao escrever a obra, quis “dar voz aos diferentes silêncios que foram aparecendo e sendo articulados no texto”. Um intento que deu origem a um livro cujo fio condutor, como sinalizou Maria Williane, é a solidão que atravessa as histórias, apresentada com uma força de identificação que não deixa o leitor fugir.
“Aceitem e entrem nesse jogo de máscaras que vão sendo depostas e recolocadas no seu devido lugar”, disse, ao final, Pedro Gonzaga. “Esse é o artifício mais potente que uma coletânea de contos pode ter”, concluiu. Assim como há, nos Cadernos de solidão de Mario Lavale, um jogo de máscaras, há também um desnudamento, que revela a intimidade de cada personagem. O livro é considerado uma experiência de leitura singular, que ressignifica o ato solitário de ler ao apresentar a solidão como o próprio elemento de conexão entre o leitor e as histórias narradas.