Palestrantes e convidados especiais se reuniram na Famecos para discutir a relação do samba e do carnaval gaúcho com a economia criativa, promovendo reflexões sobre a representatividade afro
“Ô, abre ala que eu quero passar!” A Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS — Famecos recebeu o Colóquio Universidade do Samba. A conversa é uma celebração ao Dia da Consciência Negra e faz alusão aos 75 anos da PUCRS e aos 10 anos da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). O evento, que ocorreu nesta quarta-feira (22), reuniu amantes do samba, alunos de diversos cursos e convidados especiais para discutir a relação entre samba e carnaval gaúcho com a economia criativa.
Na mesa dos palestrantes estavam presentes: Vinicius Brito (jornalista e coordenador de cultura da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul — FAMURS), Luiz Augusto Lacerda (ativista do movimento negro) e Édson Dutra (jornalista e produtor cultural). Sátira Machado (professora de culturas afro-gaúchas da Unipampa) e Deivison Campos (coordenador do curso de Jornalismo) mediaram o colóquio.
Sátira abriu a palestra agradecendo a todos os presentes na sala 318, e destacou a presença entre os espectadores de Naiara Oliveira, filha do poeta gaúcho Oliveira Silveira, referência intelectual na militância negra brasileira.
Ao abordar a temática da negritude, a professora da Unipampa expressou emoção diante da significativa presença de alunos negros presentes na sala, ressaltando a importância da representatividade preta, especialmente em uma instituição de ensino privada.
“Isso é um motivo de orgulho”, disse Sátira.
Edson Dutra fez contextualização histórica das escolas de samba de Porto Alegre. O jornalista também falou sobre a relação histórica do carnaval para a economia criativa, que é um termo criado para nomear modelos de negócio ou gestão que se originam em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos com vistas à geração de trabalho e renda.
Luiz trouxe reflexões sobre o carnaval na cidade, e comentou: “infelizmente o carnaval de Porto Alegre é tratado pelo governo como um lixão animado”, contextualizando o cenário atual da festividade em solo gaúcho.
Vinicius Brito, por sua vez, iniciou sua fala cantando um trecho da música Dia de Graça de Antônio Candeia Filho, sambista, cantor e compositor brasileiro. Ele contextualizou a decisão estratégica do governo do estado de retirar o carnaval da área central e realocá-lo para o Porto Seco, na zona norte da cidade. Vinicius enfatizou o descaso que o governo trata o carnaval de Porto Alegre e disse: “O sambódromo deveria ser tratado como um patrimônio cultural da cidade de Porto Alegre”.
Na reta final do evento, houve troca de ideias entre palestrantes e espectadores, o que enriqueceu o debate e a reflexão sobre temas referentes ao samba e ao carnaval gaúcho. Os questionamentos e comentários abordaram assuntos como a preservação das tradições culturais e a influência das mulheres na história do samba gaúcho.
Por fim, Sátira reiterou a necessidade de reconhecer e valorizar a cultura afro-gaúcha, destacando a contribuição do samba para a identidade cultural da região. Ela também ressaltou a importância de manter viva a memória de Oliveira Silveira, que deixou um legado significativo na história da cultura afro-gaúcha.