05/09/2023 - 17h09

Encerrando a programação cultural de agosto, Micheliny Verunschk visita o campus da PUCRS 

Nos dias 28 e 29, a escritora ministrou uma oficina de criação literária e participou do bate-papo de lançamento do seu novo livro 

Micheliny Verunschk no Ateliê PUCRS Cultura / foto: Giordano Toldo

No início do mês de junho, a editora Companhia das Letras publicou o livro Caminhando com os mortos e, desde então, Micheliny Verunschk tem ido de uma cidade à outra para participar de lançamentos e eventos culturais. A autora, que completa vinte anos de carreira literária em 2023, desembarcou pela primeira vez em Porto Alegre na semana passada, a convite do Instituto de Cultura da PUCRS. Depois de participar da Festa Literária de Morretes no sábado (26), Micheliny pegou um avião de Curitiba para a capital gaúcha na segunda-feira (28) pela manhã. Às 14h, já estava na Universidade para dar início ao primeiro encontro da oficina de escrita criativa que ofereceu dentro da programação do Ateliê PUCRS Cultura – Espaço de Cultura e Criação.

Quais as fronteiras da palavra em ficção? O quanto estamos dispostos a distender seus limites para nos misturarmos ao Outro? E quem é esse Outro? Essas são algumas das perguntas que nortearam a oficina A palavra é onça, fruto das pesquisas feitas por Micheliny para a escrita do romance O som do rugido da onça, lançado em 2021 e agraciado com o prêmio Jabuti na categoria Romance Literário em 2022. Em dois encontros de três horas, a atividade reuniu um público composto por escritoras da cena local porto alegrense, bem como por pessoas que experimentaram pela primeira vez a criação literária. “Não é fácil quebrar o relógio da rotina pra experimentar, na essência do termo, mas sinto que é sempre esse o convite dos vários eventos e cursos oferecidos pelo Ateliê PUCRS Cultura”, relatou Maria Williane, graduada e mestra em Escrita Criativa pela PUCRS, que participou da atividade em ambas as datas: “Escrevemos, sim, como era previsto, mas foi tudo além: a partilha individual e coletiva, os textos, canções e referências que serviram de iluminação, ponto de partida e análises, o uso subversivo da linguagem, como um retorno a uma terra esquecida por nós e a nós mesmos como seres além do tempo e do espaço.”

Ao longo da oficina, as participantes foram encorajadas a pensar a palavra para além do humano. Partindo de referências diversas, como mitos de origem e narrativas de povos originários, exercitaram não só a escrita, mas também a expansão do olhar sobre o mundo. Imaginar o encontro com uma onça, escrever a partir da perspectiva da onça, observar o comportamento dos diferentes animais que povoam o dia a dia e as memórias afetivas de cada um, eis algumas das propostas responsáveis por transformar a curta passagem de Micheliny Verunschk pela PUCRS em uma experiência imersiva.  

A Micheliny foi uma inspiração poderosa, trazendo referências indígenas, anticoloniais e até zoológicas. Além de aprender muito, saí do curso cheia de ideias e textos começados. Espero que essa onça volte a nos visitar em breve. – Julia Dantas, escritora e doutora em Escrita Criativa pela PUCRS.  

 

registros da oficina de escrita no Ateliê / foto: Luiza Rabello

registros da oficina de escrita no Ateliê / foto: Luiza Rabello

Micheliny Verunsckh no Ateliê / foto: Giordano Toldo

Os infinitos universos entre uma coisa e outra 

Na noite de segunda-feira (28), após o primeiro dia de oficina no Ateliê PUCRS Cultura, Micheliny participou do bate-papo de lançamento do livro Caminhando com os mortos. Com mediação de Natalia Borges Polesso, escritora e professora da Escola de Humanidades que assina a orelha da obra em questão, a conversa foi prestigiada por mais de cem pessoas reunidas no Auditório da Escola de Comunicação, Artes e Design. De episódios de infância que marcaram sua vida à história da primeira publicação e dos primeiros prêmios, Micheliny compartilhou com o público um pouco de sua trajetória. Falou também sobre seu processo de escrita, intimamente ligado à leitura em voz alta, e sobre os desafios de conciliar conteúdos violentos com o uso da linguagem poética. Ao final, realizou uma sessão de autógrafos, assinando livros que puderam ser comprados graças à presença da Livraria Baleia – cuja loja itinerante, em formato de trailer, atracou em frente ao prédio da Famecos.  

Porque caminhar com os mortos significa também honrar suas memórias, Micheliny não deixou de fazer uma visita ao Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural para conhecer o acervo de Caio Fernando Abreu, escritor gaúcho que figura entre suas referências literárias. Com uma estadia breve, mas intensa, a premiada autora tornou-se mais uma entre as tantas escritoras e escritores que a PUCRS já teve a honra de receber, como Conceição Evaristo, João Gilberto Noll, Carola Saavedra e José Luiz Peixoto. E se podemos descrever sua vinda ao Campus dizendo simplesmente que compreendeu uma oficina e um bate-papo é porque nos resignamos a deixar de lado toda a multiplicidade existente entre uma coisa e outra: todos os infinitos universos que brotam entre as descrições cruas de cada dia e que, segundo Micheliny, são a própria busca da escrita literária.

bate-papo com Micheliny Verunsckh e Natalia Borges Polesso no auditório da Famecos / foto: Luiza Rabello

Micheliny Verunsckh autografando livro para Biblioteca Central Ir. José Otão / foto: Luiza Rabello

bate-papo com Micheliny Verunsckh e Natalia Borges Polesso no auditório da Famecos / foto: Luiza Rabello

bate-papo com Micheliny Verunsckh e Natalia Borges Polesso no auditório da Famecos / foto: Luiza Rabello

bate-papo com Micheliny Verunsckh e Natalia Borges Polesso no auditório da Famecos / foto: Luiza Rabello

trailer da Livraria Baleia / foto: Luiza Rabello

Micheliny Verunsckh com seus livros no trailer da Livraria Baleia / foto: Giordano Toldo

trailer da Livraria Baleia / foto: Luiza Rabello

trailer da Livraria Baleia / foto: Luiza Rabello


Depoimentos na íntegra:

“A Micheliny foi uma inspiração poderosa, trazendo referências indígenas, anticoloniais e até zoológicas. Além de aprender muito, saí do curso cheia de ideias e textos começados. Espero que essa onça volte a nos visitar em breve” – Julia Dantas.  

“Não é fácil quebrar o relógio da rotina pra experimentar, na essência do termo, mas sinto que é sempre esse o convite dos vários eventos e cursos oferecidos pelo Ateliê PUCRS Cultura. Semana passada participei da oficina A palavra é onça, ministrada por Micheliny Verunschk e se essa vivência não foi uma epifania atravessando a garganta da minha segunda-feira, não sei mais como definir. Escrevemos, sim, como era previsto, mas foi tudo além: a partilha individual e coletiva, os textos, canções e referências que serviram de iluminação, ponto de partida e análises, o uso subversivo da linguagem, como um retorno a uma terra esquecida por nós e a nós mesmos como seres além do tempo e do espaço. Mais do que escrita, houve encontros, desses que mudam o jeito de olhar pro mundo e pro outro, inauguram um olhar de fera, Yaguarété, atenta e forte!” – Maria Williane 

Compartilhe

Leia Mais Veja todas

Últimas Notícias

Veja todas notícias