*texto originalmente publicado no jornal Correio do Povo
No dia 1º de janeiro, completarei 40 anos de Porto Alegre. Grande parte deles passados na Famecos, a Faculdade de Comunicação da PUCRS. A marca Famecos é tão forte que, mesmo com a mudança do nome para Escola de Comunicação, Artes e Design, a sigla permaneceu. Em 1980, quando entrei na Famecos, fiquei deslumbrado. Foi lá que conheci amigos eternos como Telmo Flor e David Coimbra. Lá, entre jovens descolados e professores maravilhosos, aprendi muito. Aprendo até hoje. Vou fechar 25 anos como professor na Famecos. Neste quarto de século, mudou quase tudo: passamos da máquina de escrever aos tablets.
O jornalismo deu um salto vertiginoso em tecnologia. Continua, na essência, sendo a arte de apurar e contar grandes histórias, especialmente, como diz uma famosa tirada, aquilo que alguém gostaria de esconder. A Famecos acompanha essas transformações, reinventando-se a cada dia. Está mais bonita no seu espaço clássico, o prédio 7. Professores com doutorado e pós-doutorado ensinam, aprendem e pesquisam. Estudantes ganham prêmios e apresentam trabalhos em eventos internacionais de renome. A sala de aula muda, fica mais dinâmica, para que se cumpra a meta de sempre: preparar para o trabalho, a reflexão, a interpretação dos fatos, a leitura do mundo, a cidadania.
Em tempos de governos hostis ao jornalismo, com represálias para enfraquecer o campo, como fulminar o registro profissional, a Famecos renova-se enfatizando a importância do diploma universitário. É quase impossível ser bom aos 20 anos de idade, salvo para gênios improváveis, sem passar pelos bancos de uma faculdade. Jornalismo não é inspiração nem sorte. É trabalho, repertório, sistematização, cultura, método. A Famecos tem um jeito próprio, descontraído, livre, jovem, que se associa à seriedade e à permanente qualificação dos seus professores. Não para nunca. É um vaivém de colegas indo a grandes congressos, uma profusão de publicações, atualizações em tempo real.
Nestes 40 anos, primeiro como estudante de graduação e especialização, depois como professor, nunca deixei de me encantar com o espírito Famecos: leveza, seriedade, alegria, forma e conteúdo. Alguns dos melhores caras de cinema, internet, games, comunicação organizacional, publicidade, design, estudos de imaginário, estão na Famecos. Eu vivo o dia a dia da Famecos. Tudo isso para mim é normal. Tem momentos, contudo, em que eu me pego pensando: como tudo isso é legal! Que bela construção. A maior ingenuidade de um jornalista é achar que o tempo de faculdade não contou para a sua formação. Há mentalidades simplórias e positivistas que ainda pensam a educação como quartel. Aprende-se de várias formas, dentro e fora da sala de aula. O tempo de maturação de cada um é diferente. A semente germina.
Falo da Famecos por ser assim: há dias em que me comovo com os lugares onde vivo, que me fazem crescer, ficar melhor, apesar de minhas limitações, sonhar e querer mais. A grande riqueza da Famecos são seus alunos e professores. Quanto devo a esses colegas que me ensinam diariamente sem cobrar! E a esses alunos com olhos brilhando!